A consciência de um comportamento ético individual é capaz de transformar a cultura de uma sociedade. Esse é um dos conceitos comuns entre os profissionais que apresentaram teorias e experiências no 2º Simpósio Paranaense de Combate à Corrupção – Fazendo a coisa certa. O evento promovido pelo Governo do Paraná, por meio da Controladoria-Geral do Estado (CGE), reuniu cerca de 450 participantes, nesta segunda-feira (09), em Curitiba.
O simpósio foi direcionado a servidores e à população e aprofundou o debate sobre mecanismos que inibem atos ilícitos, o papel do controle social e a ideia do ‘jeitinho brasileiro’. “A sociedade precisa se envolver, trabalhar em conjunto e ajudar os governos, assim como a iniciativa privada precisa participar efetivamente do combate à corrupção”, afirmou Darci Piana, vice-governador do Estado, que abriu o evento.
O controlador-geral do Estado, Raul Siqueira, está em curso em Copenhague, na Dinamarca, oferecido pela Transparência Internacional. De lá, mandou um vídeo aos participantes. “O nosso desejo é que possamos ser referência em transparência e governo aberto. Este simpósio representa a consolidação do trabalho realizado pela CGE de disseminar a cultura do fazer o que é correto e justo. De nada adianta passarmos pela vida se não deixarmos um país melhor para nossos filhos e netos”, ressaltou.
CONCURSO – Alunos do Colégio Estadual do Paraná fizeram apresentação musical antes das palestras e da premiação de seus dez colegas, ganhadores do 1º Concurso de Redação da Controladoria-Geral do Estado. Perto de mil estudantes do último ano dos ensino Médio e Técnico participaram do concurso. Eles concorreram a bolsas de estudo para a Faculdade de Pinhais (Fapi), para o Centro de Línguas da Universidade Federal do Paraná e cursos profissionalizantes da Data Enter.
Os três primeiros lugares ficaram com Ângela Pienegonda Terres, Guilherme Antunes e Maria Clara Xavier de Souza.
INDIGNAÇÃO – O antropólogo Professor Marins, autor de vários livros e que mantém canais em redes sociais, foi o primeiro a falar. “A indignação do brasileiro vem de nunca poder fazer valer seus valores, que são de honestidade, lealdade e ética. Temos que propor um pacto ético com todos e punição severa aos não éticos”, disse. “Honestidade é um valor moral, mas o que é honestidade para cada pessoa, como é a prática desse valor?”
Ele citou a crise de credibilidade provocada pela falta de resultados efetivos e comentou que debates como o promovido pelo 2º Simpósio de Combate à Corrupção são fundamentais neste momento do País. “A gente tem que começar a pensar e a ver que atitudes não éticas são prejudiciais para todo mundo”, destacou Marins.
INSTITUIÇÕES – A Controladoria-Geral da União foi representada por André Rolim Romagna, superintendente substituto da regional do Paraná. De acordo com ele, neste ano foram mais de 50 operações conjuntas com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, voltadas ao combate à corrupção.
“A punição é um fator importante pelo seu caráter dissuasivo. A empresa ou o indivíduo fica desestimulado a cometer ato de corrupção se houver risco maior de ele ser pego”, comentou. Romagna também falou sobre o trabalho de prevenção feito em escolas.
O diretor de Governança, Risco e Compliance da Copel, Vicente Loiácono Neto, detalhou o fortalecimento do programa de integridade da empresa. “A Copel tem um Comitê de Orientação Ética para revisitar e trazer o que há de mais moderno para atualizar o código de conduta. Também adotamos canal de denúncia independente, contratado por licitação, e temos um cuidado muito grande com o anonimato e dados do denunciante. É uma ferramenta que funciona”, disse Vicente.
COMPLIANCE – Um dos temas mais comentados no 2º Simpósio Paranaense de Combate à Corrupção foi o Compliance, programa adotado este ano pelo Governo do Estado, com força de lei. Wagner Giovanini, autor do livro Compliance – A excelência na prática, explicou que o conceito surgiu nos anos 70, nos Estados Unidos, depois do caso Watergate.
Segundo ele, é importante dar às pessoas a opção de fazer a coisa certa e o compliance ajuda nessa tarefa ao estabelecer limites concretos entre o certo e errado. “Antes de fazer algo, a pessoa deve se perguntar se poderia compartilhar essa ação com a família e em redes sociais sem se sentir constrangido. Como terceira avaliação, se seu concorrente fizesse o mesmo, o que você faria?”.
Para ele, o maior desafio para quem trabalha no ramo de compliance é convencer as pessoas de que o programa é bom e que ele pode contribuir para a construção de um país melhor. “É preciso sensibilizar as pessoas para que elas queiram fazer a coisa certa e percebam que isso é bom para elas, para a família e para o País”, disse Giovanini.
COMPLIANCE COM ALMA – O compliance humanizado foi reforçado pela especialista Flávia Malucelli, sócia da Titan Consulting, e pelo professor de ética e especialista em desenvolvimento humano, Valter Otaviano.
“É preciso mudar paradigmas quando falamos em cultura organizacional. Todos têm que estar alinhados e saber que é o compliance é necessário. A pessoa deve aplicar o compliance dentro de sua casa e em sua vida para que isso reflita em seu trabalho”, afirmou Flávia. Para ela, em uma estrutura administrativa, o mais importante é a alta direção estar comprometida com o compliance.
Otaviano explicou o conceito de ‘compliance com alma’. “O compliance precisa sair do papel e aparecer no comportamento e no modelo mental das pessoas. As empresas envolvidas na Operação Lava Jato tinham compliance e código de conduta. Isso mostra que não basta ter o conteúdo no papel, é preciso que as pessoas se tornem melhores, com a aplicação do compliance”, disse o professor.
CGE - A Controladoria-Geral do Estado do Paraná é responsável pelas áreas de compliance, ouvidoria, corregedoria, controle interno, transparência e controle social do Governo do Estado. Tem entre suas missões desenvolver o respeito à moralidade e eficiência administrativa no serviço público.
PRESENÇAS - Também participaram da abertura do simpósio o diretor-geral da CGE, Osmar Baptista Júnior, o diretor jurídico da Celepar, André Tesser, e, representando o sistema Fiep, o gerente executivo jurídico de Riscos e Compliance, Marco Antônio Guimarães.