Campanha contra febre amarela irá vacinar 19 milhões em SP, RJ e BA

Autor: Da Redação,
terça-feira, 09/01/2018

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em uma tentativa para conter novo avanço da febre amarela, cerca de 19 milhões de pessoas deverão ser vacinadas contra a doença a partir de fevereiro em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

As datas e a nova estratégia de campanha, que abrange 75 municípios, foram divulgadas nesta terça-feira (9) pelo Ministério da Saúde.

O objetivo é evitar a expansão da doença para locais ainda não atingidos, os quais não tinham recomendação para vacinação contra febre amarela.

"É uma medida emergencial, que vida dar cobertura vacinal à população em áreas onde não circulava o vírus. Fracionaremos a vacina para garantir cobertura rápida em curto período de tempo", afirma o ministro da Saúde, Ricardo Barros. "Nosso objetivo é poupar vidas."

Para isso, a ideia é utilizar doses fracionadas da vacina, que oferta proteção por ao menos oito anos. Segundo Barros, a medida ocorre após estudos que mostram eficácia semelhante à dose integral. Também visa assegurar a manutenção dos estoques de vacina no país.

Desde julho do ano passado, quando o governo declarou o fim do pior surto de febre amarela silvestre já registrado no país desde 1980, já houve 11 novos casos confirmados, incluindo quatro mortes.

As confirmações ocorreram em São Paulo, com oito casos, além de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com um registro cada. Há ainda outros 92 casos suspeitos em investigação.

DATAS NOS ESTADOS

A campanha deve ocorrer por 15 dias, com datas diferentes em cada Estado. Em São Paulo, a mobilização deve ocorrer entre 3 e 24 de fevereiro. Ao todo, serão vacinadas 6,3 milhões de pessoas em 52 municípios do interior.

A secretaria estadual de saúde, no entanto, já havia anunciado no fim de semana que pretende estender a vacinação para todo o Estado até o fim deste ano.

Segundo o coordenador de controle de doenças, Marcos Boulos, a campanha que inicia em fevereiro deve focar nas áreas de maior risco, onde não havia recomendação de vacina e há agora ocorrência de epizootias -nome técnico dado à morte de macacos por febre amarela, o que indica a presença na região de mosquitos que transmitem o vírus (Haemagogus e Sabethes).

Em seguida, a vacinação deve ser ocorrer em outros pontos. A previsão é que moradores da capital paulista, por exemplo, sejam vacinados até o fim do ano. "A febre amarela não está acontecendo onde já vacinamos, mas em áreas novas [onde não havia recomendação]", explica, sobre os motivos que levam ao aumento no número de casos confirmados no Estado.

No Rio de Janeiro, a campanha está marcada para ocorrer entre 19 de fevereiro e 9 de março, em 15 municípios, incluindo a capital. A previsão é vacinar até 10 milhões de pessoas.

O maior número ocorre devido à baixa cobertura vacinal no Estado, que pretendia ter toda a população imunizada até o fim do ano passado. O índice de cobertura, no entanto, ainda é de 40%.

Já a Bahia terá vacinação entre 19 de fevereiro e 9 de março em oito cidades, incluindo Salvador.

O chamado dia D, quando há maior mobilização juntos aos postos de saúde, está marcado para 24 de fevereiro nos três Estados. Em São Paulo, também deve ocorrer em 3 de fevereiro.

FRACIONAMENTO

A aplicação de doses fracionadas da vacina é recomendada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) quando há aumento de epizootias e de casos de febre amarela de forma intensa, e é necessário conter a transmissão da doença em curto período de tempo.

Antes do Brasil, estratégia semelhante já foi utilizada em países como Angola e Congo, o que ajudou a interromper o surto nestes locais.

A diferença da vacina fracionada em relação à integral está no volume aplicado. Enquanto a dose padrão tem 0,5 ml, a fracionada tem 0,1 ml. Um frasco com cinco doses, por exemplo, pode vacinar até 25 pessoas.

O tempo de proteção também varia: enquanto a primeira protege por toda a vida, a segunda tem duração menor. Inicialmente, esse período era citado em até um ano.

Novos estudos feitos pela Fiocruz, porém, mostram que a imunização já dura ao menos por oito anos. A instituição afirma que continuará a avaliar o tempo de proteção para definir se haverá a necessidade de aplicação de uma nova dose no futuro, por exemplo.

"Para que não haja aumento de casos, estamos fazendo a vacinação por serem áreas com forte densidade populacional", explica a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Carla Domingues, que lembra que o período entre dezembro e julho costuma ser de maior circulação do vírus.

PÚBLICO-ALVO

A aplicação da dose fracionada virá acompanhada de um selo específico, a ser colocado na caderneta de vacinação. Para receber as doses, pessoas que vivem nos municípios indicados devem se dirigir às unidades básicas de saúde.

A vacina fracionada é recomendada acima dos 2 anos de idade. Idosos, porém, devem ter avaliação dos serviços de saúde, que irão verificar se há contraindicações à vacinação.

Apesar da oferta da vacina fracionada nestes locais, alguns grupos continuarão a ter recomendação para receber a dose integral. É o caso de crianças de 9 meses a menores de dois anos, gestantes e pessoas com condições especiais -caso de portadores de HIV e pacientes que terminaram a quimioterapia. A justificativa é a ausência de estudos que mostrem a eficácia nestes grupos.

Quem planeja viajar a outro país também receberá a dose integral, desde que apresente o comprovante de viagem no momento da vacinação.

A vacina permanece contraindicada a pacientes imunodeprimidos e em tratamento de câncer e a pessoas alérgicas à proteína do ovo, devido ao risco de eventos adversos.

Já a oferta de vacina nos locais onde já havia recomendação de vacinação não muda.