O Museu do Holocausto de Curitiba divulgou nota repudiando a atividade realizada por uma professora de História do Colégio Estadual Cívico-Militar Marquês de Caravelas, em Arapongas, que tratou do nazismo. O trabalho contou com alunos vestidos com roupas pretas ao lado de um manequim com bigode, remetendo à imagem de Adolf Hitler. Segundo o Museu do Holocausto, a atividade "relativiza os crimes nazistas".
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Imagens postadas nas redes sociais mostram uma bandeira vermelha com uma suástica, símbolo que estampa a bandeira nazista. A deputada federal Carol Dartora (PT) foi a primeira a denunciar o caso, que classificou como “apologia ao nazismo”. O Ministério Público do Paraná (MP-PR) vai investigar a situação, assim como o Secretaria de Estado da Educação (Seed-PR).
O Núcleo Regional de Educação (NRE), de Apucarana, divulgou nota negando apologia. “Ressaltamos que o trabalho desenvolvido não se trata de uma apologia a qualquer regime, mas sim uma tentativa de detalhar os horrores da Segunda Guerra Mundial para que tais eventos sombrios nunca mais se repitam”, afirmou o NRE, que chegou a curtir a postagem do colégio sobre a atividade. O caso foi publicado pelo TNOnline ainda no domingo (8) e ganhou repercussão na segunda-feira (9).
“Com espanto e indignação, o Museu do Holocausto tomou conhecimento de imagens e relatos de uma atividade ocorrida no Colégio Estadual Marquês de Caravelas, em Arapongas (PR), ligada a um projeto sobre a Segunda Guerra Mundial. O caráter deturpado da atividade, realizada com alunos do 3º ano do Ensino Médio, leva o Museu a apontar os equívocos pedagógicos da proposta. Além disso, ressaltamos nossa preocupação quanto à reprodução dessa metodologia em outras partes do Paraná e do Brasil”, postou o Museu do Holocausto em sua conta na rede “X” (Ex-Twitter).
“Dois aspectos da atividade nos chamam atenção: 1) o uso de indumentária, simbologia e decoração associada ao nazismo; 2) a entrevista com a filha de um soldado nazista, chamada, na publicação do colégio nas redes (já apagada), de “sobrevivente”. O uso de salas temáticas, decorações e caracterizações visando “vivenciar o tema” é uma prática didática comum. No entanto, para cada tema, são necessários cuidado e sensibilidade ao utilizar tais metodologias. Há necessidade de explicar historicamente o fenômeno do nazismo, visando o combate de suas continuidades e permanências no presente. Porém, na Pedagogia contemporânea do Holocausto, há consenso de que isso deve ser feito pela perspectiva das vítimas, e não dos perpetradores”, assinalou o Museu do Holocausto.
A postagem acrescentou: “Mesmo que a intenção não seja de apologia ao nazismo, o uso de simbologia tal como foi feito leva a um fascínio pelo nazismo. A encenação torna o nazismo, e não o seu combate, algo divertido, interessante e fascinante, deslocado do seu significado histórico. Entretanto, ainda mais grave é a proposta de entrevista. Segundo o texto publicado pelo colégio nas redes sociais (e já apagado), destacou-se o pai da entrevistada, caracterizado como “o seu pai era nazista e queria lutar pelo país”. No restante do texto, esse indivíduo (que vale lembrar, não é descrito como um mero soldado convocado por obrigação, mas um nazista convicto) é tratado inacreditavelmente como uma vítima. Sua filha é descrita como “sobrevivente da guerra”. Cabe lembrar que o projeto do regime nazista pelo qual o pai da entrevistada "lutava” tinha em seu cerne a conquista e opressão de populações de outros países, o extermínio de pessoas consideradas racialmente inferiores ou perigosas e a perseguição a opositores políticos”, acrescentou.