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Publicitário preso é elo de caixa 2 para ministro e senador, diz delator da JBS

RUBENS VALENTE BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Preso nesta quinta-feira (27) pela Operação Lava Jato junto com o ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine, o publicitário André Gustavo Vieira da Silva aparece nas delações de executivos da JBS como um s

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 27.07.2017, 17:45:09 Editado em 27.07.2017, 17:45:09
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RUBENS VALENTE

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Preso nesta quinta-feira (27) pela Operação Lava Jato junto com o ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine, o publicitário André Gustavo Vieira da Silva aparece nas delações de executivos da JBS como um suposto elo para o pagamento de caixa dois a políticos do Pernambuco, incluindo um senador, um ministro e um governador de Estado.

Segundo o acordo de colaboração premiada fechada com a PGR (Procuradoria Geral da República) pelo diretor de relações institucionais da J&F, que controla a JBS, Ricardo Saud, durante a campanha eleitoral de 2014 a empresa fez pagamentos em esquema de caixa dois tanto para André Silva quanto para uma de suas empresas, a Arcos Propaganda.

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O dinheiro, segundo Saud, teve como destino final os seguintes políticos: R$ 1 milhão para o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), pago após a apresentação de uma nota fiscal da Arcos; R$ 2 milhões em espécie "entregues por André Gustavo" no Recife "para Fernando Bezerra"; R$ 1 milhão em espécie entregues pelo publicitário na mesma cidade para o atual governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB-PE); por fim, R$ 200 mil entregues por Silva para "Bruno Araújo [PSDB-PE]", então deputado federal e hoje ministro das Cidades.

O tucano Araújo ganhou projeção no ano passado por ter sido o autor do voto decisivo, em sessão da Câmara dos Deputados, que autorizou o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) do seu cargo em processo de impeachment.

Em documento que entregou como parte do seu acordo de colaboração, Saud disse que seguia orientação do empresário da JBS Joesley Batista para "realizar doações a políticos e a partidos políticos", mas que o "método de pagamento era sempre determinado pelo político, podendo consistir em doação oficial, pagamento de notas fiscais avulsas ou a entrega de dinheiro em espécie".

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Saud afirmou que foi procurado, nas eleições de 2014, por um suposto "interlocutor" do então governador do Pernambuco e candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB-PE).

Identificado apenas como Henrique, esse homem teria tratado com Saud "os pagamentos que passariam a ser realizados, após autorizados" por Joesley.

Em agosto daquele ano, Campos morreu em acidente aéreo em Santos (SP).

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Henrique teria então pedido a Saud que os pagamentos "não fossem interrompidos". O pedido foi reforçado depois, segundo Saud, durante uma reunião com Joesley e o então prefeito do Recife, Geraldo Julio, e o então candidato a governador Paulo Câmara.

Ao todo, o grupo da JBS pagou R$ 14,6 milhões para os políticos do PSB em doações oficiais, disse o delator.

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O restante foi pago "por meio de notas fiscais avulsas", ou seja, empresas que emitiam notas em favor da JBS ou do grupo, como se tivessem prestado serviços ao grupo empresarial, mas que destinavam o dinheiro para campanhas eleitorais.

Em dois de setembro de 2014, por exemplo, a Arcos Propaganda emitiu uma nota de R$ 1 milhão "apresentada por Fernando Bezerra".

A justificativa foi "planejamento, acompanhamento e curadoria" de um "evento "Brasil-China" ocorrido em Brasília em julho de 2014.

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Levantamento feito pela reportagem no sistema da Justiça Eleitoral, contudo, não indicou nenhuma prestação de serviços da Arcos nas eleições de 2014.

Da mesma forma, na prestação de contas do deputado Bruno Araújo não consta doação de R$ 200 mil do grupo JBS.

Na prestação de contas de Fernando Bezerra, então candidato ao Senado, aparece uma doação oficial de R$ 1 milhão de uma empresa vinculada à JBS, a Eldorado Brasil Celulose, mas a delação de Saud diz que foram entregues R$ 3 milhões à mesma campanha.

