Um estudo de cientistas dinamarqueses da Universidade de Copenhague, capital do país escandinavo, mostra que um importante padrão de circulação das águas do Oceano Atlântico pode entrar em colapso ainda neste século. Ainda conforme a análise, o sistema de correntes oceânicas envolvido na possível catástrofe é responsável por regular boa parte do clima do planeta.
A pesquisa, conduzida pelo físico teórico Peter Ditlevsen e pela matemática e estatística Susanne Ditlevsen, gera um novo alerta sobre a necessidade de frear as mudanças climáticas. O trabalho dos irmãos Ditlevsen foi publicado na revista científica "Nature Communications" na última terça-feira, dia 25 de julho.
Como mostrou a pesquisa, a Corrente Meridional do Atlântico (AMOC) está mais lenta e menos resiliente. Com isso, ela pode entrar em colapso em breve, como, por exemplo, daqui a dois anos, ou até 2095, onde a possibilidade da catástrofe acontecer é de 95%.
Esse sistema tem uma importante função, pois funciona como uma enorme correia transportadora global. Ele transporta água quente dos trópicos para o Atlântico Norte, onde a água esfria, torna-se mais salgada e afunda no oceano, antes de se espalhar para o sul.
Devido a essa funcionalidade, desempenha um papel crucial no sistema climático, ajudando a regular os padrões climáticos globais. Seu colapso teria enormes implicações, incluindo invernos muito mais extremos e aumentos do nível do mar afetando partes da Europa e dos Estados Unidos, e uma mudança nas monções nos trópicos.
À medida que os oceanos esquentam e o gelo derrete, mais água doce flui para o oceano e reduz a densidade da água, tornando-a menos capaz de afundar. Quando as águas ficam muito frescas, muito quentes ou ambas, a correia transportadora para.
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Caso isso ocorra, toda a vida no planeta será afetada, conforme o presidente da Woods Hole Oceanographic Institution, Peter de Menocal. Vale destacar que o sistema AMOC já parou anteriormente, há cerca de 12 mil anos, devido ao rápido derretimento das geleiras.
As temperaturas sofreram uma variação de 10 a 15 graus Celsius em uma década no Hemisfério Norte.
O estudo
Cientistas observaram as temperaturas da superfície do mar no Atlântico Norte em uma área ao sul da Groenlândia entre 1870 e 2020. Esta parte do oceano é aquecida pela água transportada para o norte dos trópicos pelo AMOC, disse Ditlevsen, “portanto, se esfria, é porque o AMOC está enfraquecendo”. Os autores então subtraíram os impactos do aquecimento global causado pelo homem na temperatura da água para entender como as correntes estavam mudando.
Eles encontraram “sinais de alerta precoce” de mudanças críticas no AMOC, o que os levou a prever “com alta confiança” que ele poderia fechar ou entrar em colapso já em 2025 e não depois de 2095. O ponto mais provável de colapso está entre 2039 e 2070, disse Ditlevsen.
O novo estudo “fornece uma nova análise que se concentra em quando o ponto de inflexão do AMOC ocorrerá”, disse de Menocal, e a previsão do estudo de que o colapso ocorrerá por volta de 2050 “é muito em breve, dado o impacto globalmente perturbador de tal evento”. Embora, acrescentou, seja importante observar que ainda não há evidências observacionais de que o AMOC esteja entrando em colapso.
O relatório pede medidas rápidas e eficazes para reduzir a zero a poluição que aquece o planeta, reduzir as temperaturas globais e retardar o degelo no Ártico.
“O ponto-chave deste estudo é que não temos muito tempo para fazer isso”, disse de Menocal. “E as apostas ficaram mais altas.”
As informações são da CNN.