Numa aula inspiradora ministrada pelo Prof. Moacir Piffer aos alunos da pós-graduação na Unioeste de Toledo, foi apresentada uma reflexão profunda: “Quanto mais conhecimento adquirimos, mais preocupações teremos”. Essa afirmação, à primeira vista contraditória, encerra uma verdade fundamental sobre a condição humana e a sociedade em que vivemos. O professor complementou com uma provocação ainda mais instigante: “Quem não quiser ter preocupações deve evitar o conhecimento e continuar ignorante”. Esta provocação é uma luz que ilumina as escolhas diante de nós: a busca pelo conhecimento ou a resignação na ignorância.
Vivemos em sociedades onde o poder é frequentemente perseguido não como um meio para um fim nobre, mas como um fim em si mesmo. Esse desejo pelo poder, desvinculado de um propósito maior de servir à comunidade, resulta em algumas lideranças que, longe de buscar a justiça social através de políticas públicas eficazes, buscam apenas a perpetuação de seus status e benefícios. O comentário do professor Piffer ressoa profundamente nesse contexto, sugerindo que o conhecimento nos traz a responsabilidade de reconhecer e enfrentar as injustiças que permeiam nossa sociedade.
Exemplos não faltam de sociedades assoberbadas por dificuldades, onde o medo dos governantes é palpável e, por isso, oprimem o seu povo que vive na esperança de que sobras da abundância dos ricos caiam em suas mãos. Nessas sociedades, os governantes, longe de se preocuparem com o bem-estar de todos os cidadãos, empenham-se em maquiar a realidade de suas práticas nefastas. A triste verdade é que, embora nem todos os governantes sejam desprovidos de preocupação genuína com seu povo, e nem todas as sociedades sofram nesse grau dos exemplos, a maioria parece estar presa nesse círculo vicioso.
A luz no fim do túnel, como Piffer insinuou, é o conhecimento. Através dele, podemos começar a enfrentar as mazelas sociais perpetuadas por gestões públicas inadequadas. No entanto, enfrentamos um obstáculo desanimador: o abandono da educação. Ano após ano, testemunhamos um declínio no número de jovens engajados em sua própria formação educacional. Desde o ensino fundamental até as universidades, a tendência é preocupante, com muitos abandonando os estudos e, consequentemente, a oportunidade de adquirir conhecimento.
Neste contexto sombrio, não posso deixar de evocar a memória do Iluminismo, aquele movimento que revolucionou o pensamento e a sociedade, impulsionando a humanidade para frente com suas ideias de razão, ciência e, acima de tudo, conhecimento. Parece que estamos, de forma irônica, necessitando desesperadamente de um novo Iluminismo, uma renovação do compromisso com o conhecimento como a luz que pode nos guiar através da escuridão da ignorância e da complacência.
Recorro às palavras de Immanuel Kant, uma figura central do Iluminismo, que desafiou o mundo com o imperativo “Ouse saber”. Esse encorajamento nunca foi tão pertinente. O conhecimento não é apenas uma ferramenta para o desenvolvimento pessoal; é um farol que ilumina o caminho para uma sociedade mais justa, equitativa e humana. Precisamos nos preocupar, e para isso, cada vez mais, precisamos de mais conhecimento. O conhecimento nos equipa não apenas para enfrentar as preocupações que vêm com ele, mas também para transformar essas preocupações em ações significativas. Portanto, que nos aventuremos corajosamente na busca pelo conhecimento, pois, como Kant nos lembra, é através dele que encontraremos a coragem de enfrentar e moldar o mundo em que vivemos.