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Governo se vê mais forte para superar novas denúncias de Janot

DANIELA LIMA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Michel Temer iniciou aquela quinta-feira, 18 de maio, com uma conversa pragmática. Um de seus auxiliares mais fiéis disse que ele seria "triturado" pela imprensa, que sua família, seus aliados, todos seriam escrut

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 06.08.2017, 08:20:04 Editado em 06.08.2017, 08:20:04
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DANIELA LIMA

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Michel Temer iniciou aquela quinta-feira, 18 de maio, com uma conversa pragmática. Um de seus auxiliares mais fiéis disse que ele seria "triturado" pela imprensa, que sua família, seus aliados, todos seriam escrutinados com lupa. Finalizou o diagnóstico com uma pergunta: "O sr. quer passar por isso?".

Ainda atordoado, Temer parecia não saber. Era o dia seguinte à explosão da delação da JBS, publicada pelo jornal "O Globo". Na noite do dia 17, um assessor levara a notícia ao seu gabinete.

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O título dizia que o presidente havia sido gravado dando "aval" para Joesley Batista impedir a delação do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com propina.

Temer convocou os auxiliares mais próximos: Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo). Foi alvo de um interrogatório.

"Esteve com ele?", quiseram saber."O que foi que disse?", insistiram. Temer garantiu que o relato da Procuradoria não era fiel às suas palavras, sustentou não ter dado aval a suborno, mas não conseguia detalhar a conversa. "Estava tão cansado aquela noite... Não lembro exatamente o que falei."

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No dia seguinte, o peemedebista era dado como um homem politicamente morto. Perguntou quais eram suas opções. Via a renúncia como admissão de culpa. Descartou a ideia. Ouviu sugestão de convocar eleições diretas.

Seria um tapa no empresariado, na mídia e nas elites, que temiam o retorno do ex-presidente Lula. Quando a ideia pareceu ganhar força, Moreira Franco interrompeu.

"Isso aqui é guerra, estão entendendo? É guerra política. Vamos lutar. Ajeita daqui, ajeita dali e vamos passando." Temer concordou. Recebeu um esboço do que seria seu primeiro pronunciamento após o início da crise.

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No fim da tarde, chamou a imprensa. O primeiro rascunho de seu discurso não tinha a frase que ganhou as manchetes dos jornais: "Não renunciarei".

Na Esplanada, o anúncio da delação da JBS provocou um abalo sísmico. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, olhou a notícia à noite e se preparou para um dia seguinte ingrato no mercado.

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Naquela quinta, dia 18, Meirelles amanheceu na mesa de operações do Tesouro.

"Trabalhei anos em bancos. Se tem uma coisa que eu sei é comandar uma mesa", disse. Havia definido uma estratégia. "O mercado queria liquidez", analisou em conversa recente. Minimizou danos no curto prazo e distanciou-se da agonia política.

Descobriu nos desdobramentos da crise um novo aliado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os dois não eram próximos, mas foram estreitando contatos à medida que a asfixia de Temer se agravava.

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Maia intensificou contatos com empresários e banqueiros. Se o presidente caísse, ele herdaria o Planalto. Meirelles era o homem de confiança do mercado. Logo, Maia precisava dele. Nasceu a versão de que, acontecesse o que acontecesse, o ministro não deixaria a Fazenda.

O governo passou a primeira semana como pôde. Atacou a qualidade da gravação. Contratou perícia para o áudio. Insinuou que houve uma conspiração para derrubá-lo.

Para reagir, Temer acenou para o espírito de corpo dos parlamentares com o raciocínio de que, se a Lava Jato derrubasse um presidente com tamanha facilidade, não haveria mais obstáculos.

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Duas semanas depois, os telefones do Planalto ainda tocavam pouco. Praticamente não havia convites para eventos. Auxiliares que entravam no gabinete por vezes encontravam o peemedebista sozinho, lendo.

Temer passou a operar por etapas. Era preciso 1) frear o namoro do mercado financeiro com Rodrigo Maia e 2) mostrar que ainda era capaz de aprovar medidas.

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A reforma trabalhista tramitava no Senado. Renan Calheiros (AL), então líder do PMDB e desafeto histórico do presidente, fazia duras críticas ao texto e ao Planalto. Temer se fiou em Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo. Primeiro ameaçou sacar Renan da liderança.

Quando viu que só promessa não surtiria efeito, encurralou o alagoano, que acabou renunciando ao cargo.

A reforma trabalhista foi aprovada no Senado em 11 de julho. O governo capitalizou a vitória, mesmo sabendo que o texto --muito querido pelo empresariado-- tinha força própria no Congresso.

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Meirelles fez o mesmo, para o seu público. Auxiliares lembram uma conferência telefônica com mais de 1.400 investidores. O ministro falou como nunca naquela semana.

Começou aí a operação que acabou baixando o balão de Rodrigo Maia. O presidente da Câmara publicou em suas redes sociais texto em que dizia que não aceitaria nenhuma alteração na reforma aprovada pelo Congresso.

Com o gesto, desautorizava o governo, que havia prometido enviar uma medida provisória para amenizar trechos da reforma. A iniciativa foi recebida com desconfiança pelo mercado. No Senado, Casa que havia negociado as salvaguardas com Temer, o deputado foi muito criticado.

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Ganhou força a tese de que ele estava em campanha pela queda do governo. Irritado, Maia se afastou do presidente. Temer mergulhou na política miúda.

Falou com centenas de deputados. Disse a eles que era sua honra o que estava em jogo na votação que poderia barrar a denúncia de Rodrigo Janot. Maia foi convencido a baixar a guarda e, na reta final, decidiu ajudar Temer no que podia.

Foi convencido por aliados de que, se o governo tivesse que cair, cairia de maduro. Ele não precisava se mover.

Viu na profunda divisão do PSDB uma oportunidade para firmar sua sigla, o DEM, como parceiro prioritário do PMDB. O presidente estava de volta ao jogo.

Tinha, na linha de frente, Eliseu Padilha. Típico operador de bastidores, o ministro tem o "dom" de mapear anseios de parlamentares. Na Casa Civil, toca nomeações e liberações de verba. Sabe quem quer o quê e onde.

O Planalto iniciou uma contagem quase diária. O presidente queria alcançar 260 votos. Maioria absoluta da Câmara. O suficiente para aprovar leis complementares.

Na quarta, 2 de agosto, o governo entrou em campo com tudo. Ministros foram exonerados para voltar à Câmara. Lá, não só deram voto a Temer, como ouviram mais pedidos dos deputados.

Imbassahy levou ao plenário a lista de emendas do governo. Anotava pedidos e conferia liberações. Por volta das 16h, Temer telefonou. "Presidente, o jogo aqui vai ser grande", ele disse, tentando tampar a boca com a mão.

Na Fazenda, Meirelles projetava o dia seguinte. "Quando resolvermos essa questão", disse a auxiliares, "vamos centrar fogo nas reformas". Temer teve 263 votos.

Meirelles pregou a urgência da reforma da Previdência. Maia disse que se comprometia a votar o texto ainda em setembro. A primeira "questão" estava resolvida.

Rodrigo Janot, que deixa a chefia da PGR em setembro, promete nova denúncia. A bala de prata? "Se vier, a gente vê", disse Moreira, semana passada, questionado sobre o assunto. Ajeita daqui, ajeita dali... Eles vão passando.

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