Com cerca de 5 anos de vida, o cãozinho Will já passou por experiências que o tornam um verdadeiro guerreiro. Após ser abandonado, ele ainda teve de enfrentar um ataque proposital de um morador que tentou matá-lo. O animal sobreviveu, mas ficou paraplégico. É a partir disso, no entanto, que a história do pequeno Will toma outro rumo, até que ele encontrasse em uma escola de Blumenau o amor e cuidado que sempre mereceu.
Agitado e elétrico. É assim que a professora Andrea Cristina Vieira, do Cedup Hermann Hering, descreve o cãozinho que conquistou os corações dos alunos da turma de Mecânica. Os estudantes conheceram o animal através de Jucemar Matos Felacio, professor que também trabalhou no local até pouco tempo atrás.
Foi Jucemar que resgatou o pequeno Will depois que ele perdeu o movimento das patas traseiras. Andrea conta que, enquanto ainda andava pelas ruas, o cachorro foi surpreendido por outro cão da raça Pitbull, solto propositalmente pelo dono para atacar o animal de pequeno porte.
Ao ser encontrado com muitos ferimentos por outra pessoa que viu a situação, Will foi levado ao veterinário. O responsável pelo resgate, porém, não poderia ficar com o cãozinho, mas conhecia Jucemar que, além de professor, também acolhe na própria casa animais em situação de abandono e que necessitam de cuidados.
A partir desse momento, Will recebeu um novo lar e, mesmo diante das dificuldades para se locomover, o cãozinho não deixava de correr ou brincar na nova casa. Só que o tutor queria oferecer uma vida ainda mais confortável ao cachorro.
Foi quando ele lembrou dos estudantes que participam do Espaço Maker, no Cedup, ambiente onde praticam a construção de maquetes, conteúdos digitais e, até mesmo, a montagem de cadeira de rodas para cães.
— Os alunos têm muito carinho por pet. Então se desenvolve um sentimento que, às vezes, você não consegue com conteúdos normais. Tinha um interesse e uma motivação diferente — comenta a professora Andrea.
Depois que Jucemar contou a história do pequeno Will à turma de Mecânica da escola, os jovens não pensaram duas vezes. Eles decidiram se mobilizar para construir uma cadeira adaptada ao cachorro e ajudar o professor em mais essa tarefa.
A construção da “Hot Wheels”
Andrea, que foi também a orientadora do projeto, explica que o cãozinho já usava um tipo de equipamento de alumínio para conseguir andar, no entanto, era muito grande e acabava machucando os outros animais que dividem a casa do professor Jocimar — já que são cerca de 10 cães resgatados.
Por isso, a ideia era que os alunos pensassem em uma cadeira feita com um material menos agressivo. Foi quando optaram por canos de PVC. Andrea ressalta que cada estudante levou o que encontrou na própria residência e, assim, foram montando o objeto.
Ela também conta que, durante os projetos, professores e alunos sempre buscam usar materiais recicláveis e que, neste caso, precisaram comprar apenas as rodas e um spray para personalizar a cadeira no estilo “Hot Wheels”, em homenagem ao nome do cãozinho.
O dinheiro também saiu do bolso das pessoas que participaram do projeto. No total, foram 25 estudantes e quatro professores envolvidos na construção da cadeira de rodas, um processo que levou pouco mais de um mês para ser concluído.
Iniciativa que comoveu outras pessoas
Até quem não fazia parte da turma de Mecânica deu um jeito de abraçar o projeto e ajudar de alguma maneira. É o caso do seu Arlindo, professor aposentado que, em determinado dia, foi visitar a escola e viu os alunos organizando o trabalho.
Como o homem atua no conserto de cadeira de rodas para pessoas, ele aproveitou para oferecer dicas aos estudantes na construção do equipamento de Will. Seu Arlindo também fez questão de estar presente na entrega ao cãozinho e ficou tão comovido com o momento quanto os próprios alunos.
Além disso, Andrea conta que alunos de outra turma da escola decidiram participar da iniciativa. Eles descobriram que, como Will não tem o movimento das patas traseiras, o cachorro precisa usar fralda. São cerca de 4 a 5 por dia, segundo a professora.
Essa compra é feita pelos próprios tutores — o professor Jucemar e a esposa, Dulce Mendonça Felacio. Porém, por ter um custo alto, alguns estudantes tiveram a ideia de fazer uma rifa para arrecadar dinheiro e ajudar na aquisição do acessório de higiene.
Um sentimento de solidariedade e empatia que acabou contagiando mais pessoas do que Andrea imaginava. A orientadora também reforça que o objetivo é levar o projeto adiante, mostrando às ONGs que os alunos estão à disposição para adaptar uma cadeira de rodas a outro animalzinho.
— Como não é algo caro de se fazer e eles já tem a experiência, né. Até para entenderem como isso pode interferir positivamente na vida de uma ONG ou tutor — explica.
O encontro de Will com a “Hot Wheels”
Depois de um mês e meio de muito trabalho e dedicação, chegou a hora do teste final. Não seria a primeira vez que Will iria até o Cedup, já que tinha visitado o local no início do projeto para que os alunos tirassem as medidas e construíssem a cadeira.
Desta vez, no entanto, seria o primeiro encontro do cãozinho com a mais nova companheira dele: a “Hot Wheels”. Para presenciar o momento, se reuniram no pátio da escola professores e alunos, junto aos tutores do animal.
Em um vídeo registrado pela orientadora Andrea (veja abaixo), o cachorro aparece andando pela primeira vez com a cadeira de rodas. Empolgado, Will tenta até mesmo pular em Jucemar, que o acompanha nesses primeiros passos com o novo equipamento.
— E aí ele já levou a cadeira embora. Já estava adaptado e saiu correndo pelo campo, atrás do tutor. Foi bem interessante para os alunos também — relembra Andrea.
Quando questionada sobre a emoção que alunos e professores sentiram ao perceberem que o projeto tinha dado certo, a orientadora resume o sentimento em uma palavra: indescritível.
Naquele momento, o pequeno Will poderia até mesmo esquecer todo o sofrimento vivenciado há cerca de um ano atrás. Agora, ele estava rodeado de pessoas que transbordavam amor e cuidado ao próximo. O cãozinho poderia ter um recomeço.
— Faz tudo valer a pena. O estresse, a dor de cabeça, às vezes uma coisa ou outra não está funcionando…porque chega no dia e precisa estar tudo pronto. Então precisa de um ajuste ou outro de última hora. Mas, vale a pena — finaliza Andrea.
Com informações: NSC Total