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TAXISTA

Publicitário do Pernambuco com residência no Lago Sul, em Brasília, André Gustavo Vieira da Silva e seu irmão, o também publicitário Antonio Carlos Vieira da Silva Júnior, se tornaram foco de interesse da Lava Jato ainda no ano passado, quando registros de funcionários da Odebrecht indicavam um pagamento de R$ 3 milhões da empreiteira em um apartamento em São Paulo que havia sido alugado por Silva Júnior.

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A quebra de sigilo telefônico de Silva Júnior demonstrou que ele mantinha contatos com o motorista de táxi Marcelo Marques Casimiro.

Segundo registros obtidos pela Lava Jato, essa pessoa é que havia recebido o dinheiro em espécie, em três entregas no valor de R$ 1 milhão cada uma, de junho a julho de 2015.

Além de trabalhar em disputas eleitorais no Brasil e ter contrato com a estatal de energia elétrica Furnas, André Gustavo Vieira da Silva também atuou em duas campanhas eleitorais em favor do primeiro ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, em 2011 e 2015. Coelho hoje preside o PSD (Partido Social Democrata).

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OUTRO LADO

Ouvido pela Polícia Federal no ano passado, Antonio Silva Júnior declarou que não conhecia Casimiro e negou que R$ 3 milhões tenham sido entregues no apartamento em São Paulo. Disse que não tinha conhecimento de nenhum pagamento feito pela Odebrecht no endereço.

No seu depoimento, porém, o taxista Casimiro confirmou ter recebido os pacotes "para atender a pedidos do sr. Antonio", mas disse que não sabia que se tratava de dinheiro pois os envelopes estavam lacrados. Também confirmou ter depositado R$ 440 mil na conta de Silva Júnior, ato que o publicitário disse à PF desconhecer.

Em recurso protocolado no STF (Supremo Tribunal Federal) antes de sua prisão, André Gustavo assumiu a responsabilidade pelo recebimento de R$ 3 milhões da Odebrecht e disse que seu irmão "desconhece os fatos completamente". Ele afirmou que o valor se devia a parte de uma comissão por ele cobrada da empreiteira por serviço de "consultoria" para agilizar a liberação de R$ 1,7 bilhão em empréstimos do Banco do Brasil à Odebrecht.

Pelo serviço, o publicitário disse que cobrou 1% do valor total, ou R$ 17 milhões.

No recurso ao STF, ele confirmou que discutiu os interesses da Odebrecht com o então presidente do BB, Aldemir Bendini, ao qual "narrou ter sido sondado sobre o empréstimo da Odebrecht Agroindustrial e colocou a possibilidade de prestar consultoria àquela empresa para auxiliar no assunto".

Não confirmou, no entanto, que Bendine tenha se beneficiado da "comissão".

Quando a delação de Saud veio à tona, em maio passado, o governador Paulo Câmara afirmou à imprensa de Pernambuco que se reuniu com executivos da JBS para pedir doações oficiais de campanha, mas os recursos não chegaram. Ele negou quaisquer irregularidades.

"Como candidato ao governo de Pernambuco, em 2014, eu tive encontros empresariais com muitas empresas doadoras. Tive encontros que resultaram em doações oficiais e tive encontros que não resultaram em doações. É verdade que tive encontros com representantes da JBS. Foi quando solicitei contribuição de campanha que não veio, que não chegou na nossa campanha. Isso fazia parte da forma de fazer campanha em 2014 ou seja de arrecadar recursos. Era permitido por lei e foi feito por todos os candidatos", disse Câmara ao jornal "Diário de Pernambuco".

Na mesma época, a defesa do senador Coelho afirmou que todas as doações para a campanha eleitoral de 2014 foram declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral. Bruno Araújo também divulgou em maio que "todas as doações foram declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral".

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