Cidade se transforma em reduto de ginseng, planta usada contra o câncer

Autor: Da Redação,
terça-feira, 08/08/2017
O município de Querência do Norte, no Noroeste do Paraná, é o reduto do ginseng brasileiro - Foto: Divulgação

Querência do Norte, município situado no noroeste do Paraná, já quase na divisa com o Mato Grosso do Sul  se transformou em reduto da planta medicinal  Pfaffia glomerata, conhecida popularmente como ginseng brasileiro. As raízes dela são usadas principalmente como tônicas e estimulantes sexuais e, principalmente, para evitar doenças como diabetes, câncer e tumores em geral.

No município de solo úmido e arenoso, a planta medicinal impera principalmente nas ilhas e várzeas do Rio Paraná, o segundo maior rio da América do Sul, situado bem próximo à cidade com pouco mais de 12 mil habitantes. A planta, no entanto, só começou a gerar negócios na região no final da década de 1990, quando os agricultores locais se associaram a pesquisadores e técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), liderados por Cirino Corrêa Júnior, coordenador estadual de plantas potenciais, medicinais e aromáticas da entidade.

“Ao chegarmos ao município, identificamos a planta e incentivamos o cultivo e a retirada de forma correta, sempre respeitando o meio ambiente e a preservação da espécie”, relata Corrêa Junior, que escreveu uma tese sobre o tema, enquanto fazia doutorado na Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade de São Paulo (Unesp).

Até então, os coletores utilizavam fogo para queimar a vegetação que escondia o ginseng, uma vez que a mata precisa estar limpa para que a planta possa ser retirada. A prática da queimada, além de crime ambiental, estava colocando o ginseng em risco de extinção.

Foto por Reprodução

O município de Querência do Norte, no Noroeste do Paraná, é o reduto do ginseng brasileiro - Foto: Divulgação

Associação
Em 2005, os agricultores da região fundaram a Associação de Pequenos Produtores de Ginseng de Querência do Norte (Aspag), com o objetivo de produzir ginseng orgânico e sustentável. “Começamos a profissionalizar a cultura aqui na região”, diz o sócio-diretor da entidade, Misael Jefferson Nobre.

Conforme levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), feito em 2015, a produção da raiz foi de 225 mil quilos – montante 89% superior ao registrado no ano anterior. Em 2015, a movimentação gerou R$ 675 mil em negócios para os produtores rurais.

Japão e França estão entre os compradores
O ginseng brasileiro atraiu inclusive compradores de países europeus e asiáticos. A França é um exemplo. O país europeu adquire três toneladas por ano do produto, enquanto o Japão cerca de uma tonelada. Em setembro deste ano, uma comitiva chinesa fará uma visita em Querência de Norte.“É mais uma chance de mostrarmos a qualidade do nosso produto para compradores de outro país”, conta Nobre.

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Foto: Divulgação

Qualidade do produto
O produtor relata, todo orgulhoso, que o ginseng produzido em Querência do Norte, também conhecido pelos nomes de batata-do-mato, corango, corrente, sempre-viva e paratudo, é o melhor do Brasil. “É puro e feito apenas com a raiz da planta, local onde está concentrado o seu poder”, diz.

Para saber se é realmente puro, explica Nobre, a planta tem que ser bem amarela. “Quando tem baixa qualidade, por causa da presença do caule e das folhas da planta, ela fica esbranquiçada e amarronzada”, acrescenta.

Imbróglio
A comercialização poderia melhorar se o ginseng brasileiro fosse reconhecido como planta medicinal, afirma o técnico agrícola da Emater-PR, Wesley Santa Passo. “Para tanto seria necessário uma pesquisa de uma instituição científica, mas como o mercado é pequeno e ainda não gera tanto lucro, nenhuma universidade fez ainda”, afirma.

Atualmente, os produtores dependem de atravessadores para venderem seus produtos em território nacional ou internacional.

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O ginseng brasileiro atraiu inclusive compradores de países europeus e asiáticos
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Benefícios cientificamente comprovados
O ginseng brasileiro, que tem nome científico de Pfaffia glomerata, é utilizado há séculos pelos índios brasileiros. A erva só teve seus benefícios cientificamente comprovados, conforme o coordenador da Emater-PR, após estudos feitos por pesquisadores asiáticos nas décadas de 80 e 90.

“Constatou-se que a raiz da planta tem componentes que atuam na regeneração das células, na purificação do sangue e na regularização das funções hormonais e sexuais, por exemplo”, relata Corrêa Júnior, da Emater-PR. Segundo ele, das 31 espécies encontradas na América Central e do Sul, 21 estão no Brasil. “Nosso país é o mais importante centro de coleta de espécies deste gênero”, completa.

Com informações da AEN