Cerca de 40 profissionais da enfermagem realizaram uma carreata na manhã deste sábado (22), e pediram a aprovação do Projeto de Lei 2564/2020 que tramita no Senado Federal, e institui o piso salarial nacional para a categoria.
A manifestação começou às 10h, na Estação Cultural Milena Rodrigues (endereço da Feira da Lua) e seguiu até a praça da Igreja Matriz, em Arapongas. A mobilização faz parte da campanha nacional de Valorização da Enfermagem, lançada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
“Mediante a pandemia, nosso trabalho perante a sociedade ganhou destaque e reconhecimento, mas ainda estamos aguardando a tão sonhada valorização. A prova disso é que existe um projeto de lei, que dispõe sobre a redução da carga horária semanal, engavetado há 21 anos, aguardando apreciação do Senado. Outras classes de profissionais de saúde, como psicólogos, já conseguiram esse benefício, porém a enfermagem continua esquecida. Não é questão de ser melhor que ninguém, mas devemos ser tratados com igualdade e de acordo com o grau de responsabilidade da nossa profissão”, diz a enfermeira Gisele Ferreira, que atua há 18 anos na área.
Na região, um enfermeiro ganha atualmente entre R$ 1,8 mil a R$ 2,3 mil, já o técnico R$ 1,4 mil e R$ 1,1 mil o auxiliar, dependendo da instituição de saúde onde atuam. O projeto de lei que tramita no senado prevê estabelecer o piso de R$ 7,315 mil para o cargo de enfermeiro, R$ 5,150 mil para técnico de enfermagem e R$ 3.657,50 para a função de auxiliar de enfermagem. Além da regulamentação do piso salarial, a categoria pede a implementação da jornada de 30 horas e o direito a aposentadoria especial. Gisele tem esperança que o projeto de lei seja votado nos próximos dias e pede o apoio da população para sensibilizar os senadores e deputados federais pela causa dos profissionais da enfermagem.
“Valorizar a enfermagem é valorizar a vida. Por isso, agradecemos os aplausos, mas pedimos que a população nos ajude, enviando e-mails e mensagens nas redes sociais para os senadores e deputados. Lembrando que a desvalorização da classe não atinge apenas os enfermeiros. É uma questão de saúde pública, visto que se houver melhora das condições de trabalho, consequentemente haverá melhora no atendimento prestado”, enfatiza.
Na semana passada, profissionais da área que atuam em Ivaiporã também fizeram um ato pela regulamentação do piso salarial da categoria. O movimento que busca a valorização dos profissionais de saúde acontece no mês em que a categoria é exaltada pelo Dia Internacional da Enfermagem, comemorado dia 12.
Jornadas de trabalho exaustivas
A enfermeira Rubia Carla Barreto, 45 anos, trabalha na área há 19 anos e acumula jornadas de trabalho exaustivas sem o devido reconhecimento. “Já faz tempo que a enfermagem é importante, mas não é reconhecida. Agora na pandemia que a população começou a ter outra visão sobre a profissão”, comenta.
Uma outra questão que causa indignação na categoria é que muitos técnicos de enfermagem ganham menos do que um salário mínimo. “Não desmereço outras profissões, mas por exemplo, as agentes comunitárias de saúde que fazem busca ativa de criança, gestantes e idosos. Elas têm que morar no bairro e realizar visitas. Já o técnico é responsável pelos procedimentos nos pacientes. Por isso que estamos lutando pelo reajuste”, explica.
A enfermeira Raquel Carvalho, 37 anos, que atua há 19 anos na área acredita que a opinião pública sobre a sua profissão é muito limitada. Ela destaca que o profissional de enfermagem tem grandes responsabilidades no seu dia a dia, além de colocar a própria vida em risco em determinadas situações. “Enfermeiro atua na parte administrativa, psicológica e em muitas outras. A gente medica, dá banho e nutre carinho pelos pacientes. As pessoas não têm noção dos riscos que corremos dentro de uma ambulância a mais de 100 km/h chegando em uma rodovia movimentada para atender um acidente. Trabalhamos debaixo de chuva, de sol, no escuro, no claro, nos embrenhamos na mata, correndo risco de levar uma picada de cobra, insetos. A gente faz muito mais do que as pessoas pensam. O médico passa, prescreve, faz cirurgia, mas quem fica o tempo todo, 24 horas com o paciente, cuidando e administrando a evolução dele é o enfermeiro. A gente lida com vidas e não podemos errar”, salienta.