Cientistas criam embrião de camundongo com 6 pernas em experimento

Autor: Ramana Rech (via Agência Estado),
terça-feira, 02/04/2024
Os resultados foram publicados na revista Nature Communications

Pesquisadores do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Portugal, criaram um embrião de camundongo com pernas no lugar de genitais durante um experimento em que mudavam a estrutura do DNA 3D dos animais. Em vez de quatro pernas, o embrião desenvolveu seis. Os resultados foram publicados na revista Nature Communications em março.

Durante o estudo, os cientistas avaliavam a função de um receptor de proteínas chamado Tgfbr1 no desenvolvimento embrionário. Eles inativaram o receptor em embriões do roedor na metade do desenvolvimento para observar possíveis impactos nos animais. O resultado foi um par extra de patas no lugar de um pênis ou clitóris.

Já havia estudos que indicavam que, na maioria dos animais de quatro patas, a estrutura que origina os membros posteriores é a mesma dos órgãos genitais externos (pênis e clitóris). Isso mostra uma grande plasticidade desse tecido.

Os resultados recém-publicados sugerem que essa é uma condição ancestral e, mesmo passado muito tempo, a estrutura que hoje tem a função de originar o órgão genital preservou a capacidade de gerar membros posteriores.

O estudo conclui que é o receptor Tgfbr1 é o responsável por direcionar se essa estrutura irá se tornar as patas de trás do animal ou seu órgão genital. Segundo o estudo, a capacidade do receptor de diferenciar essa estrutura trouxe mudanças importantes na evolução dos tetrápodes (mamíferos, répteis, anfíbios e aves) com áreas genitais.

Os cientistas agora buscam entender se o receptor Tgfbr1 também pode alterar a estrutura do DNA em outros sistemas, como no desenvolvimento do câncer com metástase e funções imunológicas.

Também avaliam se o mecanismo funciona na mesma foram em espécies de répteis que têm pênis duplo. Em cobras, por exemplo, esse órgão genital se forma no lugar das pernas.

O estudo declara que todos os procedimentos estão de acordo com a legislação europeia e portuguesa e que o projeto foi aprovado pela comissão de ética do Instituto Gulbenkian de Ciência e da entidade nacional Direção Geral de Alimentação Veterinária.