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"Eles que peçam a Deus para eu não ser candidato", diz Lula no Nordeste

BRUNO BOGHOSSIAN, ENVIADO ESPECIAL MONTEIRO, PB (FOLHAPRESS) - Em um ato no sertão da Paraíba, empregando um tom emotivo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se lançou na arena eleitoral de 2018 e denunciou publicamente uma articulação para impedir

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 19.03.2017, 18:35:00 Editado em 19.03.2017, 18:40:09
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BRUNO BOGHOSSIAN, ENVIADO ESPECIAL

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MONTEIRO, PB (FOLHAPRESS) - Em um ato no sertão da Paraíba, empregando um tom emotivo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se lançou na arena eleitoral de 2018 e denunciou publicamente uma articulação para impedir que ele volte a se candidatar ao Palácio do Planalto.

Depois de visitar pela primeira vez um trecho concluído das obras de transposição do rio São Francisco, o ex-presidente criticou o governo Michel Temer e disse que está disposto a "brigar nas ruas" contra seus opositores, em referência à disputa eleitoral.

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"Eu nem sei se estarei vivo para ser candidato em 2018, mas eu sei que eles querem evitar que eu seja candidato. Eles que peçam a Deus para eu não ser candidato. Porque, se eu for, é para ganhar a eleição nesse país", disse Lula, diante de cerca de 20 mil pessoas que lotaram a praça central de Monteiro, município de 33 mil habitantes no sertão da Paraíba, a 305 km de João Pessoa.

Lula subiu ao palanque ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff, de governadores, deputados e senadores aliados. Em mais de uma ocasião, o ex-presidente fez menção indireta às suspeitas levantadas contra ele no âmbito de operações como a Lava Jato, afirmando indiretamente que esses processos têm o objetivo de minar politicamente e juridicamente sua candidatura.

"Eu estou à espera de um empresário me denunciar e dizer se tem um real na minha conta. Se tiver, eu não preciso nem me defender", disse, no palanque. "Vocês sabem o que estão tentando fazer com a esquerda nesse país, o que fizeram com a Dilma e estão tentando fazer comigo. Eu quero dizer que, se eles quiserem brigar comigo, eles vão brigar comigo nas ruas desse país, para que o povo possa ser o senhor da razão."

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Lula é réu em cinco ações penais -três em decorrência da Lava Jato, uma pela Operação Zelotes e uma pela Operação Janus- e apareceu nos pedidos de abertura de inquérito da última lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em decorrência da delação de executivos da Odebrecht. Se condenado em segunda instância antes da próxima eleição, o petista pode ser barrado pela Lei da Ficha Limpa e impedido de disputar. A demonstração de apoio popular é entendida pelos petistas como anteparo a esse risco.

DILMA

Com um discurso inflamado, incomum na maior parte de seu governo, a ex-presidente Dilma Rousseff defendeu seu padrinho político e o lançou abertamente à Presidência em 2018.

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"Há um segundo golpe, que é impedir que os candidatos populares sejam colocados à disposição do povo. O Lula é um desses candidatos. Vamos deixar o Lula se encontrar com a democracia. É a única maneira de lavar a alma do povo brasileiro", declarou a petista. "No tapetão, não!", bradou.

Dilma também atacou o governo Temer, mas sem citar o nome do atual presidente, e pediu que a população use as eleições de 2018 para dar uma resposta contra as ações do atual governo.

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"Todos nós temos um encontro marcado com a democracia em outubro de 2018. Eles sabem que, se deixarem conversar com o povo, nós ganharemos essa eleição", disse.

O senador Humberto Costa (PT-PE) fez o discurso mais explícito de defesa da candidatura de Lula contra o risco da Lava Jato. "Estamos aqui mostrando que o povo quer de volta o maior presidente da história. E, quando o povo quer, não tem Moro, não tem Globo, não tem Judiciário, não tem ninguém, porque isso vai acontecer", disse Costa, em referência ao juiz Sérgio Moro, às ações a que Lula responde na Justiça, e à imprensa, alvo de críticas frequentes de petistas. "Estamos comemorando a chegada da água, mas também está começando a caminhada para colocar no poder novamente o povo e o governo popular", completou.

