Monotrilho de Alckmin até Congonhas dará prejuízo

Autor: Da Redação,
quinta-feira, 19/10/2017

FABRÍCIO LOBEL

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Metrô de São Paulo, ligado ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), prevê que a operação do monotrilho no trajeto da estação Morumbi da CPTM ao aeroporto de Congonhas será deficitária.

Na prática, os custos para manter os trens circulando serão muito maiores do que a receita das bilheterias.

Esse monotrilho é a chamada linha 17-ouro, que, após atrasos, agora é prevista para dezembro de 2019, com demanda estimada de 185 mil usuários por dia ao longo de 7,7 km e oito estações.

O Metrô estima um custo de operação de R$ 6,71 por passageiro, muito acima do preço atual da tarifa da rede, de R$ 3,80. O Estado, para efeito de comparação, paga R$ 4,03 por usuário à concessionária da linha 4-amarela.

O futuro prejuízo do monotrilho é usado pela gestão Alckmin como justificativa para sua inclusão em um pacote de concessão à iniciativa privada junto com a linha 5-lilás -que poderá ser lucrativa, de modo a compensar as perdas com a linha 17-ouro.

O contrato tem lance mínimo de R$ 189 milhões e faturamento estimado de R$ 10,8 bilhões (bruto, em 20 anos). Desde setembro, porém, a licitação é questionada pelo Tribunal de Contas do Estado, que decidiu suspendê-la.

A LINHA

Em construção desde 2012, a linha 17-ouro deveria ter sido entregue até a Copa do Mundo de 2014 e foi concebida quando se planejava que o estádio do Morumbi fosse a sede paulista do torneio.

O trajeto original, com 17,7 km e 18 estações, deveria ligar a estação Jabaquara, na linha 1-azul, à futura linha São Paulo Morumbi, na linha 4, fazendo ainda conexão com a linha 5-lilás e a linha 9-esmeralda da CPTM.

Um ramal levaria ainda à estação Congonhas (acessível ao aeroporto por uma passagem subterrânea por baixo da av. Washington Luís).

A previsão era que tivesse 450 mil passageiros por dia.

Após anos de atraso, a obra foi abandonada por uma empreiteira. O governo fez um novo contrato e encurtou o tamanho da linha, o que, para especialistas, pode ser a causa para tamanho deficit. Estações com grande potencial de passageiros, como Paraisópolis, foram excluídas.

"A linha 17 tinha sido desenvolvida de forma estratégica, ligando áreas muito povoadas e sem emprego com áreas pouco povoadas e com muito emprego. A redução do trajeto dela pode ter sido decisivo para o desequilíbrio financeiro da linha", diz Emiliano Affonso, do sindicato dos Engenheiros de São Paulo.

EXPLICAÇÕES

O valor investido na construção da linha 17-ouro chega por enquanto a R$ 1,67 bilhão -de um total que é estimado em R$ 3,58 bilhões.

O prejuízo para a operação desse monotrilho quando ele estiver pronto foi informado pelo Metrô ao TCE após pedido de explicações sobre a junção das linhas 5 e 17 num mesmo pacote de concessão.

O tribunal de contas também questiona a união da operação de duas linhas com tecnologias diferentes --uma é metrô e outra, monotrilho.

O secretário dos Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni, afirmou à Folha que, na atual situação, não é mais possível pensar nas duas linhas dissociadas.

Para ele, a proposta original e mais extensa da linha 17 já não serve para efeito de comparação. "Aquele projeto não existe mais. A prioridade é terminarmos aquilo que nós temos. Agora, eu não tenho condições de construir as outras estações [previstas no primeiro projeto]."

O secretário disse que provará no TCE que a concessão das duas linhas em conjunto é a melhor modelagem.