Pandemia faz disparar número de casos de doenças mentais

Autor: Da Redação,
domingo, 22/05/2022
Média mensal de atendimentos em Apucarana subiu 95% em relação a 2021 e 856% a 2020

Os atendimentos de problemas de saúde mental na rede pública de Apucarana dispararam desde o início da pandemia de covid-19. A média mensal de consultas nas especialidades de psiquiatria e psicologia aumentou 95% neste ano em comparação com 2021 e impressionantes 876% em relação a 2020. 

Foram 2.062 atendimentos registrados pela Divisão de Saúde Mental em 2020, sendo 1.061 de psiquiatria e 1.001 de psicologia, o que representou uma média mensal de 171 atendimentos. Em 2021, no auge da pandemia, o número disparou. Foram 10.273 atendimentos (2.522 de psiquiatria e 7.751 em psicologia), uma média mensal de 856 consultas. No primeiro quadrimestre deste ano, a situação gerou alerta, com o registro de 6.681 atendimentos (1.961 de psiquiatria e 4.720 de psicologia), o que representa uma média mensal de 1.670 atendimentos de janeiro a abril.

A enfermeira Elisangela Gaspar Teixeira Castoldi, chefe da Divisão de Saúde Mental da Autarquia Municipal de Saúde (AMS), afirma que o aumento de consultas “é assustador” e está diretamente ligado aos distúrbios provocados pelo isolamento e pelos problemas sociais causados durante a pandemia. Ela assinala, porém, que o aumento exponencial também é reflexo do maior número de profissionais colocados pelo município para prestar esse atendimento psicológico. 

A Prefeitura de Apucarana realizou um chamamento público e tem hoje 12 psicólogos atuando diretamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS’s). Outros três devem  ser convocados. 

Elisangela observa que o número real de consultas é ainda maior, já que essa estatística leva em conta apenas os casos que foram encaminhados para atendimento no ambulatório do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Ivaí e Região (Cisvir) e no Hospital Regional do Vale do Ivaí (HRVI), em Jandaia do Sul. “São casos considerados mais graves, que exigem um acompanhamento demorado. As pessoas atendidas nos postos e que puderam ser liberadas não entram nessas estatísticas. É um número muito grande de pessoas que estão procurando ajuda”, assinala Elisangela. 

Ela explica que nos casos classificados como “psiquiatria” os pacientes são atendidos por um médico e precisam, na maioria das vezes, receber medicamentação. A situação envolve um diagnóstico mais específico. Já no caso da “psicologia” são atendimentos complementares, de longo prazo, de psicoterapia. 

Além dos psicólogos das UBS, Apucarana conta com uma rede de atendimento especializado em saúde mental que é prestado no Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (Caps IJ), destinado a crianças e adolescentes com suspeita de transtornos mentais graves; o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), especializado no atendimento de adultos em uso nocivo de álcool e outras drogas; e também faz o encaminhamento para ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Cambira, onde são atendidos adultos com diagnóstico ou suspeita de transtornos mentais graves. 

Os Caps de Apucarana funcionam de “porta aberta”, ou seja, qualquer pessoa é atendida sem hora marcada. No entanto, as pessoas também podem procurar as UBS’s, que estão preparadas para esse tipo de atendimento.

CRIANÇAS E ADULTOS 

Segundo a enfermeira Elisangela Gaspar Teixeira Castoldi, chefe da Divisão de Saúde Mental da Autarquia Municipal de Saúde (AMS), de Apucarana, os atendimentos aumentaram em todos os públicos. “Muitas crianças sofreram muito com o isolamento em casa, com quadros de ansiedade e depressão, além do luto pela perda de familiares”, comenta. Ela também afirma que há registro de muitos adultos que, após cinco ou seis anos de sobriedade, voltaram a consumir bebidas alcoólicas e usar drogas durante a pandemia. 

Além disso, ela cita o aumento dos casos graves de distúrbios psicológicos, com registros de automutilação, autolesão e de ideação e tentativa de suicídio. “O grande número de pessoas em sofrimento é preocupante e isso nos coloca em alerta”, diz. 

Elisangela assinala que as pessoas devem procurar ajuda e afirma que, muitas vezes, o problema vai além das questões de saúde e envolve problemas sociais, como o desemprego e a falta de acesso a itens básicos, incluindo alimentação e moradia. “A saúde não trabalha sozinha. É necessário toda uma rede de apoio, que envolve a assistência social e também as áreas de esporte e lazer”, completa.   

Foto por Silvia Vilarinho

Por, Fernando Klein