ANDREA ORMOND
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Escrito e dirigido por Gonzalo Delgado e Verónica Perrotta, "Os Golfinhos Vão Para o Leste" parece, às vezes, um filme dirigido pelo catalão, naturalizado brasileiro, Alberto Salvá.
A personagem de Virginia (Perrotta), confusa em Punta del Este, bem poderia ser Denise Bandeira em "Inquietações de Uma Mulher Casada" (1979). Com a diferença que o motivo das suas inquietações não é um marido chato, mas um pai relapso.
Filha de Miguel Ángel García (Jorge Denevi), antiga celebridade uruguaia, Virgina só queria ser amada. O problema é que o pai gosta mais de Misha, um gatinho branco, e da companhia de rapazes. Para piorar, é malvisto em todos os cantos do balneário. Miguel Ángel e Virginia vagam como fantasmas, brigam, e Virginia tira selfies fingindo estar "tudo bem".
Brasileiros que conhecem Punta del Este podem matar a saudade do Hotel Conrad e das praias. Satisfeito o desejo turístico, a história tem pouco a oferecer. O enrosco familiar soa vazio, mal construído. E o que poderia ser um personagem ótimo, do homem que virou paródia de si mesmo, não constrói explicações suficientes que o justifiquem.
Enquanto o pai lembra um Ibrahim Sued, sem perfume Lapidus ou quadros de Teruz, a filha apanha do roteiro com todos os lugares comuns possíveis e desairosos a uma mulher: carente, infértil, adúltera.
Porém, o que torna difícil a convivência do espectador com a anti-heroína é sua absoluta falta de empatia. Fica a impressão de que, mesmo se destruísse a escultura Los Dedos na Playa Brava, ou colocasse uma bomba na avenida Gorlero, Virginia continuaria anódina.
Com alguma boa vontade, "Os Golfinhos Vão Para o Leste" pode ser entendido como uma crítica ao inferno das aparências a qualquer custo. Aqui reside uma aproximação a "Whisky" (2004), produção na qual Delgado e Perrotta participaram -ela como atriz, ele como corroteirista.
"Whisky" abordava a impostura de um irmão, fingindo para outro, bem-sucedido, que havia se casado. "Golfinhos" mostra o pai tentando constranger a filha, que por sua vez inventa um teatro histérico. Em ambos os filmes, o aspecto conservador e provinciano da moderna sociedade uruguaia.
Uma pena que Gonzalo Delgado e Verónica Perrotta não extraiam desse universo qualquer reflexão autêntica. Somente uma temporada de misérias humanas e bonitas paisagens, antes que o verão lote a cidade.
OS GOLFINHOS VÃO PARA O LESTE (ruim)
(Las Toninas Van al Este)
DIREÇÃO Gonzalo Delgado e Veronica Perrotta
ELENCO Jorge Denevi, Veronica Perrotta e César Troncoso
PRODUÇÃO Uruguai/Argentina, 2016, 18 anos
QUANDO em cartaz, veja salas e horários de exibição
AVALIAÇÃO ruim