O Paraná lidera a produção de biogás no Sul do País. Documento publicado em dezembro de 2019 pelo GEF Biogás Brasil apontou que o Estado gerou 16,4 milhões de Normal por metro cúbico (Nm³/ano) da energia limpa, superando Santa Catarina (12,8 milhões Nm³/ano) e Rio Grande do Sul (3,3 milhões Nm³/ano).
O bom resultado foi puxado especialmente pela Região Oeste, reflexo da maior produção de proteínas originadas de suínos e frangos do Estado. De acordo com o estudo, 70% da região é apta para para receber um arranjo de produção de biogás, obtido a partir dos dejetos da suinocultura ou avicultura. O porcentual do Oeste é semelhante ao de todo o Paraná, que tem 69,91% do seu território considerados propícios para a exploração do gás.
O governador Carlos Massa Ratinho Junior destacou que a liderança já é resultado da opção do Governo do Estado em investir na busca por novas fontes de energia renovável, aliando sustentabilidade e inovação com desenvolvimento econômico.
“Investir no biometano é um exemplo de economia circular que transforma resíduos em geração de renda, num modelo que queremos ver replicado em todo o Estado”, disse. “Esse será o futuro da energia que será produzida no Paraná”, acrescentou.
A intenção, reforçou o governador, é espalhar pelo Estado novas usinas de biogás, ajudando a resolver um grave passivo ambiental em relação aos dejetos de animais. Atualmente, segundo o levantamento da GEF Biogás Brasil, são 40 plantas atuando no Paraná. Número que está em crescimento.
Na semana passada, a empresa alemã Mele anunciou investimento de R$ 60 milhões em uma nova usina do produto em Toledo, com capacidade de geração de 17 mil metros cúbicos de biometano por dia. A paranaense Compostec vai aplicar outros R$ 20 milhões, também na cidade, para transformar resíduos das agroindústrias em biogás.
A Mele projeta também a construção de uma segunda usina de biogás, ainda sem data para sair do papel. A iniciativa visa o tratamento mecânico biológico de resíduos sólidos urbanos de Toledo e outras 31 cidades vizinhas.
POTENCIAL – As novas iniciativas reforçam a condição privilegiada do Paraná para a geração de biogás. De acordo com o estudo, o Estado tem capacidade de produzir 1,1 bilhão de Nm³/ano do produto. A quantidade resolveria boa parte da demanda por energia elétrica de uma cidade como Cascavel.
“O Sul é um grande produtor em potencial. E o biogás também é de um potencial imenso. Além do passivo ambiental, pode ser usado como energia elétrica, para a aplicação térmica, purificação, recuperação de CO2 e esterilização”, explicou Daiana Gotardo Martinez, engenheira ambiental e consultora da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, uma das responsáveis pelo mapeamento.
SUINOCULTURA – O estudo mostrou também que o Paraná possui um rebanho com 5.388.380 cabeças de suínos e concentra 70% na região oeste do Estado (3,6 milhões de cabeças). Os municípios de Toledo (949 mil cabeças) e Marechal Cândido Rondon (446 mil cabeças) destacam-se pelos maiores plantéis e juntos contribuem com 26% do rebanho do Estado. A suinocultura de engorda é a atividade predominante no Paraná (91%).
O biogás produzido pela atividade é o equivalente para abastecer 7.059 residências com energia elétrica. Só a Região Oeste tem potencial para gerar 174 milhões Nm³/ano de biogás por ano e seria capaz de suprir 1,2% da energia elétrica consumida no Paraná. A Região Central concentra outros 14% da suinocultura do Estado (769 mil cabeças de suínos) e tem capacidade para gerar 34,8 mihões Nm³/ano de biogás. Já o Sudoeste e Sudeste representam 10% do volume estimado para o estado (27 milhões Nm³/ano).
AVICULTURA – Outro ponto do estudo diz respeito à avicultura. O Paraná conta com 347 milhões de aves segmentadas em avicultura de corte (95%) e de postura (criação de ovos, 5%) que geram cerca de 657 mil toneladas e 683 mil m³ de resíduos por ano respectivamente. O potencial de produção, ressaltou o mapeamento, é de 114 milhões Nm³/ano de biogás.
A avicultura paranaense representa 24% do total nacional e ocupa a primeira posição do ranking de aves do Sul do Brasil. As regiões Oeste e Sudoeste concentram o maior número de aves do Estado.
O Oeste contém 32% da avicultura de corte e 24% da avicultura de postura. Já o Sudoeste detém 19% e 24% das aves de corte e postura respectivamente, apontou o estudo. No total, essas regiões reúnem 50% das aves do Estado que equivalem a 174 milhões de cabeças.
Com isso, o Oeste paranaense tem o maior potencial de produção de biogás a partir da avicultura de corte, com 36 milhões de Nm³/ano de biogás (31% do total estadual) e da avicultura de postura com 24% do potencial do Estado (31 mil Nm³/ano de biogás).
Somadas, as regiões Oeste e Sudoeste totalizam 57 mil Nm³/ano de biogás a partir dos resíduos da avicultura, que se empregadas na produção de energia elétrica poderiam suprir a demanda de 2% da população de Cascavel.
BIOMASSA – Paralelamente ao estudo das áreas com potencial de produção de biogás, também foi feito o levantamento das áreas inaptas e aptas para receber a aplicação de biofertilizante derivado da biomassa residual da suinocultura. O estudo apontou que a mesorregião Centro Ocidental Paranaense possui a menor porcentagem de sua área inapta para essa aplicação, em um total de 2.573,66 km², ou seja, 21,56% do território.
ESTUDO – O levantamento foi feito pela GEF Biogás Brasil, entidade que reúne a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial; Global Environment Facility; os ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Minas e Energia; e Meio Ambiente; Centro Internacional de Energias Renováveis; e Itaipu Binacional. Contou ainda com a parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e da Associação Brasileira de Biogás.
A metodologia para a construção do diagnóstico contou com consultas em 51% das plantas em operação no Sul do Brasil, gerando um montante de 58 unidades de produção, sendo 62% das plantas no estado do Paraná, seguido por Santa Catarina com 24% e Rio Grande do Sul com 14%.