A fumaça das queimadas que ocorrem pelo Brasil, como na Amazônia e no Pantanal, e em outros países, como Bolívia e Paraguai, tomou conta de quase todo o território brasileiro. A nuvem cinzenta se espalhou pelos estados através da circulação de ventos, segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar).
As queimadas não deixam apenas as autoridades em alerta, mas também profissionais de saúde, que pontuam que a fumaça que se espalha pelo país é nociva à saúde.
De acordo com especialistas, a nuvem acinzentada possui gases tóxicos. Todos esses componentes são altamente prejudiciais à nossa saúde, e podem agravar doenças respiratórias, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), e aumentar o risco de doenças cardiovasculares.
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Em entrevista ao g1, a médica pneumologista e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Margareth Dalcolmo, afirmou que "a exposição prolongada a esses compostos tóxicos pode gerar uma crise de saúde pública".
"Estamos vendo um aumento das hospitalizações por problemas respiratórios e cardiovasculares, e os efeitos a médio e longo prazo ainda não podem ser mensurados. Isso terá um impacto enorme sobre a economia da saúde."
Um relatório que trata sobre a qualidade do ar foi divulgado nesta quinta-feira (5) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). O levantamento aponta que a exposição ao ar poluído intensifica mais e mais os riscos à saúde humana.
A fumaça que circula sobre o território brasileiro contém os seguintes componentes:
Material particulado (PM2.5) - substância formada por partículas muito pequenas presentes no ar poluído. O 2.5 do nome faz referência ao diâmetro de até 2,5 micrômetros dessas partículas, algo muito menor que um fio de cabelo, por exemplo.
Por causa desse tamanho reduzido, elas são capazes de ser inaladas e penetrar profundamente nos pulmões. Sua absorção pode causar inflamação sistêmica, o que leva o indivíduo a ter doenças cardiovasculares graves, como arritmias, infarto e derrames.
"A exposição prolongada ao PM2.5 também pode agravar doenças respiratórias crônicas, como asma e bronquite, e está associada a um maior risco de câncer e outras condições crônicas, como diabetes", explicou Frederico Fernandes, médico pneumologista e presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, em entrevista ao g1.
Monóxido de carbono (CO) - é um gás liberado durante a queima incompleta de materiais como madeira, carvão e combustíveis. Ele é extremamente tóxico porque se liga à hemoglobina nas células sanguíneas, impedindo que o oxigênio seja transportado para os tecidos do nosso corpo.
Ou seja, isso faz com que nossos órgãos fiquem privados de oxigênio, fundamental para a vida. Não tendo oxigênio, as células do nosso corpo não produzem energia e morrem.
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"Nas grandes cidades, o monóxido de carbono é liberado principalmente pela circulação intensa de automóveis, que junto com outros poluentes agravam a qualidade do ar", diz Dalcomo.
"Esses elementos desencadeiam uma cascata inflamatória diretamente nas paredes dos brônquios e na vasculatura humana e de outros animais. Os efeitos são graves e podem causar tanto intoxicações agudas quanto exacerbações de doenças crônicas", acrescenta.
Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) - esse gás é emitido por substâncias sólidas e líquidas, como gasolina, pesticidas, fumaça de tabaco e muitos outros produtos. Mas, durante uma queimada, os COVs também são liberados no ar e podem aumentar o risco de problemas respiratórios e outros problemas de saúde.
Eles podem causar irritação nas vias respiratórias a curto prazo e, a longo prazo, aumentar o risco de câncer, além de prejudicar os pulmões, o sistema nervoso central, os rins e o fígado.
"O principal problema da exposição crônica aos Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) é o aumento do risco de câncer e o desenvolvimento de doenças pulmonares graves, como a pneumonia de hipersensibilidade. Nessa condição, o pulmão fica cheio de material tóxico, dificultando sua função", ressalta Fernandes.
Óxidos de nitrogênio (NOx) e ozônio - são conhecidos poluentes atmosféricos. Os óxidos de nitrogênio (NOx) vêm de várias fontes, como vulcões, raios, queimadas, bactérias, além de carros e combustíveis. Já o ozônio se forma quando certos gases, como os de veículos e indústrias, reagem com a luz do sol. Mas queimadas também o liberam.
O pneumologista Frederico Fernandes afirma que os óxidos de nitrogênio podem provocar crises de asma, especialmente em crianças, com sintomas como chiado e falta de ar.
O ozônio, por sua vez, pode causar tosse e agravar doenças respiratórias, como bronquite. Com exposições mais prolongadas, aumenta o risco de infecções pulmonares, como pneumonia.
Metais pesados - são elementos químicos densos que podem ser tóxicos, mesmo em pequenas quantidades. A fumaça pode conter metais pesados como chumbo e mercúrio, que são prejudiciais quando inalados.
Eles podem causar problemas graves, pois sua toxicidade pode reduzir a energia e danificar órgãos importantes, como o cérebro, pulmões, rins, fígado e o sangue.
"A exposição crônica a esses metais pode ser cancerígena e também causa inflamação sistêmica. Além disso, aumenta o risco de doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas", alerta Fernandes.
Mas, afinal, como é possível se proteger? Há algumas maneiras de tentar proteger a saúde, segundo algumas orientações divulgadas pelo Ministério da Saúde. Confira:
- Aumentar a ingestão de água e líquidos foi a primeira das orientações, pois ajuda a manter as membranas respiratórias úmidas e, assim, mais protegidas.
- Outra medida que pode ser tomada é reduzir ao máximo o tempo de exposição, recomendando-se que se permaneça dentro de casa, em local ventilado, com ar-condicionado ou purificadores de ar.
- As portas e as janelas devem permanecer fechadas durante os horários com elevadas concentrações de partículas, para reduzir a penetração da poluição externa.
- Evitar atividades físicas em horários de elevadas concentrações de poluentes do ar, e entre 12 e 16 horas, quando as concentrações de ozônio são mais elevadas.
- Uso de máscaras do tipo “cirúrgica”, pano, lenços ou bandanas pode reduzir a exposição às partículas grossas, especialmente para populações que residem próximas à fonte de emissão (focos de queimadas) e, portanto, melhoram o desconforto das vias aéreas superiores. Enquanto o uso de máscaras de modelos respiradores tipo N95, PFF2 ou P100 são adequadas para reduzir a inalação de partículas finas por toda a população.
- Crianças menores de 5 anos, idosos maiores de 60 anos e gestantes devem redobrar a atenção para as recomendações descritas acima para a população em geral. Além disso, devem estar atentos a sintomas respiratórios ou outras ocorrências de saúde e buscar atendimento médico o mais rapidamente possível, caso necessitem.
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Fonte: G1.