Desde que o exército russo cercou as fronteiras com a Ucrânia, autoridades internacionais estão apreensivas com o risco de invasão. Dentro dos limites do país, a população está em alerta para os desfechos que a crise diplomática pode tomar. A tensão, é claro, atinge também ucranianos que vivem fora do país, como é o caso do padre Eduard Tararuk, que há 10 anos atua como sacerdote da Paróquia Ortodoxa Ucraniana Proteção da Santíssima Mãe de Deus, em Apucarana.
O religioso, a esposa Olga e a filha Siuzanna são ucranianos natos e chegaram em Apucarana em 2011. À convite do TNOnline, o casal fez uma análise da situação atual e de como o povo ucraniano se relaciona com os vizinhos russos. O atual conflito não é o primeiro desde a independência da Ucrânia na década de 90. O presidente russo Valdimir Putin tenta impedir a entrada da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que reduziria a influência da Rússia sobre o país vizinho.
“Para nós, ucranianos, é uma guerra sagrada, pois estão lutando para proteger suas famílias, sua pátria, sua independência e seus valores espirituais. Do nosso lado está a verdade, e onde há verdade, existe Deus. Portanto, acreditamos que o Senhor ajudará a parar e a vencer o mal que está chegando à Ucrânia”, comenta o padre.
Para Olga, a situação em seu país é bastante tensa, mas ainda há esperança de que tudo seja resolvido de forma diplomática. “Quando se fala em guerra é quase impossível não ficar com medo e apreensivo. Porém, os políticos estão fazendo o possível para resolver essa situação por meio da diplomacia e evitar um derramamento de sangue. A Ucrânia é um país pacífico e nunca buscou a guerra”, analisa.
A ucraniana comenta também a repercussão do clima de tensão pelo mundo. “A Europa e o mundo civilizado estão assistindo a esses acontecimentos e estão convencidos da agressão da Rússia contra a Ucrânia. Os líderes europeus entendem que ao subjugar a Ucrânia, a Rússia não vai parar e vai continuar com a guerra. É por isso, que os aliados estão fornecendo toda a assistência militar e financeira possível ao nosso país, visando impedir essa invasão, caso ela aconteça abertamente”, esclarece.
A Ucrânia tem praticamente duas vezes o tamanho da Alemanha e faz fronteira com a Rússia e a Europa Ocidental, uma região considerada estratégica no mapa múndi da geopolítica.
“A Ucrânia tem uma longa história”, reflete padre Eduard. De fato, a capital, a cidade de Kiev, foi fundada no Século V (482). Em comparação, Moscou, a capital da Rússia, foi fundada no Século XII.
“Desde então, a Ucrânia tem uma localização geográfica conveniente, terras férteis e muitos minerais. Por isso, há muito tempo existem aqueles que querem se apossar e subjugar a Ucrânia para desfrutar desses benefícios. O povo ucraniano teve que se defender constantemente para preservar sua integridade e independência. E, como mostra a História, infelizmente, nem sempre com sucesso”, explica o religioso.
O país foi oficialmente ocupado pela Rússia em 1922. Em 1991, como resultado do colapso da União Soviética, a Ucrânia recuperou sua independência e tornou-se um País livre. “Em 1994 a Ucrânia renunciou às armas nucleares. Em troca, recebeu garantias da Federação Russa, dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha de que respeitaram a sua independência, soberania, integridade territorial e independência política, e que nenhuma de suas armas jamais seria usada contra a Ucrânia. O acordo relevante foi assinado em 5 de dezembro de 1994, em Budapeste. No entanto, ainda hoje a Federação Russa não abandona seus planos imperiais e tenta conquistar a Ucrânia, apesar das garantias e tratados assinados”, relata o padre.
Olga conta que desde a independência ucraniana, a Rússia vem travando uma guerra de informação contra a Ucrânia e quer governá-la por meio de chantagem e suborno. “Quando o povo ucraniano se rebelou contra a arbitrariedade de Moscou, em 2014, a Rússia passou para uma fase ativa de guerra não declarada, anexando a Criméia ucraniana. Ela também apreendeu parte das terras no leste da Ucrânia, nas regiões de Donetsk e Luhansk, e exportou a indústria ucraniana para a Rússia”, esclarece.
Até hoje, ainda conforme o relato do casal, soldados ucranianos estão morrendo todos os dias e civis estão sofrendo, enquanto a Rússia financia terroristas, fornecendo-lhes armas e enviando extra-oficialmente suas tropas para a guerra com a Ucrânia. Nos últimos meses, a Rússia acumulou mais de 100 mil soldados, muitos equipamentos e armas militares perto das fronteiras com a Ucrânia.
”Voluntários ucranianos e capelães da Igreja Ortodoxa Ucraniana desempenham um papel importante na luta contra os invasores russos. Eles constantemente apoiam material e espiritualmente os defensores de seu País. Nas Igrejas da Ucrânia, oram com frequência para que o Senhor Deus ajude a proteger a Ucrânia e salve a vida das pessoas inocentes. Afinal, a guerra é um mal que sempre traz morte, sofrimento, lágrimas de mães, órfãos e viúvas, destruição da economia, fome”, complementa Olga.
Texto, Fernanda Neme