Morre professor Boscardin, ex-preso político, aos 94 anos

Autor: Da Redação,
sábado, 22/05/2021
Morre professor Boscardin, ex-preso político, aos 94 anos

Morreu neste sábado (22), em Curitiba, o odontólogo, professor de inglês, intelectual, poeta, musicista e compositor Osiris Boscardin Pinto Cardine, aos 94 anos. Ele foi professor do Colégio Estadual Nilo Cairo e da antiga Faculdade de Ciências Econômicas do Paraná (Fecea) em Apucarana, atual campus da Universidade Estadual do Paraná (Unespar). Boscardin foi ex-preso político na Operação Marumbi, de 1975 no Paraná, durante  Ditadura Militar. A morte do professor, também conhecido como "Cardine", gerou grande comoção nas redes sociais. Até a publicação desta reportagem, a causa da morte ainda não havia sido divulgada pela família.

TrajetóriaSegundo informações divulgadas pelo militante dos direitos humanos Narciso Pires, em sua página pessoal no Facebook, amigo do professor, Boscardin nasceu em Curitiba e em 1947 integrou o PCB do Paraná, na célula Leocádia Prestes. Na década de 50 saiu de Curitiba e foi parar no Norte do Paraná. Em 1964 tinha o seu consultório em Peabiru que funcionava junto com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais da região. Mudou-se para Apucarana logo em seguida e atuou como professor de inglês. Acompanhou de perto a saga dos Meninos de Apucarana (dois assassinados pela Ditadura e os demais presos e torturados). 

Em outubro de 75 foi sequestrado, presos e torturados na Operação Marumbi do DOI-CODI, comandada pelo Exército.

Na época, Boscardin era professor do Colégio Estadual Nilo Cairo e da FECEA (Faculdade de Ciências Econômicas do Paraná) em Apucarana, e perdeu as aulas e a vida profissional. Não voltou mais para Apucarana Ficou preso no Quartel General da PM do Paraná, no Regimento Cel. Dulcídio e na Prisão Provisória de Curitiba (Penitenciária do Ahu), após ter passado antes pelos porões da tortura do DOI-CODI e da DOPS.

"Cardine enfrentou com extrema coragem os terríveis anos de prisão e munido de seu violino, a cada preso político libertado, brindava a despedida com o  som da Internacional Comunista, até ele mesmo ser libertado quase dois anos depois. Relembramos com emoção aqueles momentos, que vão se tornando cada vez mais distantes. Dos 65 presos de 1975, indiciados, somente seis, contando comigo, estão vivos. Lembro ainda da greve de fome de dez dias que fizemos na prisão da PM do Paraná em protesto pelos maus tratos. Cardine, doente, resistiu brava e corajosamente o desafio", relatou Narciso Pires.

Em 1977 foi julgado e absolvido, mas somente voltou a dar aulas no Estado em 1984. Aposentado, partiu para os Estados Unidos, para Dallas no Texas, onde tinha um filho morando lá há muito tempo. O professor retornou a Curitiba onde veio a falecer.