Verifica-se nos países subdesenvolvidos uma grande necessidade de emparelharem seu processo de crescimento e desenvolvimento junto aos países desenvolvidos, até para poderem tratar do comércio internacional sem grandes desnivelamentos. E, por que o processo de economia externa é tão importante dentro desse contexto? Porque em momentos de forte crise, as relações econômicas e políticas entre economias, ou nações tende a passar por fortes ajustes e, muito depende de como cada economia lida com a crise e seu planejamento de longo prazo.
Tratamos as economias externas como importantes bônus para o crescimento nacional e regional. Esse foco, na década de 1950, com o plano Marshall de recuperação econômica, foi muito importante para elevar a integração externa e o crescimento das nações. Havia, no entanto, um consenso de que as nações menos desenvolvidas deveriam integrar-se às mais desenvolvidas para emparelharem seus padrões de crescimento. O processo de integração passou a exigir dos países subdesenvolvidos um arranque no seu processo de crescimento e desenvolvimento – fundados em planejamentos integrados de todos os setores – porque os países menos desenvolvidos precisavam se aproximar das economias desenvolvidas e, com isso, entre muitas outras ações, estradas de terra passaram a ganhar asfalto ainda que para o volume de circulação fosse necessário apenas uma estrada de terra.
De novo, no pensamento, está presente a crise no país e no mundo. O que o mundo precisa acreditar, contudo, é que superado as adversidades como as geradas pela Covid-19, tem-se a possibilidade de retornar ao crescimento, que pode ser exemplar como aquele do pós-década de 50. O que nós estamos vendo recentemente, todavia, são o empobrecimento das empresas - com a redução de seus capitais empenhados nas bolsas -, o estancamento de suas atividades produtivas e a redução da renda de todos os trabalhadores. A consequência de tudo isso é a de que temos em 2023 um cenário que poderá impactar e comprometer seriamente os próximos 3 a 5 anos.
Este é o cenário da crise onde o PIB do país tende em 2023, a alcançar o máximo de 1%; as taxas de juros precisam se reduzir para compensar a queda nos investimentos; o volume de consumo pode se reduzir porque a taxa de salários está em queda; a inflação tende à sua estabilidade, embora possa sofrer alguns soluços de alta e de baixa em função de oscilações cíclicas setoriais, por descompasso no abastecimento, mas os preços tendem à normalidade em função da retração da renda geral. As taxas de investimentos que já estavam estacionadas pelas políticas públicas restritivas, tendem a se contrair ainda mais, se o setor público não atuar com firmeza com ações de políticas indutivas, é a crise que pode estacionar-se no colo de todos.
Os sinais desta severa crise – que teima em manter as empresas no limo do fundo do poço – o planejamento macroeconômico precisa ressurgir com força e mudar o drive das políticas restritivas para políticas indutivas, sem se esquecer da proteção salarial e encampar a responsabilidade de reorganizar a atividade produtiva. O planejamento precisa envolver todos os setores para, em primeiro plano, recuperar a atividade produtiva, voltando aos patamares anteriores da crise Covid-19 e, em seguida destravar e ampliar investimentos que ficaram parados no período de crise. Essa é a grande missão do planejamento macroeconômico, regional e local, para a recuperação do produto interno bruto e da renda das famílias passados o período de crise.
O crescimento poderá vir, mas não na velocidade que se esperava. O olhar do crescimento terá que se direcionar para a distribuição da renda, não basta somente crescer, mas é preciso aprimorar a divisão do bolo, para não se cair na armadilha da década perdida dos anos 80. As empresas tendem a passar por fortes rearranjos nos seus modelos de produção, o consumo das famílias tende a passar por severa verificação de não desperdícios – aquilo que sobra para alguém pode faltar para outro. – No campo da evolução política, fortes ajustes internacionais poderão ocorrer, é possível que ao final desta crise econômica, algumas nações saiam com maior poder de mando que outras e tenha-se novas realidades.
Poderão ocorrer alguns processos de união ao longo do caminho para debelar a crise, bem como poderão ocorrer fortes obstruções e rupturas, que separam grandes áreas produtivas de grandes áreas de consumo. A política interna das nações – com seus embates – pode impactar fortemente no processo de reorganização de todo sistema produtivo. Como a crise é mundial, pode aparecer pouca gente com muito e muita gente sem nada e isso tende a ser a senha para novas estruturas e novos rearranjos nos próximos anos. Um despertar para uma nova realidade de produção e consumo. As economias que não estão preparadas para o enfrentamento da crise, ou que reúnem menores condições financeiras e de aporte a indução de investimentos setoriais, poderão ter seus períodos de crise alongados com reduzido crescimento de seu PIB. O desgaste emocional e físico está presente principalmente em setores de tecnologia madura e que não acompanham o processo tecnológico; mas, manter um volume de investimentos públicos significativos como EUA e China, pode ser importante e necessário para debelar o processo de crise.
Passado o período de crise, algumas regiões melhor preparadas passarão a ganhar aporte de investimentos empresariais à frente de outras. Os governos regionais poderão enfrentar fortes migrações e precisam trabalhar a interiorização dos investimentos, para que as ilhas de pobreza não se proliferem. A educação precisa ser recuperada, em todas as instâncias e receber maiores aportes de investimentos, como uma forma de levar o processo de desenvolvimento dos grandes centros para o interior; na saúde pode-se internalizar novos protocolos de ações e de integração regional e de preferência diante das políticas governamentais. Tudo isso é um conjunto que está sofrendo fortes impactos de uma pandemia que mexeu com a vida de todos, que está impactando no processo de emprego, na criação, geração e detenção da renda e, nos hábitos e consumo das famílias. Vai impactar na competitividade das economias em relação ao mundo externo, tem-se que desenvolver novas formas criativas de investimentos, tudo para que a vida – com planejamento no longo prazo – possa voltar à fluir com crescimento e prosperidade com recursos presentes em todos os setores da sociedade.
Por Paulo Cruz Correia