A apucaranense Marcela Brandino é trancista e, há cinco anos, ajuda mulheres pretas a recuperarem a autoestima, em um processo de transformação e auto aceitação. Marcela é professora no curso de penteados e tranças em cabelo afro ofertado pela Prefeitura de Apucarana, no norte do Paraná, em parceria com o Senac.
“A gente é forçada a alisar o cabelo para ser aceita. Com as tranças ocorre o contrário. A gente se aceita como é. Mas tem que partir da gente, para depois a sociedade nos aceitar do jeito que a gente é”, ressalta.
O cabelo crespo dos negros é historicamente alvo de comentários racistas. Mas para a auxiliar Ana Paula Fernandes, aluna do curso de tranças, o cabelo crespo representa o orgulho de ser quem ela é.
Quando criança, Ana Paula sofreu preconceito na escola por causa do seu cabelo. E após um processo de aceitação, ela aprendeu a se amar.
“Eu alisava meu cabelo desde os 8 anos, porque eu sofria muito preconceito na escola por ter cabelo crespo. Minha mãe não tinha tempo de pentear e eu ia com o cabelo amarrado. E para as pessoas que tinham cabelo liso já era motivo para tirar sarro e fazer piadinhas do meu cabelo”
- Ana Paula Fernandes, aluna do curso
Ana afirma que o curso a ajudou a recuperar a própria autoestima e também a da filha de sete anos, que também foi alvo de comentários preconceituosos na escola por conta do cabelo crespo. “Para a gente que sofre preconceito é muito difícil aprender a se aceitar para ensinar os filhos da gente a se aceitarem também”, comenta.
A oficina atraiu vinte mulheres interessadas a ofertar um serviço especializado para pessoas com cabelo afro. A cabeleireira Claudinéia Sabino é uma delas. “É uma grande oportunidade, pois vou começar a trabalhar mais com os cabelos étnicos e desenvolver um trabalho voltado a pessoas pretas”, afirma.
Quem não atua na área da beleza também pôde participar da oficina como é o caso da auxiliar administrativa Tânia Ribeiro da Silva. Ela destaca a importância do aperfeiçoamento de profissionais da beleza para atender pessoas negras.
“É muito importante porque nós encontramos muitos salões que tratam da beleza branca e do cabelo loiro. Poucos salões cuidam do cabelo negro, da pele negra, da mulher negra”, analisa. Assista:
Oficina possibilita nova fonte de renda
Além de promover o empoderamento da mulher negra, o curso possibilita a geração de emprego e renda
No total quatro cursos voltados a mulheres negras e afrodescendentes foram ofertados pela Secretaria da Mulher e Assuntos da Família, em parceria com o Senac, que além de sediar o curso, emite certificado de participação. O último, de penteados e tranças, começou na semana da Consciência Negra.
“Esses cursos farão parte de um cronograma anual da prefeitura Municipal através da secretaria da Mulher e Assuntos da Família, que preza por uma equidade de direitos que preza também em dar uma visibilidade maior para o embelezamento da mulher negra”
- Denise Canesin, Secretaria da Mulher e Assuntos da Família
Entre os cursos ofertados, estão o de embelezamento de cabelos afros, maquiagem para pele negra e costura/moda afro.
Por Cindy Santos