A crise de 1929, ocorrida pela desmedida desregulamentação do sistema financeiro, quando o crédito era tomado para investimento direto em ações na bolsa, levou à valorização fictícia das ações das empresas, não convalidadas pela evolução da produção e mercado das empresas, com isso a pirâmide ruiu e o sistema caiu. A saída foi injetar recursos extras do tesouro para novos créditos bancários e, por consequência, restabelecer o crédito reativando o mercado consumidor. No Brasil, nesse mesmo período, para vencer a crise, foi necessário comprar e queimar o café, para manter a atividade econômica de oferta e demanda em funcionamento. E qual foi a oportunidade que a economia brasileira viu naquele momento? Foi o nascimento da Indústria, por meio da substituição das importações que vinham de fora por produtos produzidos pela economia local. Era a hora do nascimento da Indústria.
Na crise de 2008, o crédito desmedido para o setor imobiliário nos EUA levou a crise para os bancos e, a crise de crédito dos bancos levou a crise para as empresas, a crise de crédito das empresas levou a crise à porta dos trabalhadores que levou a crise ao mercado consumidor e a corrente derrubou a expansão da economia americana. Sem mercado consumidor, a economia paralisa. Na crise de 2008, bastava estabilizar novamente o mercado de crédito, que a economia se restabeleceria. O perigo era com a quebra de alguns bancos e o efeito dominó se generalizar. A saída foi o banco central americano comprar os títulos dos bancos devedores e, com isso, estatizar a dívida e salvar o mercado financeiro e, por consequência restabelecer o mercado de crédito. Isso também pode ser feito hoje no Brasil, mas a política macroeconômica está em sucessivos desencontros e não existe disposição para tal. Emissões também podem ser feitas, para aliviar a dureza da economia, sem risco de inflação, visto que a ociosidade da indústria está em 50% e os salários das famílias se reduziram em 35% nos últimos 5 anos.
A crise atual muda a configuração da economia internacional e da economia nacional e algumas tendências efervescentes passam a ganhar notoriedade. Têm-se comparado a crise atual a uma guerra. A grande diferença é que no período de guerra todos possuem ocupações, produzindo suprimentos e material bélico para que o armamento não falte. Nesta crise, ocorre o contrário, muitos não podem ir para seus locais de trabalho, porque necessita-se evitar aglomerações e o contágio por uma doença que ainda não tem cura. Essa é a grande diferença, a crise não vem só do sistema ou mercado de crédito, nem só do sistema ou mercado financeiro, nem só do sistema produtivo e, nem só do mercado consumidor. À medida, no entanto, que ela impede o trabalho de toda a massa, ela atinge fortemente todos os segmentos que levam a uma corrente negativa: sem produção, sem salários, sem consumo e sem investimentos futuros. O achatamento salarial e a retirada de renda dos trabalhadores são um grande tiro no pé porque aniquila o mercado consumidor das empresas.
Em 1930, e em 2008, salvando o mercado de crédito, com o BACEN comprando os títulos dos bancos e restabelecendo o crédito, a economia retornou ao seu equilíbrio. Atualmente, a ordem da crise é diferente da de 2008, mesmo que salve o mercado, a economia pode não voltar porque as pessoas estão em quarentena, para não se submeterem ao contágio, diante da não vacina e das precárias condições de saúde do sistema público. Não se trata de salvar a economia ou salvar vidas – dadas as configurações da crise – salve-se o sistema financeiro ou se salve o sistema de crédito das empresas, ainda assim a recessão está instalada. Em primeiro lugar, é necessário garantir a renda das famílias, seja pelo auxílio emergencial, ou por cheques depositados nas contas das famílias como feito nos EUA. E as empresas precisam de crédito a Juro 0 com carência e longo prazo. Isso, contudo, muitas também não conseguem porque não têm garantias para oferecer aos bancos. O resultado é o “salve-se quem puder”.
A Inteligente Reversão do Processo de Crise, dadas as suas diferenciadas configurações, deve em contrapartida estar pautada em ações estratégicas que devem vir do local, de organização do empresariado, das micro, pequenas e médias empresas, dos MEIs e vendedores informais, o quanto possível, a fim de que consigam entregar aos clientes seus produtos, por meio de ações de atuação que envolvam grandes atuações em parcerias. Essas ações envolvem um Pacto Social de Sobrevivência onde cada empresário ou empreendedor informal faz parte do todo. O pacto social, por meio dessa estratégia de ação, visa desenvolver uma estratégia social local para enfrentar a crise, olhando para a sobrevivência de empresas e dos empregos locais, para não deixar parar e, no momento adequado, facilitar a retomada. É a manutenção da atividade econômica mínima: do município, do bairro e das subprefeituras nas grandes cidades.
Essa pode ser uma ação estruturada em cada município, ou bairro, ou subprefeitura, para manter o consumo mínimo e a manutenção dos empregos, aproximando produtores e consumidores. Dá-se por meio de uma estratégia de utilização do site da associação comercial municipal, que unifica a todos interessados em demandar e ofertar produtos, para a facilitação de transações de compra e venda. Para a operação: a associação comercial deve criar equipes preparadas para alimentar o site. Pode-se articular por meio de parcerias com as Universidades locais, principalmente com cursos em Economia, Administração de Empresas e Engenharia de Softwares que podem auxiliar, com recursos humanos capacitados, para agilizar o processo de cadastramento de produtos e de gerenciamento das ações em rede, conforme as necessidades surgem. Nesse site, deve-se juntar todos: logistas, produtores e consumidores municipais, separados por classes de produtos ou segmentos produtivos, tudo para facilitar os fluxos, onde serviços públicos também podem ser demandados. Com isso, pode-se atender ao município, polos e mini polos com novas ferramentas de vendas, onde tudo se ache e todos se encontrem.
A Associação Comercial Local é a organização de referência que envolve a maioria dos agentes locais, para um planejamento de integração digital, do maior ao menor empresário e, do maior empreendedor ao menor vendedor ambulante. O passo seguinte é a divulgação em massa do projeto que pode ser por meio de carros de sons, rádios e TVs. A metodologia de ação pode ser desempenhada nos moldes: planeja – executa – avalia; replaneja – executa – semanalmente. O chamado do site pode ter um slogan comum como: Todos Pela Cidade X. O cadastramento pode iniciar-se pelas empresas, cadastrando-se os produtos, os serviços disponíveis e os entregadores, preparando-se as equipes e o local adequado para o despacho de mercadorias e a comunicação de serviços demandados. Equipes orientadas devem estar a postos para receber demandas de empresários e consumidores.
As cidades pequenas e médias têm vantagens neste modelo, porque possuem um mercado diversificado onde, de tudo, se encontra. Os cuidados sanitários e de prevenções devem adequadamente ser tomados. Neste momento de agonia para empresários e trabalhadores, este é um modelo que, adequadamente operado e aperfeiçoado à medida que o projeto avança, pode barrar as falências e evitar as demissões e, tornar as cidades mais cooperativas e competitivas no futuro.