Emirados Árabes planejam cidade marciana

Autor: Da Redação,
domingo, 12/11/2017

SALVADOR NOGUEIRA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dubai, cidade já conhecida por obras arquitetônicas que transbordam ostentação, como o maior shopping e o prédio mais alto do mundo, está prestes a ganhar sua mais inusitada construção: o protótipo de uma cidade marciana.

O projeto faz parte do plano arrojado dos Emirados Árabes Unidos (EAU) de fundar uma cidade inteira no planeta vermelho em um século. O país ambiciona enviar sua primeira espaçonave não tripulada a Marte, um pequeno orbitador de 1.500 kg, em 2020.

"Esperamos no século vindouro desenvolver ciência, tecnologia e a paixão da nossa juventude pelo conhecimento", disse, via Twitter, o sheik Mohammed bin Rashid al Maktoum, vice-presidente e primeiro-ministro dos EAU, ao anunciar a iniciativa Mars 2117.

Em Dubai, o protótipo, batizado de Mars Science City (Cidade da Ciência de Marte), será um centro de educação, pesquisa e divulgação da exploração espacial, orçado em US$ 140 milhões.

Para desenvolver o projeto, os árabes contrataram a empresa de arquitetura dinamarquesa BIG, liderada por Bjarke Ingels. A construção, que consiste de cinco domos interligados ocupando uma área de 56,8 mil m2, será realizada ao longo dos próximos anos --ainda não há cronograma oficialmente definido.

"Um dos desafios da Mars Science City é desenvolver a tecnologia para formar um complexo urbano com as conformações que possibilitam sustentar a vida em Marte", disse Ingels.

"Estamos estudando como os prédios podem operar por si mesmos com uma rede elétrica independente e água reciclável, como precisaria ser no planeta vermelho. O plano é criar uma cidade com a maior eficiência de recursos possível e uma economia circular: fazer o máximo com o mínimo."

Todas as estruturas pensadas para a cidade marciana em Dubai têm em vista os desafios que o planeta vermelho oferece. Um dos mais complicados para uma moradia permanente em Marte é a maior exposição à radiação cósmica (o planeta não tem um campo magnético, de forma que a chuva de partículas ameaçadoras à saúde vindas do espaço é bem maior que na Terra) e o risco de impactos de meteoritos, já que a atmosfera lá é menos densa que a da Terra e oferece menor proteção.

O interior das estruturas, claro, terá de ser pressurizado com uma atmosfera suficiente para a respiração humana, e isso naturalmente conduz ao uso de domos -forma que distribui de forma mais efetiva a pressão exercida pelo ar do lado de dentro.

"Estamos trabalhamos com domos como a geometria ideal para estruturas acima do solo, e eles devem ser impressos em 3D com regolito -a poeira marciana- por meios robóticos", explica Ingels. "Após a impressão, um domo inflável feito de plástico reciclável, ultraleve e transparente seria adicionado para pressurizar as estruturas. Juntos, esses elementos formam um ambiente habitável e protegido da radiação e de meteoros."

ESCALÁVEL

O projeto foi concebido para ir crescendo conforme a demanda -algo pouco importante para a Mars Science City, mas fundamental para uma cidade marciana de verdade.

Segundo o arquiteto dinamarquês, as estruturas a serem construídas em Dubai terão capacidade para abrigar mil pessoas, se estivessem em Marte. "Mas os EAU querem, em 2117, começar a construir uma cidade inteira para 600 mil pessoas em Marte", diz.

Para isso, a ideia é ampliar o número de domos a fim de abrigar mais e mais habitantes. Claro, seja qual for a escala, há uma grande distância -medida em dezenas de milhões de quilômetros- entre construir uma cidade marciana em Dubai e uma em Marte. Mas Ingels acredita que vai acontecer.

"Parece impensável agora, mas quando europeus começaram a colonizar a Austrália, levava seis meses para chegar lá. E a jornada para Marte não é muito mais longa, e não é muito mais perigosa do que era ir à Austrália naquela época."

Ele vê o projeto como uma grande oportunidade para também melhorar a vida aqui mesmo na Terra. "As mesmas tecnologias e princípios que aplicaremos em Marte nos permitirão ser melhores guardiões do ecossistema do qual nos beneficiamos hoje."