BELA MEGALE E RAFAEL NEVES
BRASÍLIA, DF, E CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Mais de dois anos depois de ser delatado pela primeira vez, o ex-líder do PT na Câmara dos Deputados Cândido Vaccarezza foi detido pela Operação Lava Jato na manhã desta sexta (18).
A Polícia Federal deflagrou duas fases ao mesmo tempo: a 43ª, chamada de "Sem Fronteiras", e a 44ª, batizada de "Abate". Vaccarezza está envolvido nesta última.
Segundo a força-tarefa, o ex-deputado recebeu pelo menos US$ 478 mil (R$ 1,51 milhão no câmbio atual) em espécie por contratos da Petrobras com a Sargeant Marine, uma empresa norte-americana que produzia asfalto para a estatal.
Segundo as investigações, Vaccarezza tinha ascendência em negócios da Petrobras ligados à Diretoria de Abastecimento, que estava sob influência do PP, e "apadrinhou" 12 contratos de fornecimento de asfalto, num total de US$ 180 milhões.
Além de registros de visitas do ex-deputado à sede da Petrobras, no Rio, a PF colheu e-mails entre Vaccarezza e Jorge Luz, lobista citado por vários delatores e preso na 38ª fase da Lava Jato.
Nas mensagens, Luz -que teria mediado os contatos entre a Sargeant Marine e a Petrobras- e Vaccarezza acertam detalhes de viagens que o ex-deputado fez aos EUA.
Em ambas, em 2009 e 2012, Vaccarezza teria visitado a matriz da Sargeant Marine, que fica na cidade.
Ex-petista, ele atualmente estava no Avante, novo nome do PT do B.
Outro indício foi um pendrive encontrado na casa de Othon Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, preso em 2015 e já condenado pela Justiça Federal do Rio de Janeiro a 43 anos de prisão.
No pendrive havia reproduções de e-mails com discussões sobre o lobby que se fazia envolvendo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa para que a Sargeant Marine fosse contratada.
Entre os participantes das reuniões estariam dois políticos identificados pela sigla "V1" e "V2", e Vaccarezza seria um deles. Na casa do ex-deputado, em São Paulo, foram encontrados R$ 122 mil em espécie. Segundo a PF, ele não soube explicar a origem do dinheiro.
O esquema foi descrito pela primeira vez por Costa ainda no final de 2014, mas as citações a Vaccarezza -que ainda era parlamentar à época- foram consideradas superficiais.
"A dificuldade de se comprovar essa solicitação de propina, que teria sido em espécie, fez a investigação seguir por quase dois anos", diz delegado Felipe Pace, da PF.
As investigações apontam que Vaccarezza era procurado por funcionários de baixo escalão da Petrobras "para que os cargos fossem ocupados com pessoas dispostas a defender o então governo e o Partido dos Trabalhadores", escreveu o juiz Sergio Moro ao autorizar a prisão.
"Isso mostra que ao menos esses funcionários também tinham conhecimento do loteamento político", diz Pace.
OUTRO LADO
Em nota, o advogado de Vaccarezza, Marcellus Ferreira Pinto, negou que o ex-deputado tenha intermediado negociações entre empresas privadas e a Petrobras.
A defesa afirma que a prisão foi decretada "com base em delações contraditórias, algumas já retificadas pelos próprios delatores".
"A busca e apreensão excedeu os limites da decisão judicial, confiscando valores declarados no Imposto de Renda e objetos pertencentes a terceiros sem vínculo com a investigação. A defesa se manifestará nos autos e espera que a prisão seja revogada e as demais ilegalidades corrigidas", diz o advogado.
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