Dia das Mães: apucaranenses contam histórias de luta pelos filhos

Autor: Da Redação,
domingo, 12/05/2024
Amani Anuar Said com os quatro filhos

Cada uma da sua maneira, as mães apucaranenses Amani Anuar Said e Fabiola Zappielo compartilham histórias de luta pela maternidade. A primeira enfrentou o drama de quase perder o filho após ele sofrer uma parada cardíaca com apenas 32 semanas de gestação. A segunda aguardou sete anos na fila para realizar o sonho da adoção.

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Para a advogada Amani Anuar Said, a jornada de ser mãe começou com Aysha, de 15 anos, Rayhan, de 8 anos, e Nagylla, de 7 anos. No entanto, foi a chegada do caçula, Yasser Fakhir Said Prado, hoje com 3 anos de idade, que representou para essa apucaranense uma verdadeira provação. 

Ela precisou passar por uma cesariana de urgência. “Eu senti um desconforto abdominal repentino enquanto fazia as crianças dormirem. O Tiago (marido)  chamou o Samu, pois percebeu a gravidade da situação. Porém, foi difícil encontrar alguém para cuidar das crianças naquele momento, então segui sozinha na ambulância. No hospital, descobriram que o bebê estava em perigo devido aos batimentos cardíacos baixos e foi necessária uma cesariana de emergência. Devido às restrições da pandemia, Tiago não pôde me acompanhar no hospital”, relembrou.

Durante o parto de Yasser, ela enfrentou complicações graves. O bebê teve uma parada cardíaca, mas respondeu bem aos procedimentos de reanimação. No entanto, após o parto, foi necessário transferir o recém-nascido para a UTI neonatal do Hospital Evangélico em Londrina de helicóptero.

“Naquela hora, caiu a ficha que nem nome tivemos tempo de escolher, pois ele nasceu de 32 semanas. Ali, o Tiago veio com uma lista de nomes, me passou significados, eu estava tão dopada que nem me lembro do que ele falava só acenei que sim. Graças a Deus o nome foi bem escolhido. Logo o neném foi encaminhado ao Lagoão para sua primeira aventura, andar de helicóptero,” conta. 

Para Amani, ser mãe de quatro filhos é uma mistura de desafios e momentos preciosos. O apoio do marido, Tiago, e a solidariedade da família foram fundamentais para enfrentar os desafios que surgiram no caminho. “Para uma criança com parada cardíaca ele era um milagre perto de outros bebês” lembrou a mãe.

Hoje, olhando para trás, Amani se sente grata por cada desafio superado e cada momento de alegria compartilhado com seus filhos. Ela afirma que a maternidade é uma jornada de aprendizado constante.

“Sou grata demais. Eu achava que não conseguiria sobreviver com quatro pequenos, que não ia dar conta do trabalho, mas aprendi que, com rotina, fazer eles dormirem mais cedo, para descansar um pouco e ter um pai presente na vida das crianças, isso faz a diferença”, disse

Neste Dia das Mães, Amani celebra não apenas sua própria jornada como mãe, mas também a incrível luta pela vida de seu filho Yasser. “Yasser teve uma recuperação maravilhosa, hoje ele é o mais esperto dos quatro, coloca o povo aqui de casa no chinelo”, brinca, agradecida.

Sete anos na fila de adoção

A professora e intérprete de Libras, Fabiola Zappielo, passou sete anos na fila de espera para conseguir adotar o pequeno João Gabriel. Para ela, a adoção sempre foi um sonho. “Desde sempre quis adotar, mesmo com filhos biológicos”, afirma.

Maria Eduarda, de 21 anos, foi a primeira e única filha de Fabiola por algum tempo. Acontece que a professora desejava ser mãe novamente, porém, mesmo após três anos de tentativas, não conseguia. Foi nesse período que ela decidiu entrar para a fila de adoção. Porém, pouco tempo depois, nasceu Maria Vitória, agora com 12 anos.

Mesmo tendo realizado o desejo do segundo filho, Fabiola decidiu manter seu nome na lista de espera para adoção. “Ele (João) foi muito esperado por mim e pela minha família inteira. Pela minha mãe, irmãs, tias e primos. Ele sempre foi esperado e muito amado durante essa espera”, relembrou.

Apesar da alegria contagiante, os desafios não haviam terminado. João Gabriel era apenas um bebê quando se tornou parte da família Zappielo Camara. Foi a partir daí que Fabiola precisou entrar em um tratamento com medicamentos para receber e poder amamentar o filho.

“João veio neném e eu tomei uma medicação para o estômago que fez o leite descer. O médico receitou esse medicamento, porque o efeito colateral era a estimulação da prolactina”, contou. A prolactina é um hormônio que tem como principal função estimular a produção de leite pelas glândulas mamárias. “Ele disse que nunca tinha visto acontecer, mas que era para eu tentar. E realmente desceu o leite e deu tudo certo”, explicou a intérprete.

Seis anos depois, João Gabriel tem uma família que o ama sem limites e não mede esforços para que ele entenda quem é e de onde veio. “O João conhece toda a história dele. Ele sabe de tudo”, disse Fabiola ao contar que não esconde nada do filho, para que ele não tenha mágoa do passado. “Ele leva o passado no coração com muito amor e quer conhecer a mãe biológica um dia. E isso para mim é perfeito, porque eu também amo ela. Porque ela me deu ele, me deu o amor da minha vida”, declarou.

Mas nem tudo foram flores na adoção. Fabiola enfrentou muita crítica de diversas pessoas que garantiam que ela se arrependeria da decisão. “Falavam e ainda falam que não é certo adotar, porque a criança carrega os ‘genes’ dos genitores e então eu precisava ter ‘cuidado’”. Para ela, a visão nada mais é do que falta de sensibilidade e respeito. “Porque é uma criança, não importa a idade da adoção. Podemos, sim, moldá-las de acordo com nossos valores e preceitos. Se pensarmos assim, como mudaremos o mundo? Com tantas crianças sem família, e tantos pais querendo um filho para adotar?”, refletiu.

Fabiola acredita que é preciso começar a pensar na adoção de uma forma diferente, com mais amor e carinho. Só assim será possível entender que não há diferença entre os filhos. “Existem muitas pessoas, a maioria, que são pais biológicos e a minoria são adotivos. Mas no fundo são todos pais. Os biológicos conhecem o amor por um filho que nasceu da sua barriga e os pais adotivos conhecem o amor que nasceu do seu coração. Eu costumo dizer que conheço esses dois amores e posso dizer que é a mesma coisa. Não tem o que tirar nem pôr. O amor é o mesmo, da criança que nasceu do meu coração e da criança que nasceu da minha barriga”.

Por Lis Kato e Ana Quimelo