Apucaranenses que vivem em Portugal relatam casos de discriminação

Autor: Da Redação,
domingo, 12/11/2023
Adriano e a esposa Solange moram há mais de 20 anos

O vídeo em que uma paulista sofre xenofobia no aeroporto de Porto, em Portugal, trouxe à tona um problema vivenciado por muitos imigrantes que moram na terra lusitana. A apucaranense Solange Machado Arruda, de 57 anos, foi embora para Portugal há mais de 20 anos em busca de uma vida melhor e apesar de amar o país – ela mora em Montemor, a 100 km de Lisboa –, ela lamenta de dois episódios xenofóbicos de que foi vítima. Um deles ocorreu há três anos quando a brasileira foi abordada em um café por um português que a agrediu verbalmente e a mandou “voltar para o Brasil”. Ela foi acolhida pelo proprietário do estabelecimento, que testemunhou a cena e chamou a polícia. Uma queixa foi registrada junto à Guarda Nacional Republicana. 

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O outro caso de xenofobia ocorreu no ambiente de trabalho dela. Solange conta que estava no supermercado quando um cliente chegou e disse que iria dar queixa contra o proprietário do estabelecimento pelo alto número de brasileiros trabalhando no local. São 17 no total. “Ele disse que os brasileiros estavam tirando o lugar dos portugueses. Meu patrão é português e gosta de contratar brasileiros. Ele diz que nós trabalhamos bem não faltamos ao trabalho”, comenta. “Muitos brasileiros são discriminados pelos portugueses nas escolas  faculdades, no trabalho  e até  mesmo  na rua, principalmente mulheres”, afirma. 

O esposo de Solange, Adriano José Arruda, de 51 anos, afirma ter sofrido preconceito por ser brasileiro diversas vezes, sobretudo no ambiente de trabalho. Mas que atualmente aprendeu a se defender e que esse tipo de ataque é feito por uma minoria. “Algumas vezes no próprio local de trabalho eu ouvia: 'volta para sua terra, homem'. Mas isso é uma minoria. Os portugueses são bem mais inteligentes e eles sabem que nós imigrantes viemos para somar”, pondera. 

Outra moradora do país é Clenir Ostermann, que vive em Leiria há 23 anos e disse que vivenciou alguns episódios "chatos" logo quando chegou no país. "Quando cheguei eu evitava falar para as pessoas que eu era brasileira, porque eles diziam que mulher brasileira é prostituta e o homem é vagabundo. Mas isso não é verdade. Hoje essa ideia está mudando porque vemos muitos profissionais brasileiros trabalhando aqui, dentistas, advogados e outros, o que antigamente era muito raro. Agora, em todos os lugares tem brasileiros, mas o preconceito ainda existe, infelizmente", comenta, acrescentando que o número de brasileiros no país também incomoda alguns portugueses. 

CASOS DE XENOFOBIA AUMENTARAM

Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), quase 40 mil brasileiros vivem legalmente em Portugal e representam cerca de 40% da população estrangeira. Só este ano aproximadamente 150.000 adquiriram um título de residência no país. Apesar dos casos lamentáveis, todos os entrevistados afirmam que a maior parte dos portugueses gosta e respeita os brasileiros. 

Entre 2017 e 2022, as denúncias de xenofobia contra brasileiros em Portugal cresceram 433%, segundo balanço da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial do país divulgado pela Uol Tab. 

ENTENDA

A brasileira estava descendo as escadas do aeroporto quando teve o pé atingido por uma mala de uma passageira que estava próxima. Ao expressar dor, a mulher portuguesa começou a proferir xingamentos, dizendo que a brasileira não era bem-vinda em Portugal. A brasileira imediatamente começou a gravar as ofensas.

As ofensas ganharam repercussão após o caso ser revelado pela Gazeta Bragantina. "Pode filmar o que você quiser, pode até pôr na internet. Sua porca. Vai para a sua terra, sua porca. Sou portuguesa de raça. Você que é brasileira. Vá para a sua terra. Estão invadindo Portugal, essa raça de filha da p***", disse a portuguesa.

Em Brasília, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, rebateu o ataque xenófobo. “Se for isso, nós temos direito por reciprocidade, porque em 1500 eles invadiram o Brasil e nós estamos de acordo. Concordo até que repatriem todos os imigrantes que lá estão devolvendo junto o ouro de Ouro Preto e aí fica tudo certo, a gente fica quite", disse Dino.

Assista o vídeo: 

Caso veio à tona nesta semana e trouxe outras situações de preconceito vivenciadas por brasileiros na terra lusitana tnonline