Os doleiros Hélio Aparecido Xavier da Mota, Vinicius Paes de Figueiredo, o 'Vini', e Lung Tien The, o 'Jack' foram os responsáveis por gerar o dinheiro que abasteceu o esquema de emissão de notas frias descoberto pela Polícia Federal na Operação Chorume, fase 7 da Operação Descarte, investigação sobre fraudes nos contratos de limpeza urbana de são Paulo.
Os três doleiros, informa a PF, utilizaram pelo menos 20 empresas para gerar dinheiro em espécie para o esquema. Segundo a PF, tais companhias movimentaram de 2010 a 2018, mais de R$ 5 bilhões, tendo um pico em 2014, com redução 'drástica' a partir de então. O esquema era gerenciado pelos advogados Luiz Carlos Claro e Gabriel Silveira Claro, os 'Claro', que podem ter lavado R$ 400 milhões para o grupo Estre.
As informações constam na representação da Polícia Federal e parecer do Ministério Público Federal para deflagração da Operação Chorume, na terça, 4, quando foram cumpridos mandados de busca em São Paulo, Santa Catarina, Goiás e no Distrito Federal.
Essa nova fase da Operação Descarte mira doleiros e operadores envolvidos no esquema dos Claro e ainda uma tentativa de obstrução das fiscalizações da Receita Federal em 2017 mediante pagamento de R$ 3 milhões.Os documentos da PF e da Procuradoria detalham como funcionava o esquema que pode ter lavado, segundo Luiz Carlos e Gabriel Claro, cerca de R$ 400 milhões entre 2012 e 2017.
Os Claro fizeram delação premiada nos autos da Chorume.Segundo a PF, as operações fraudulentas eram utilizadas tanto para o Consórcio Soma, responsável pela metade dos serviços de varrição da cidade de São Paulo, apontado como o principal cliente dos 'Claro', como de outras empresas do grupo Estre.
Segundo a representação da PF, Antonio Kanji Hoshikawa, o 'Tião', assessor direto de Wilson Quintella Filho, executivo ligado ao grupo Estre, procurou Luiz Carlos Claro em 2012 para 'geração de caixa 2' para a Estre Ambiental.'Tião' chegou ainda a dizer a Gabriel Claro, em uma reunião, que o 'dinheiro era utilizado para pagamento de propina a funcionários públicos e políticos, em razão do envolvimento de empresas do grupo Estre (Estre, Soma, Cavo, Corpus, entre outras) com o setor público e participação em licitações'.
A partir daí, 'Tião' passou a entrar em contato com Gabriel Claro informando os valores que precisava que fossem faturados para as empresas do Grupo Estre e o consórcio Soma.O advogado, por sua vez entrava em contato com as 'empresas noteiras', que simulariam o fornecimento de produtos ou prestação de serviços, assim como fazia contato com os doleiros 'Hélio', 'Vini' e 'jack'.
Em delação, Gabriel indicou ainda que o grupo usava códigos como nomes de vinhos para se referir a dinheiro e nome de carros para as empresas que deveriam ser faturadas, tais como: Subaru (Consórcio Soma), Peugeot (Estre Paulínia), IX35 (Estre Itapevi) e Corolla (Corpus ou Cavo)."Em contrapartida restou pactuado que seria cobrado do Grupo Estre 18% do valor faturado; Kanji ficava com 5%; as empresas 'noteiras' ficavam com 4% ou 5%; os doleiros cobravam entre 2 e 2,5%; o saldo ficava com a Claro Advogados", destaca a PF e o parecer do Ministério Público Federal.
Na decisão que desencadeou a sétima fase da Descarte, a 'Chorume', a juíza Silvia Maria Rocha, da 2.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, indicou que os doleiros eram 'parte fundamental do esquema engendrado pela família Claro' - vez que eles tornaram possível o fornecimento de dinheiro em espécie."Pode-se dizer que sem os 'doleiros' o serviço prestado pelo grupo Claro inexistiria", escreveu Silvia.
O primeiro doleiro contatado por Gabriel Claro para o esquema foi Hélio, que era gerente bancário e procurou Luiz Claro depois de sair do emprego.Segundo a representação da Procuradoria, a relação entre os Claro e o doleiro perdurou pelo menos dez anos. Durante tal período Hélio era remunerado com 2 a 2,5% do montante que seria convertido em espécie.
Três a cinco dias depois dos pagamentos, ele entregava o dinheiro no escritório da Claro Advogados, em São Paulo.Segundo a PF, Hélio gerou 'centenas de milhões de reais' para os Claro e funcionava mais como um intermediário, 'devendo ter contato com outros doleiros'.
Os valores por ele fornecidos vinham de comércios da região do Brás e da Rua 25 de Março e também de um doleiro de conhecido por 'davies'. Ainda segundo a PF e a Procuradoria, 'com o passar dos anos, diante do aumento da demanda por dinheiro em espécie foi preciso que a organização criminosa obtivesse outra fonte.
'Foi então que 'Vini' passou a atuar no esquema. Ele cobrava 2% do montante gerado e, após a transferência, enviava em até dez dias um motoboy com o dinheiro em espécie.Segundo a Polícia Federal, 'Vini' é filho do doleiro Sandor Paes de Figueiredo, e assim como o pai operava utilizando postos de combustível.
Gabriel revelou que os negócios com 'Vini' duraram até 2016 ou 2017.A PF caracteriza 'Vini' como 'o grande doleiro do esquema criminoso sob investigação, com indícios de ser o controlador de dezenas de empresas utilizadas para câmbio fraudulento'. A PF destaca que ele, assim como Hélio, 'gerou centenas de milhões de reais' para os Claro.'Jack' e Gabriel Claro se conheceram em 2012, em uma academia de ginástica no Shopping Market Place.
O doleiro seria responsável por uma empresa de importação e venda de produtos na Rua 25 de Março. Ele acertou com o advogado uma 'articulação tributária' na qual o doleiro simulava a venda de mercadorias.Segundo Gabriel, em oito meses as operações com 'Jack' alcançam a cifra de R$ 10 milhões.
Quando a operação Chorume foi deflagrada, a Cavo, líder do consórcio SOMA divulgou a seguinte nota: "A Cavo, líder do extinto consórcio Soma, informa que não tem conhecimento sobre a operação da Polícia Federal executada nesta terça-feira. Nenhum escritório da empresa foi alvo da ação".