Os bloqueios promovidos por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas rodovias brasileiras começam a causar impactos e preocupar os setores produtivos da região. Empresas do vestuário de Apucarana e de móveis de Arapongas ainda não reduziram a produção, mas temem problemas com o atraso na chegada de matéria-prima e também dificuldades para enviar os produtos para os clientes caso os caminhoneiros não liberem definitivamente as estradas.
Os protestos começaram no último domingo (30), logo após a proclamação do resultado da eleição presidencial, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As manifestações ocorreram em pelo menos 21 estados e no Distrito Federal (DF), afetando a circulação de caminhões e também da população em geral. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou já na segunda-feira (31) que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e as Polícias Militares (PMs) estaduais tomassem medidas imediatas para desbloquear as rodovias do país. Mesmo assim, os atos continuaram.
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Nesta quarta-feira (2), o próprio presidente Jair Bolsonaro gravou um vídeo apelando aos apoiadores para que deixassem as estradas. No entanto, muitas rodovias ainda continuam bloqueadas pelo país nesta quinta-feira (3). No Paraná, o número de bloqueios diminuiu. Até o início da tarde, protestos ocorriam em três rodovias estaduais e nenhum em rodovias federais. No entanto, um bloqueio foi feito pela própria PRF na BR-376, em Tijucas do Sul (km 645), para evitar congestionamentos na serra sentido Santa Catarina. Isso porque, em Garuva (SC), ainda há manifestação.
O setor do vestuário de Apucarana é um dos mais afetados. A empresária Elizabete Ardigo, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuários de Apucarana e Vale Ivaí (Sivale), afirma que a maioria das transportadoras da cidade não está trabalhando por conta dos bloqueios. “As transportadoras estão evitando pegar a estrada por conta das rodovias fechadas pelos manifestantes, com medo de não chegar ao destino. A nossa expectativa é que a situação comece a ser normalizar a partir de hoje (quinta-feira)”, diz.
O grande número de bloqueios nas rodovias de Santa Catarina também afeta diretamente o setor, pois naquele estado estão os maiores fornecedores de malhas. As manifestações em São Paulo também geram alerta. Além da matéria-prima, a capital paulista também é importante comprador de produtos da cidade.
Elizabete afirma que o ritmo de produção não chegou a ser prejudicado. Mesmo afirmando que não pode comentar sobre política como presidente do sindicato, ela admite, no entanto, que os bloqueios nas rodovias contra o resultado das eleições causam prejuízos à indústria e preocupam.
Presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), o empresário José Lopes Aquino afirma que o setor ainda não foi prejudicado, mas que uma eventual continuidade dos atos nas rodovias pode impedir a chegada de matéria-prima e também o escoamento da produção das fábricas. “A maioria da matéria-prima nossa vem, principalmente, da região de Ponta Grossa e Curitiba. Houve atraso, mas os caminhões conseguiram chegar”, comenta. O mesmo ocorreu com as transportadoras que saíram com a produção para os seus destinos.
“Na realidade, esses atos são uma reação de uma ala mais inconformada. Nós, como democratas, temos que aceitar o resultado. Quem quiser protestar, pode fazê-lo, mas sem prejuízo das atividades e do direito de ir e vir das pessoas”, comenta Aquino.