VANDRÉ FONSECA
MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - A decisão será no próximo domingo (27), mas nas ruas os próprios eleitores afirmam ver poucos sinais de que o Amazonas está às vésperas do segundo turno das eleições suplementares, que escolherão o novo governador do Estado.
O pouco tempo para candidatos prepararem as campanhas e a desconfiança da população são apontados como causas da falta de empolgação dos eleitores com a disputa entre o ex-governador Amazonino Mendes (PDT) e o senador Eduardo Braga (PMDB).
Com o prazo curto, os candidatos tiveram também período menor para buscar recursos.
Isso, associado à proibição de doações feitas por empresas, resultou em orçamento escasso nos comitês, menos viagens ao interior e redução na contratação de cabos eleitorais. Com o cenário, os candidatos não conseguiram esquentar o clima de campanha.
"Estou achando [a campanha] bem tranquila, não estou vendo aquele pessoal com bandeira nas ruas", diz o consultor de vendas Geylker Carvalho, 43, que ainda está indeciso sobre a escolha. "Nem parece que tenho de votar domingo."
As eleições suplementares para o governo do Amazonas foram determinadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em maio, após ser confirmada a cassação de José Melo (PROS), então governador.
Nove candidatos disputaram o primeiro turno, no dia 6 deste mês. Amazonino foi o mais votado, com 38,77% dos votos válidos. Braga, com 25,36%, ficou em segundo.
Coordenador de marketing da campanha de Amazonino, Marcos Martinelli diz que o pouco tempo de preparação dificultou o trabalho. Entre os favoritos, o ex-governador foi o último a confirmar a candidatura.
"Foi uma dificuldade maior para arregimentar pessoas, montar estruturas e conseguir organizar núcleos para chegar à periferia e ao interior", afirma Martinelli.
Para Afrânio Soares, diretor da Action Pesquisas, que presta serviços à coligação de Eduardo Braga, a campanha pegou os políticos de surpresa. Nem mesmo o senador, autor da ação que resultou na cassação de Melo, estava preparado, segundo o assessor.
A expectativa era que a sucessão no governo estadual ocorresse só no ano que vem. "Aí, de repente, vieram as eleições", diz Soares. "O que eu costumo presenciar é uma preparação anterior de mais de seis meses."
NULOS E BRANCOS
Já no primeiro turno, o eleitor demonstrava pouco interesse na campanha e nos candidatos.
Abstenções somadas a votos brancos e nulos superaram, com folga, a votação do primeiro colocado. No total, 849.528 eleitores deixaram de escolher um dos candidatos no primeiro turno, enquanto Amazonino Mendes obteve 577.397 votos.
No primeiro turno da eleição para o governo em 2014, brancos e nulos representaram pouco menos de 9%. Desta vez, chegaram a quase 16%.
Para Martinelli, a corrida pelo governo demorou a chegar ao interior porque a maior parte dos municípios recebe programação de TV e rádio gerada em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Além disso, afirma o representante da campanha de Amazonino, foi "uma campanha solitária", sem candidatos a deputados ou vereadores, considerados "puxadores de votos".
"Na nossa pesquisa, mais de 70% das pessoas de Manaus viram algum programa ou material de campanha. Ou seja, 30% das pessoas não se interessaram pela campanha."
Já para Soares, da chapa adversária, o voto branco ou nulo é um recado das urnas. "Na cabeça do eleitor, é um protesto", diz.
'SÓ PROMESSA'
Para a empresária Cláudia Teles, 30, é bom que a movimentação das ruas esteja bem menor do que em campanhas passadas. "Eles melhoraram essa situação de boca de urna, não estão fazendo aquela coisa horrorosa, deixando sujeira na cidade", afirma.
A autônoma Maria Lima da Silva, 52, demonstra até irritação com a obrigação deste domingo. Diz que só vai votar para manter a documentação em dia. "Foi uma coisa que pegou a pessoa de surpresa, porque não era para ter."
Já o feirante Éricles Silva dos Santos, 18, nem tirou o título eleitoral. "Acho melhor pagar R$ 3,50 do que votar em uma coisa que é só promessa."
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