Antônio Sebastião Pereira, conhecido como Tunico, 54 anos, trabalha fazendo sepultamentos nos cemitérios de Apucarana (PR). Ele vem de uma família onde o ofício acabou passando de pai para filho. E a tradição continua. Tunico aprendeu a atividade com o pai dele, que foi servidor público municipal e atuou nos cemitérios da cidade até a aposentadoria. Agora, ele trabalha com o filho e a esposa na profissão. (Confira vídeo abaixo)
Quando questionado sobre como é a profissão de coveiro, ele é enfático ao dizer que não é esse o termo correto para sua profissão.“O coveiro, propriamente dito, não existe mais aqui na nossa cidade, pois coveiro é quem faz a cova para sepultar. Como hoje em dia não enterramos mais os mortos em cova, o nome correto da profissão é sepultador”, conta.
Ele afirma que o ofício é tradição na família. “Meu pai trabalhou 36 anos na prefeitura, boa parte desse tempo no cemitério. Depois, um dos meus irmãos mais velhos trabalhou por cerca de 30 anos também no cemitério, como coveiro. E hoje, eu trabalho junto do meu filho e da minha esposa também fazendo esse trabalho”, explica.
O sepultador conta que o ofício vai muito além de sepultar ou exumar um corpo. Ele conta que o desafio maior é lidar com as pessoas que perdem seus entes queridos. “O trabalho se inicia no atendimento à família. É sempre um momento muito difícil para a pessoa passar. Nós, profissionais, temos que ter um psicológico preparado, para, primeiramente ouvir a família que vai sepultar um ente querido”, destaca.
Na sequência, o trabalho é na preparação do túmulo. Algo que muitas vezes exige o trabalho de remoção e realocação de restos mortais já sepultados anteriormente. “Depois vem a preparação da sepultura, muitas vezes também fazer a remoção de restos mortais que já estão na sepultura, algo que fazemos com muito respeito”, afirma.
Ele afirma que durante o processo de exumação não recomenda que os familiares acompanhem, embora seja algo permitido. “Os falecidos merecem nosso respeito. A retirada de restos mortais é algo que eu não recomendo aos familiares acompanharem, pois o que será encontrado ali não remete mais às memórias daquela pessoa que faleceu”, diz.
Por fim, vem o sepultamento e o último adeus dos familiares e amigos. “Depois que a família vai embora, temos que retornar para concluir os trabalhos de limpeza e acabamento do túmulo” detalha.
O sepultador ressalta que, para ele, sepultamentos de crianças são sempre os mais difíceis. "Quando é uma pessoa que nasceu, cresceu e viveu a vida, é uma emoção. Agora, quando se trata de uma criança, que parte tão precocemente, a gente precisa engolir as lágrimas no momento, porque a dor é imensa", diz.
Sepultando um ente querido
O profissional conta que, ao longo da sua carreira, já passou por grandes perdas, mas escolheu fazer o sepultamento de entes queridos, inclusive o do seu próprio pai.
“Com ajuda do meu irmão e do meu filho, já sepultei o meu pai. Também sepultei minha sogra, uma cunhada e um grande amigo, que era um verdadeiro irmão para mim”, detalha.
Para ele, fazer esses sepultamentos, por mais que fosse algo doloroso, foi algo que ele fez como forma de prestar sua última homenagem.
Sepultamentos na pandemia
Tunico conta que o período mais difícil de realizar o seu trabalho foi durante a pandemia de Covid-19. “Como não podia ter velório e, devido a todo o protocolo de segurança para evitar contaminação, as pessoas não entendiam que precisávamos fazer o nosso trabalho e, muitas vezes, ficavam bravas com a gente, por não poderem dar seu último adeus da forma que desejavam”, explica.
Ele também diz que foi um período de bastante trabalho, pois o número de óbitos era grande “Fazíamos praticamente um enterro a cada hora”, lembra.
A visão sobre o luto
Em geral, o profissional relata que o último adeus é um momento cheio de emoção por parte dos presentes. No entanto, já presenciou momentos inusitados, como um sepultamento onde os familiares estavam sorrindo.
“A família da sepultada dizia que essa mulher não desejava tristeza no dia do seu enterro, e que gostaria que sua despedida fosse cheia de alegria e cerveja. Na sequência, após o sepultamento, os familiares dela foram para uma lanchonete beber e contemplar a vida”, conta.
Sobre lendas e casos sobrenaturais, o sepultador conta que não há nada a temer dentro de um cemitério.
“Aqui existe o bem e existe o mal. Mas uma coisa eu garanto: quem está aqui não vai lhe fazer mal. Eu recomendo que as pessoas façam uma oração para quem está sepultado aqui”, salienta.
Confira a reportagem:
Por Louan Brasileiro