Antes dos enormes prédios de concreto armado, as construções de madeira predominavam em praticamente todas as ruas de Arapongas e da maioria das cidades do Norte do Paraná. As casas, os hospitais, as escolas e até mesmo as igrejas eram feitas de tábuas.
Muitas dessas residências de madeira dos primeiros anos de Arapongas ainda resistem no coração da cidade. Cada uma conta um pouco da história do município, que completa 76 anos em outubro.
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Na Rua Eurilemos, no centro da cidade, uma casa de madeira desafia os enormes prédios. Muito bem conservada, a residência é um retrato do contraste entre o passado e futuro da cidade.
O imóvel é endereço de três mulheres: a pioneira Iraides André Baioni, de 83 anos; a filha dela, Arlete Baioni, de 61 anos, e a neta Camila Aparecida Baioni, de 31 anos.
“Essa casa era do meu avô. Ele morou aqui quando minha mãe era solteira. Daí os filhos casaram, ele continuou até falecer. Eu estava morando em São Paulo e decidi mudar para cá a pedido do meu tio”, conta Arlete.
O avô, Ademar André, e a esposa dele, Rosa Barrão André, são pioneiros de Arapongas. Arlete não lembra o ano exato da chegada do casal à cidade, mas a casa tem, seguramente, mais de 60 anos.
Os avós moravam em um sítio em Mandaguari e depois compraram a casa em Arapongas.
Após a morte do pioneiro, a residência ficou com Iraides, uma das filhas, que comprou a parte dos outros herdeiros do imóvel. Na casa, ela se casou e criou as duas filhas.
A história e a conservação da casa chamam muita atenção das pessoas que passam pela rua.
“As pessoas falam: ‘nossa, eu sempre passo na frente dessa casa, tenho curiosidade de ver como é por dentro”, afirma Arlete.
Ela conta que já teve interesse em vender o imóvel, mas foi impedida pela filha. “A minha filha não tem interesse nenhum em vender, porque está passando de geração. Foi meu avô, minha mãe, eu e agora tenho uma filha. Então sempre que eu falo em vender, ela (Camila) não quer que venda”, completa.
História de uma vida
Em outro endereço, agora na Rua Tricodomo, há uma outra casa que resiste ao avanço do concreto em Arapongas. Cleunice Machado, de 89 anos, conta que mora no endereço desde 23 de setembro 1983.
Caminhando com ajuda de uma bengala, ela revela que veio de Jandaia do Sul com o marido Nelson Machado.
“Ele queria vir para Arapongas. Eu falei que eu iria, mas eu queria a minha casa. Nunca gostei de pagar aluguel. Nós então viemos para cá e procuramos as casas. Essa casa eu já conhecida porque a primeira inquilina dela foi uma tia minha. Foi alugada para minha tia, depois, ela foi de uma japonesa, depois de um rapaz que trabalhava no Dias Martins, na filial de Bauru, aí ele estava vendendo a casa na época”, afirmou ela.
O casal teve quatros filhos e viveram juntos na residência por duas décadas e meia, até que no ano de 1998, Nelson morreu, vítima de câncer no pulmão.
Após a morte do marido, Cleunice continuou na casa com os filhos e, segundo ela, a conservação do imóvel sempre foi uma preocupação. “Eu já troquei o beiral dela uma três vezes, já arrumei outros lugares que estavam quebrados, já troquei o assoalho, mandei fazer um banheiro, o toldo para deixar os carros. E, assim, eu sempre fui conservando. Eu acho que já pintei a casa umas três vezes”, diz.
Dentre as histórias marcantes, algumas tristes, como a morte do marido, a casa onde Cleunice mora fez parte de praticamente metade da sua vida. “Essa casa me traz à lembrança de uma vida sofrida, mas de quatro filhos maravilhosos. E o meu viver, com 89 anos, tenho minha casa, não dependo de filho para viver, e então aqui tenho certeza que termino minha vida feliz. Mas para ficar com essa casa eu lutei e trabalhei muito”, finaliza.