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Vulnerabilidade social empurra idoso para mercado de trabalho; entenda

Se a economia anda pouco amigável para trabalhadores, para uma certa parcela da população brasileira, os idosos, ela chega a ser hostil

Da Redação

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costureira Sueli Aparecida de Assis, de 63 anos
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costureira Sueli Aparecida de Assis, de 63 anos
Escrito por Da Redação
Publicado em 20.08.2022, 13:48:24 Editado em 20.08.2022, 13:48:15
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Se a economia anda pouco amigável para trabalhadores, para uma certa parcela da população brasileira, os idosos, ela chega a ser hostil. Muitos não conseguem se aposentar. Já os aposentados e pensionistas não conseguem sobreviver dignamente com a renda. Exatamente por isso, milhares de idosos se desdobram para continuar no mercado de trabalho. Da população de 16.858 idosos estimada pelo IBGE em Apucarana, 5.241 estão no Cadastro Único, porta de entrada para uma série de programas e ações sociais para famílias em vulnerabilidade social.

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Exemplo da conjuntura, a costureira Sueli Aparecida de Assis, de 63 anos, moradora do Guaracy Freire, em Apucarana, enfrenta uma luta diária para sobreviver.

Ela não tem idade para se aposentar ainda. Nunca contribuiu com a previdência. Não por opção, mas por falta dela. Sempre trabalhou como costureira, por conta, dividindo a rotina com os cuidados domésticos, filhos, marido.

“Trabalhei uma vida inteira e hoje é como se não tivesse trabalhado nada, porque nunca trabalhei com carteira assinada”, explica. Vai tentar mexer com a aposentadoria em alguns anos. Até lá, resume a vida diária: “Tem que rebolar, senão, não come”

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- Sueli Aparecida de Assis, costureira
Ela vende alguns artesanatos e faz pequenos consertos de roupas, como barras de calças e saias, troca de zíperes e alguns ajustes aqui e ali. Num mês de bom movimento, fatura R$ 600 e já gasta metade disso com o aluguel. “Ainda bem que tenho a cesta básica todo mês”, diz Sueli, que se socorre no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS). Mesmo conseguindo remédios no SUS, gasta outros R$ 200 mensais com medicamentos. Ela teve um AVC há cerca de 5 anos.

-LEIA MAIS: Mulheres representam um terço dos candidatos no Paraná

Pelo menos outras 3.600 mulheres, com mais de 60 anos, vivem uma realidade muito parecida com a de Sueli, segundo dados da Secretaria Municipal de Assistência Social. Apucarana, com 137 mil habitantes, tem 16.858 idosos (IBGE). Na secretaria, 5.241 estão no Cadastro Único, e, portanto, em situação de vulnerabilidade social. Boa parte desses idosos são chefes de família, ou seja, a renda deles também sustenta outras pessoas.

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Dessas 5.241 pessoas com mais de 60 anos, que vivem em vulnerabilidade social, 1.587 são homens e 3.654 são mulheres. Sueli não perde o humor, nem mesmo quando percebe que a renda não vai vencer as contas do mês. A sorte, diz ela, são as pequenas costuras que surgem diariamente na barraquinha que ela divide com mais 4 mulheres, todas da mesma faixa etária. A barraca fica na praça Rui Barbosa. Divorciada, ela integra, desde janeiro, o programa de economia solidária da Secretaria da Mulher e Assuntos da Família. Espera receber o auxílio do governo, de R$ 600. Já fez o cadastro e espera, pacientemente, a ajuda bem vida e sempre emergencial.


						
							Vulnerabilidade social empurra idoso para mercado de trabalho; entenda
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Ivanir Colombo e José Aparecido Borghesan, ambos com 67 anos, estão aposentados e dividem o mesmo balcão

Aposentados, mas ainda na ativa por conta da economia

Para não depender de ajuda social, quem está na ativa continua. Ivanir Colombo e José Aparecido Borghesan, ambos com 67 anos, estão aposentados e dividem o mesmo balcão, numa loja tradicional na área de imagem, no centro de Apucarana. Cido, como todos conhecem Borghesan, aposentado há uns 12 anos, ainda trabalha na mesma loja há 45 anos. Ivanir, aposentado há 11 anos, trabalha ali há 36 anos.

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Ivanir diz que não tem como abrir mão da renda do salário. “Não tem como parar”, explica, para arrematar: “A situação econômica está complicada”. Ivanir, no entanto, reduziu a carga de trabalho. Ele trabalha, agora, apenas em meio expediente. “Depois de 55 anos trabalhando, meio expediente alivia”, diz. “Mas não dá para ficar sem. Preciso desse complemento”, reitera. A aposentadoria, afinal, não faz jus às necessidades da casa, mesmo sendo própria. “Tá tudo muito caro e as coisas sobem de preço sem parar”, raciocina.

Também com 55 anos já trabalhados, Cido Borghesan lembra que começou a trabalhar aos 13 anos. Ele também diz que se obriga a manter o trabalho. “Se não trabalhar, a gente não vence as contas”, afirma. E concorda com o colega de balcão: “A situação é crítica. Não tem como parar, não” resume.

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Os dois também se reconhecem privilegiados na atual conjuntura. Afinal, conseguiram se aposentar e tem um emprego fixo.

Maior procura na Agência do Trabalhador

Embora não haja um número preciso, a Agência do Trabalhador de Apucarana percebe diariamente o aumento na quantidade de idosos em busca de alguma vaga no mercado de trabalho. Neno Leiroz, coordenador da agência, estima que de 70 a 80 pessoas passam diariamente pelo órgão, em busca de colocação. E, entre as pessoas na faixa etária de 45 a 69 anos, informa, houve um aumento de 10% nas demandas, ao longo dos últimos meses.

Leiroz diz que tem sido cada vez mais comum pessoas com mais de 50 anos em busca de emprego e, muitos, inclusive, já aposentados que tentam reingressar no mercado de trabalho para complementar renda.

A demanda é tanta que a agência tem inclusive algumas ações para melhorar a empregabilidade das pessoas com mais de 50 anos, que vai desde as entrevistas de emprego até orientações na elaboração de currículos, atualização de cadastros. “Tivemos um aumento desse público procurando essas vagas de emprego”, explica.

O aumento na procura é reflexo da queda nas aposentadorias. Conforme o IBGE, o grupo de aposentadorias e pensão caiu de 13% da população brasileira para 12,4% em 2020. Conforme a própria pesquisa, a queda se deve à pandemia, parte efeito da mortalidade da Covid e também por conta do represamento no INSS em liberar novos benefícios.

As agências ficaram fechadas durante o auge da pandemia, sem possibilidade de se fazer perícias, que agora estão acumuladas.


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