Maconha queima os neurônios? Confira mitos e verdades sobre a cannabis

Autor: Da Redação,
quarta-feira, 26/06/2024
A maconha foi descriminalizada pelo STF

A descriminalização da maconha, aprovada nessa terça-feira (25) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), fez com que a cannabis se tornasse um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Há muitas dúvidas sobre o que acontece com o organismo após o uso da substância. 

Por conta disso, confira alguns mitos e verdades sobre a maconha: 

A maconha pode causar transtornos mentais?

Essa questão é verdadeira! O pesquisador Luis Fernando Tófoli explicou, durante entrevista ao G1, que há estudos que indicam uma tendência à psicose, principalmente em pessoas que usam maconha antes dos 21 anos e com frequência de, pelo menos, três cigarros de maconha ao dia.

“Apesar da estatística, ainda não há como dizer de forma absoluta se as pessoas que depois vão desenvolver psicose têm tendência a procurar maconha ou se elas procuram maconha e isso desencadeia a psicose. Um jovem de 21 anos que usa maconha em alta frequência é um sinal de problema de saúde”, diz.

A maconha recreativa e maconha medicinal são a mesma coisa?

Mito! A quantidade e a forma de uso são totalmente diferentes.

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Maconha para uso recreativo: o usuário, geralmente, fuma um cigarro com as flores da planta Cannabis sativa, mas também é possível consumi-la de outras maneiras, como ingerindo no meio de alimentos. Cannabis para uso medicinal: o paciente usa óleos, pomadas, extratos ou medicamentos (alguns já disponíveis em farmácias) feitos a partir de substâncias presentes na maconha. Serve para tratar de sintomas de condições como epilepsia, Parkinson e dores crônicas.

Maconha pode queimar os neurônios?

Mito! O médico Claudio Lottenberg, presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, afirma que não há qualquer indício de que a maconha possa queimar os neurônios. 

Contudo, o especialista destaca que a droga age no sistema nervoso central, e o uso recreativo pode, sim, causar danos. Entre os mais jovens, o consumo de maconha pode ter um fator agravante: na adolescência, o córtex pré-frontal, área do cérebro que ajuda a tomar decisões, não está totalmente formado, e o uso excessivo de maconha pode afetar o seu desenvolvimento.

Lottenberg ressalta que a questão de eventual dano cerebral não se aplica à utilização da cannabis para fins terapêuticos. "O uso medicinal é com acompanhamento, com doses seguras", afirma o médico, que também atua no mercado da cannabis medicinal.

De onde vem o mito de que a maconha "queima neurônios"? A crença surgiu após a divulgação de um estudo feito nos Estados Unidos em 1974 que colocou macacos para respirarem a fumaça de cigarros de maconha ininterruptamente. Eles morreram em três meses e, na análise do cérebro dos animais, foi constatada a redução no número de células nervosas. Depois, descobriu-se que a ação foi resultado da intoxicação pela fumaça, que reduziu a oxigenação no cérebro dos macacos.

Maconha é 'porta de entrada' para outras drogas?

Mito! Estudos apontam que a maconha, que é a droga ilegal mais usada, não é 'porta de entrada' para outros entorpecentes. O médico Luís Fernando Tófoli, professor do Departamento de Psiquiatria da Unicamp e pesquisador sobre políticas de drogas, explica que "a porta de entrada para drogas é a biqueira [ponto de venda de drogas]. É o tráfico quem faz a gestão de que droga a pessoa experimenta. Desenvolver o vício não diz respeito apenas ao impacto que a droga tem no organismo, mas com as condições da pessoa. Precisamos desfocar da substância e olhar para a pessoa. Ela está em vulnerabilidade social? Tudo isso importa".

A médica Carolina Nocetti explica que a maconha vem, inclusive, sendo usada em políticas de controle, como "porta de saída" para pessoas em tratamento de dependência química em drogas mais pesadas.

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"Há recomendações de controle de danos que indicam o uso da maconha como alternativa a outras drogas em pessoas em tratamento de dependência química. Isso porque os efeitos colaterais e potencial de vício são menores", afirma.

