Região de Apucarana tem mais de 7 mil idosos com CNH ativa

Autor: Da Redação,
domingo, 29/10/2023
Pedro Celestino ainda não pensa em parar de dirigir

Um levantamento do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) aponta que a região tem mais 7,4 mil idosos com Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na região, número que corresponde a 18% do total de habilitações ativas em Apucarana, Arapongas e Ivaiporã. Os dados compreendem pessoas com idades entre 61 até 95 anos de idade que dirigem. Assista a reportagem em vídeo abaixo. 

Em relação aos condutores mais idosos, são 568 motoristas com 81  anos ou mais nos três municípios. O número não é alto em comparação ao total de motoristas habilitados (1,4%), mas chama a atenção pela longevidade dessas pessoas. O fato é que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não estipula idade limite para um motorista parar de dirigir. A lei, entretanto, institui que condutores com mais de 65 anos façam exames médicos com maior frequência, renovando a CNH a cada três anos, com possibilidade de diminuição do intervalo.

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É o caso do aposentado Pedro Celestino Ferreira, de 92 anos, que mora em Apucarana e renova o documento a cada dois anos. Sua primeira habilitação saiu em 1968, há exatamente 55 anos, e ele afirma que não pretende parar de dirigir pois é um bom motorista, tanto que em todo esse tempo só foi multado apenas uma vez por estacionar em local proibido. O aposentado gosta muito de dirigir. Vai à missa, ao parque e ao supermercado. Para ele, o seu veículo é sinônimo de autonomia, um instrumento de inclusão social.

Mas se o CTB não estabelece idade limite, qual é o momento de “pendurar as chaves”? Segundo o médico especialista em oftalmologia e medicina de tráfego Francisco Licínio de Camargo, as condições de saúde são os principais fatores que determinam a renovação ou não da carteira de habilitação para os idosos que dirigem. Caso a pessoa apresente alguma condição de saúde que limite consideravelmente qualquer uma dessas funções, ela pode ser considerada inapta a dirigir. Nesses casos, a renovação da CNH não é realizada. Afinal, a segurança vem em primeiro lugar. Entretanto, se as capacidades físicas e mentais do condutor forem atestadas pelos exames médicos, o documento é renovado e a nova CNH é emitida. 

“Se for um idoso que se cuida, que não tem doenças graves, não toma medicamentos que tenham interferência no ato de dirigir, e mantenham atividade física, que goza de boa saúde, vai passar dos 90. Evidente que deve ter uma boa visão, então é mais difícil preencher os requisitos necessários de uma avaliação visual. O comportamento, a parte cognitiva também é importante. Desde que ele entra na clínica o comportamento é observado, fazer perguntas que ele tenha que pensar, a gente conversa muito mais do que um candidato jovem”, conta.

Para a psicóloga Rosângela Bacron, especialista em psicologia de tráfego, em muitos casos não renovar a carteira pode ser um drama porque dirigir pode proporcionar ao idoso mais autonomia, independência, mobilidade e qualidade de vida. Além disso, pode favorecer o contato com familiares, amigos e a comunidade em geral, evitando o isolamento social e até a depressão. Entretanto, a família tem um papel muito importante na decisão sobre renovar ou não o documento. A família pode e deve oferecer apoio emocional, orientação, informação e acompanhamento ao idoso nesse processo.

“A família deve considerar alguns fatores como a saúde física e mental do idoso, se ele apresenta alguma condição que possa comprometer sua capacidade de dirigir com segurança, como problemas de visão, audição, memória, atenção, coordenação motora, etc. Nesse caso, a família pode incentivar o idoso a procurar um médico e fazer os exames necessários para avaliar sua aptidão para dirigir”

A autoconfiança e a autoestima do idoso também devem ser observadas. “Se ele se sente seguro e confortável para dirigir, ou se tem medo, ansiedade, insegurança ou vergonha de sua condição. Nesse caso, a família pode conversar com o idoso e respeitar seus sentimentos, sem pressioná-lo ou criticá-lo. A família pode também elogiar os pontos positivos do idoso e reconhecer seu valor e sua contribuição para a sociedade”, analisa.

As alternativas de transporte disponíveis para o idoso também devem ser avaliadas pelos familiares. Se ele tem acesso a outros meios de locomoção, como transporte público, táxi, aplicativo, carona, por exemplo. “Nesse caso, a família pode ajudar o idoso a conhecer e utilizar essas opções, mostrando as vantagens e desvantagens de cada uma. A família pode também acompanhar o idoso em algumas viagens, para que ele se sinta mais seguro e acolhido”, afirma.

Bacron frisa, entretanto, que a decisão de renovar ou não a CNH é do idoso, mas a família pode ser uma grande aliada nesse momento, ficando atenta aos sinais de que o idoso precisa de ajuda, mas também valorizar suas potencialidades e habilidades. “É preciso diálogo com o idoso, mas também ouvir o que ele tem a dizer”, pontua.

Assista reportagem em vídeo:

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Por Cindy Santos