O juiz Marcello Rubioli, da 1ª Vara Criminal Especializada do Tribunal de Justiça do Rio, determinou na última terça (24) a apreensão de um carro blindado que a delegada Adriana Belém deu de aniversário para o filho de 18 anos.
A decisão ocorreu com base num pedido do MP-RJ (Ministério Público do Rio), que detectou indícios de lavagem de dinheiro na aquisição do veículo. Adriana está presa desde o dia 10 de maio, em decorrência da Operação Calígula, que apura uma rede de apoio ao jogo do bicho.
Apesar de ter presenteado o filho com o carro, os investigadores descobriram que o veículo estava na realidade em nome de Richard Henrique Belém da Silva, sobrinho da delegada.
O Jeep Compass foi comprado por R$ 181,6 mil em espécie. O MP-RJ acredita que Adriana tenha pedido para o parente registrar o carro para ocultar o patrimônio.
O advogado Carlo Luchione, que defende Richard disse que ele "é um jovem advogado íntegro, foi envolvido nessa situação, vai provar sua inocência e confia na Justiça para resgatar sua dignidade".
A defesa de Adriana Belém afirmou que "repudia as acusações infundadas que recaem sobre ela, considerando absolutamente injusta a ordem de prisão preventiva". "A defesa demonstrará que Adriana não praticou crime algum, não possui relação ilícita com qualquer contraventor ou integrante de organização criminosa e não praticou crime de corrupção, como imputa indevidamente o MP-RJ".
Além do sequestro do veículo, o juiz Marcello Rubioli determinou que Richard seja monitorado com tornozeleira eletrônica. Ele ainda terá que comparecer mensalmente à Justiça. O magistrado também negou o pedido de relaxamento da prisão de Adriana.
A Corregedoria da Polícia Civil, que dá apoio às investigações, também desconfiou da blindagem do automóvel. Conforme mostrou reportagem do UOL, o serviço foi realizado pela empresa MG Tech Blindagem, que pertence a Lilian Cristina Martins Maia.
Lilian é irmã de João Carlos Martins Maia, conhecido como Joãozinho King. Segundo o MP-RJ, ele é "popularmente conhecido por seu envolvimento com o jogo do bicho".
A blindagem custou R$ 55 mil, e os pagamentos deveriam ter sido feitos em 14 de março e 14 de abril. No entanto, no dia 16 de maio, mesma data em que a polícia requisitou dados para a empresa, foi enviado pela MG Tech por e-mail a Richard um contrato de prestação do serviço, que os investigadores acreditam que teria sido "montado".
O Jeep Compass foi dado por Adriana ao filho em fevereiro. Apenas este mês, porém, na véspera da Operação do MP-RJ, a delegada anunciou a blindagem do veículo no Instagram.
"Agora não vou mais andar de bicicleta, estou habilitado. E é tudo graças à minha mamãe linda do meu coração", disse o jovem em um dos vídeos.
A delegada Adriana Belém foi presa após o MP-RJ encontrar em seu apartamento cerca de R$ 1,8 milhão em espécie, escondido no quarto do filho.
Ela é acusada pelo MP-RJ de fazer parte de uma rede de apoio ao bicheiro Rogério de Andrade, que teria facilitado a devolução de máquinas caça-níqueis apreendidas em uma casa de jogos clandestina em 2018. Segundo a investigação, o PM reformado Ronnie Lessa, réu pela morte da vereadora Marielle Franco, associou-se a Rogério de Andrade para administrar o bingo.
Os promotores afirmam ainda que Adriana e outros dois policiais encontraram-se em um restaurante na Barra da Tijuca para negociar a liberação dos caça-níqueis apreendidos que estavam sob a guarda da 16ª DP, à época chefiada por ela.
Em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil no ano passado, a delegada confirmou ter se encontrado com Lessa na presença de outros dois policiais na padaria Concha Doce, na Barra da Tijuca.
Segundo ela, a reunião de curta duração foi para falar sobre uma investigação de um caso em que Lessa foi baleado. Ela negou que, na ocasião, assuntos sobre a prática de contravenção tenham sido abordados.
Com informações: UOL