Exemplo disso acontece no Centro de Atenção Psicossocial de Itajaí, em Santa Catarina. Em julho, o trabalho deles viralizou com a divulgação da entrega de kits com folhas de seda – usadas em cigarros de maconha – a pessoas em tratamento de dependência química. De acordo com a prefeitura, a ação fazia parte do programa de redução de danos.

Maconha pode viciar?

Essa questão é verdadeira! A maconha é uma droga e pode, sim, viciar, mas em determinados contextos. Porém, a cannabis é a que apresenta menor potencial de risco para o vício. 

"No vício, o metabolismo fica estimulado sistematicamente para que você tenha vontade de consumir aquilo do qual você está dependente. Essa não é a resposta do corpo humano à cannabis", explica Lottenberg, acrescentando que há exceções, como fatores genéticos, ambientais e comportamentais.

Ele afirma que o THC, substância presente na cannabis responsável pelos efeitos psicoativos e neurotóxicos, afeta o sistema que regula funções como humor, apetite e memória. 

O uso repetido da maconha pode levar à tolerância, exigindo doses maiores para alcançar os mesmos efeitos.

Segundo a médica Carolina Nocetti, que é diretora do comitê que representa o Brasil na Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide, ao contrário da cannabis medicinal, em que os níveis de THC são pequenos, no cigarro de maconha, esses níveis não são controlados e, por isso, podem ser muito altos, o que aumenta o risco de consumo abusivo.

“A gente tem parâmetro suficiente para dizer que, em produtos ricos em CBD com até 0,2% de THC, não há incidência de dependência química e tolerância”, explica Carolina.

O efeito de fumar maconha é o mesmo para todos?

Mito! Vários fatores vão interferir em como a pessoa irá se sentir após usar maconha.

O médico Claudio Lottenberg explica que cada metabolismo é único e, da mesma forma que o álcool pode provocar efeitos diferentes em cada pessoa a depender do metabolismo, a maconha também.

"Isso é da fisiologia do corpo humano, assim como para o álcool as pessoas respondem de forma eufórica ou depressiva, os limiares comportamentais respondem de forma individualizada. É uma droga psicoativa, ela tem respostas individualizadas e os estudos não são tão seguros sobre como age em cada tipo de metabolismo", explica Lottenberg.

De acordo com Tófoli, o tipo de reação vai depender de três pontos:

O cigarro é mais prejudicial que a maconha?

Verdade! O cigarro tem potencial de vício e de morte maior que a maconha. Isso é possível comprovar a partir de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta que o tabaco mais de 8 milhões de pessoas por ano. 

Em relação ao uso de maconha, não há casos de morte. 

No vício, o corpo tem uma necessidade constante daquela substância. No caso da maconha, o corpo não responde dessa maneira na maior parte dos casos.

A médica Carolina Nocetti explica que o risco de vício é de 9% entre os usuários da droga. Já no caso do cigarro, a nicotina tem uma resposta de vício em 90% dos usuários.

Ela lembra que a maconha, frente ao cigarro, é avaliada como redução de danos, mas sem considerar os riscos, como procedência da droga e forma de uso.

Maconha pode agravar um quadro de depressão?

Verdade! O professor de psiquiatria da Unicamp afirma que não há estudos que indiquem depressão como efeito, mas que há dados que mostram que pessoas com depressão podem ter mais dificuldade de sair do estado depressivo com o uso da substância.

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É possível ter overdose e morrer por consumo exagerado?

Mito! Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), não há evidências de morte por overdose pelo uso de maconha. Ou seja, não é possível morrer diretamente pelo consumo de maconha.

No entanto, a médica Carolina Nocelli alerta para as causas indiretas, reforçando que a maconha é uma droga e possui contraindicações.

“A maconha pode baixar a glicemia e a pressão. Quem tem esses índices baixos e faz o uso, pode ter uma queda maior e isso impactar a saúde. Ou quem toma a medicação para controle e soma isso com a maconha, também. O que precisa ter em mente é que não há quantidade segura sem acompanhamento médico e que há contraindicações”, explica.

Fonte: G1.