Escolher um lugar para recomeçar a vida. Mudar os hábitos, aprender um novo idioma, se adaptar. Parece ser difícil, mas foi a solução para muitos estrangeiros que vivem e trabalham em Apucarana. Segundo levando do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho de 2018, são 93 imigrantes que trabalham no mercado formal, mais que o dobro do registrado em 2017, quando eram 44. A maior força estrangeira na cidade hoje é formada pelos haitianos. São 55 trabalhando na cidade. Depois vêm os paraguaios, que somam 17 trabalhadores. A quantidade de imigrantes vivendo aqui, entretanto, é muito maior, pois nem todos estão no mercado de trabalho e o levantamento também não inclui crianças.
O distrito do Pirapó virou endereço de várias famílias haitianas. Um deles é Elan Mevil. Ele deixou trocou o Haiti pelo Brasil há cinco anos. Há dois anos mora com a família em Apucarana, onde encontrou um emprego de caseiro. “No nosso país existe uma crise política muito grande, o governo não quer fazer nada para o povo. lá. Lá não faz frio como aqui, mas o povo lá fica no sofrimento”, comenta Elan.
O haitiano conseguiu trazer a esposa e as três filhas. Elan considera Apucarana uma tranquila para se viver. Ele só pede mais oportunidade. “Eu gosto muito de morar aqui. O problema é o trabalho, os patrões buscam experiência e nós só queremos uma oportunidade”, relata.
Também há dois anos na cidade, Ecclésias Jean Louis conta que veio sozinho, direto do Haiti para Apucarana. Ele também mora no distrito. Aos 30 anos está fazendo curso técnico em química, trabalha em uma empresa e, aos poucos, tenta organizar a vida.“Minha vontade é de viver em meu País. Mas lá é tudo muito difícil. Meu pensamento fica em minha família e a saudade é bastante grande. Mas eu queria viver uma vida melhor, por isso escolhi o Brasil”, afirma. Ele admite que encontrou dificuldades. “O brasileiro é um povo que trabalha demais e só empurra o Governo para cima. Aqui eu ganho um salário mínimo. Uma casa para alugar, no mínimo custa R$ 500, então para sobreviver, para poder viver um pouco melhor, divido uma casa com três amigos”, afirma. O haitiano também fala em preconceito. “Existe o racismo sim. Não gosto dessa palavra, mas eu vou falar. No Brasil tem esse problema, mas não é como em outros lugares. Aqui somos relativamente aceitos, as pessoas não brigam, não nos afastam dos lugares”, acredita Ecclésias.
Comunidade se encontra na igreja do distrito
Com cerca de 200 haitianos vivendo no distrito do Pirapó, um dos pontos de encontro da comunidade é a igreja. Aos domingos, a pequena sala da Assembleia de Deus Ministério Apucarana fica cheia, com a presença de aproximadamente 60 adultos, fora as crianças, que também participam das celebrações e de uma escola bíblica.
O pastor é Michelet Bodouin, 39 anos. Após o terremoto que atingiu o país há 10 anos, ele precisou mudar os planos de vida. “Ficou tudo muito difícil após o terremoto, enfrentamos muitos problemas, não tinha trabalho. Há seis anos vim sozinho para o Brasil. Fiquei quase três anos em São Paulo e em 2016 vim para Apucarana”, conta Michelet.
Com o tempo ele trouxe a esposa e os filhos. Na família são seis pessoas. O filho mais velho, de 15 anos, ainda está no Haiti e o caçula, que irá completar três anos, é apucaranense. “Gosto muito dessa cidade. É uma cidade tranquila, tem trabalho e as crianças estão estudando. Meus filhos falam o português bem melhor do que eu. Uma já é bem brasileira, o outro nasceu em Apucarana. Agora só falta juntar mais dinheiro e trazer meu filho mais velho”, conta.Além de trabalhar em uma empresa, o haitiano também é pastor. O culto é celebrado em francês, língua oficial do Haiti. “Eu tenho muita fé, sempre fui próximo da igreja, me preparei e hoje sou pastor e posso fazer cultos para os haitianos, falamos na nossa língua e também em português. É sempre um momento muito especial. É muito bom estar vivo e viver feliz”, finaliza.
Mais gente chegando a cada dia
O pastor Paulo Denobi, de Apucarana, explica que conheceu os haitianos através de uma assistente social, que pediu para que ele que celebrasse um casamento, há uns dois anos. Foi quando percebeu o quanto são apegados a Deus e como gostavam de participar da igreja. “Nasceu um amor entres os dois povos, então decidimos juntar os ministérios e estamos andando juntos. Tem a barreira da língua, mas a gente vai conversando e tudo vai dando certo,” afirma o pastor que destaca que a comunidade está crescendo. “Alguns lutam para trazer os familiares, cada dia mais chegando gente. É realmente uma luta. Muitas empresas estão abrindo as portas para esse povo e é preciso que isso aconteça”, disse.
Massagista veio para cidade após tsunami
Foi também um desastre natural que trouxe Takafumi Ueda, de 37 anos, do outro lado do mundo para Apucarana. Nascido em Toyota, província de Aichi no Japão, viu sua vida mudar após o tsunami que atingiu o país em 2011. No mesmo ano se mudou para Apucarana com a esposa, que é brasileira, e a filha, que nasceu na cidade.
Para a entrevista, contamos com o apoio da esposa Jesana Gambi, pois Ueda ainda não fala português. Ele é massagista e garantiu que não falar a nossa língua não atrapalha durante o atendimento, pois ele só de sentir a dor, já consegue entender a pessoa.“Pela timidez oriental, não tenho muitas amizades, mas eu me sinto muito bem no ambiente familiar. Quando cheguei no Brasil, o que mais estranhei foram as mudanças no tempo. De manhã faz frio, de tarde calor depois chove. O que eu também estranhei foi o barulho. As pessoas falam alto, riem alto, buzinam, é muito diferente lá do oriente”, disse o massagista Ueda ainda contou que o que mais gostou em Apucarana, além do clima mais fresco, do vento da cidade, foi o calor humano das pessoas. “Aqui as pessoas são mais próximas, mesmo eu sem saber entender a língua, elas falam comigo, demonstram carinho e eu gosto muito de viver em Apucarana com a minha família”, comenta.