Estudantes da rede pública de apenas quatro municípios da região terminaram os anos iniciais do ensino fundamental com aprendizagem considerada adequada tanto em matemática quanto em português. Alunos do 5º ano de São Pedro do Ivaí, Apucarana, Rio Bom e Novo Itacolomi conseguiram índice acima de 70% nas duas disciplinas, segundo estudo do QEdu, um portal especializado em monitorar a qualidade do ensino no país.
O levantamento foi realizado com base nos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2021. Por outro lado, o estudo aponta desempenho insatisfatório nessas duas matérias no 9º ano do ensino fundamental e também no 3º ano do ensino médio (veja abaixo).
No Ensino Fundamental I, o melhor resultado foi alcançado pelos estudantes de São Pedro do Ivaí: 93% em matemática e 97% em português. Apucarana teve a segunda colocação na região, com 79% em matemática e 84% em português. No entanto, o município tem o melhor desempenho do Estado entre as cidades acima de 100 mil habitantes.
Já Rio Bom registrou índice de 71% em matemática e de 82% em português, enquanto Novo Itacolomi 70% em matemática e 76% em português. Outros municípios da região também obtiveram bom desempenho em ao menos uma disciplina: Ariranha do Ivaí em Matemática (76%) e Arapuã (79%), Mauá da Serra (78%), Arapongas (77%), Rio Branco do Ivaí (75%); Marumbi (71%), São João do Ivaí (71%), Marilândia do Sul (70%) e Cambira (70%) em português.
As demais cidades do Vale do Ivaí registraram percentuais abaixo de 70%, que são considerados como aprendizagem básica, ou inferiores a 50%, quando o conhecimento é apontado como insuficiente nas disciplinas.
A prefeita de São Pedro do Ivaí, Maria Regina Della Rosa Magri (União Brasil), afirma que o resultado positivo é fruto de um trabalho conjunto realizado no município. “É um comprometimento de todos, desde alunos, professores até as famílias”, afirma. Ela destaca que o trabalho foi intensificado mesmo durante os dois anos de pandemia de covid-19. “Nós levamos a merenda na casa dos alunos ou eles vinham buscar na escola. Além disso, criamos apostilas para que as crianças estudassem em casa”, cita.
Maria Regina observa que a educação é prioritária. “Nós sempre colocamos a educação em primeiro lugar. Acho que precisamos mudar a nossa visão e pensar mais no ser humano. Para isso, é necessário olhar além de nós mesmos e ver sempre o que precisamos melhorar”, comenta.
Apucarana lidera nas cidades maiores
Com 79% em matemática e 84% em português, os estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental I de Apucarana registraram o melhor desempenho entre todas as cidades com mais de 100 mil habitantes no Paraná.
A diretora-presidente da Autarquia Municipal de Educação (AME), professora Marli Fernandes, afirma que os bons resultados são relacionados a uma política de educação implantada desde 2013, que prioriza a formação desde os primeiros anos do ensino infantil.
“Implantamos em 2013 um currículo único no município, apostando na formação continuada dos professores e com uso de material didático de qualidade”, afirma.
Marli Fernandes destaca que os bons resultados no Índice de Educação Básica (Ideb) começaram na educação infantil. “A prova é aplicada no 5º ano, mas é preciso preparar os alunos desde lá atrás, na educação infantil. A gente não consegue apenas garantir uma nota boa quando os alunos chegam ao 5º ano. Na verdade, os estudantes são preparados desde os anos anteriores”, assinala Marli.
Ela afirma que a pandemia representou um desafio, mas que Apucarana conseguiu “segurar” a aprendizagem. “A média do Ideb caiu 1,2% nos estados. Em Apucarana, a redução foi de 0,3%”, compara.
Desempenho preocupa no ensino médio
Enquanto os alunos dos primeiros anos do ensino fundamental conseguiram bons resultados em alguns municípios, a situação é bem diferente nos anos finais do ensino fundamental e também no ensino médio da rede pública.
Nenhum município da região obteve desempenho no 9º ano do fundamental e no 3º do ensino médio considerado adequado. A situação mais preocupante é em matemática.
O percentual de aprendizado nessa disciplina está na faixa entre 5% a 8% na maioria dos municípios da região entre os estudantes que concluem o ensino médio. Nos anos finais do ensino fundamental, o desempenho varia entre 20% e 30%, dependendo da cidade.
O professor apucaranense João Francisco Morgado, que atuou por mais de 50 anos em sala de aula, afirma que a matemática perdeu o protagonismo na grade curricular, dando espaço a outras disciplinas. “Houve uma flexibilização muito grande envolvendo as disciplinas da área de exatas. Com isso, o desempenho dos estudantes caiu muito”, diz. Segundo ele, a matemática precisa voltar a ser “forte” nas grades curriculares, o que implica também, na opinião de Morgado, na melhor formação de professores.
Professor do colegiado de matemática do campus de Apucarana da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), Sérgio Dantas afirma que falta incentivo governamental para melhorar a educação, de modo geral. “As escolas não têm infraestrutura e os professores são mal remunerados”, diz.
Crítico do modelo cívico-militar, o professor da Unespar afirma que é preciso mais seriedade na gestão da área. “É preciso, em primeiro lugar, investir na escola: melhorar infraestrutura, destinar dinheiro para alimentação e equipar a escola tecnologicamente. Em segundo, pagar os professores com um salário digno e, terceiro, planejar e fazer formação continuada de qualidade em parceria com as universidades”, completa.
Por Fernando Klein