PÉ NA ÁGUA

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Lula e Dilma desembarcaram na manhã deste domingo no aeroporto de Campina Grande, onde foram recebidos por políticos locais, aliados e ex-integrantes de seus governos. De lá, seguiram em comboio por cerca de duas horas e meia por uma rodovia até o pequeno município de Monteiro, onde fizeram uma inauguração simbólica do canal que passa pela região.

Cercados por uma multidão, que cantava principalmente o nome de Lula, os dois ex-presidentes foram até o canal construído nas obras de transposição. Quando começaram a descer uma pequena trilha até a água, uma multidão que esperava lá dentro os cercou. Lula pisou na água de sapatos e molhou a barra da calça bege. Abaixou-se, tomou um pouco d'água em suas mãos e jogou para o alto. Sorrindo, ele e Dilma se abraçaram.

GOVERNO TEMER

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O palanque foi usado para atacar a inauguração oficial do trecho leste da obra de transposição do rio São Francisco, pelo presidente Michel Temer, no último dia 10. O ex-presidente Lula adotou um tom emocional e citou a infância no sertão de Pernambuco, em busca de assumir a paternidade do projeto.

"Eu não pensei [nessa obra] apenas de bonzinho. Desde os sete anos eu carrego lata de água na cabeça. Eu sei o que é botar água barrenta no pote e esperar assentar. E a barriguinha era só de esquistossomose, e tinha fezes de vaca, de cavalo, de cabrito e era essa a água que a gente bebia. E eu sabia que o povo do Nordeste tinha que ter direito a uma coisa elementar", disse o ex-presidente.

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Dilma disse que Temer mentiu ao inaugurar o canal de Monteiro, este mês, e argumentou que a obra de transposição "estava praticamente concluída" quando ela deixou o governo.

"Vejam vocês a cara de pau em dizerem que uma obra de transposição do tamanho dessa podia ser feita em seis meses. Esses que deram o golpe baseado numa mentira, numa inverdade, que fizeram um impeachment sem crime de responsabilidade. Até as pedras desdenhais sabem que eu nunca cometi nenhum crime e que eles deram esse golpe para tirar os direitos que nós demos durante os nossos governos", afirmou Dilma.

Os dois ex-presidentes aproveitaram o evento para atacar especialmente a reforma da Previdência -ponto central da oposição do PT à gestão Temer.

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"Esse governo que está aí, e não deveria estar, não tem noção do que significa aposentadoria rural para o povo do Nordeste. Eles querem cortar", disse Lula, que ligou o plano de ajuste fiscal à tentativa de barrar sua candidatura presidencial. "Se vocês querem me prejudicar, criem vergonha. Não prejudiquem 204 milhões de pessoas."

"O golpe não acabou ainda", afirmou Dilma. "Eles sabem que a democracia sempre beneficiou o povo brasileiro, e que por quatro eleições nós ganhamos porque nunca apresentamos um projeto como esse da aposentadoria, que faz com que o povo brasileiro tenha que começar a trabalhar na melhor das hipóteses aos 16 anos, e, na pior, aos 9 anos. Então esse projeto da aposentadoria é um golpe."

SIMBOLISMO

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A visita às águas transpostas do São Francisco ao solo seco do sertão e o comício diante de milhares de pessoas no interior do Nordeste foram montados para representar a inauguração do movimento de retorno de Lula ao centro da arena política, como preparação para uma provável candidatura à Presidência em 2018.

"Essa é a consagração popular do retorno de Lula em 2018", disse o deputado José Guimarães (PT-CE), líder da minoria na Câmara. "Esse povo vai fazer de tudo por ele. É como na eleição de 1988, onde havia um sentimento de identificação e pertencimento."

Dirigentes e parlamentares petistas convocaram uma multidão e alugaram vans e ônibus para transportar a população local para o evento. A equipe do ex-presidente fez uma divulgação pesada do evento, enviou equipes para armar palanques e gravou vídeos em tom emocional sobre a obra. Nas cidades da Paraíba, há outdoors que atribuem a transposição exclusivamente a Lula e Dilma.

O objetivo dos petistas é tratar a candidatura de Lula, a partir deste ato, não apenas como uma possibilidade, como um contra-ataque ao impeachment de Dilma ou uma resposta à Lava Jato, mas como um fato político consumado.

Monteiro foi um dos primeiros pontos do sertão nordestino a receber as águas desviadas pelo projeto de transposição. Com o ato de Lula e Dilma neste domingo, os hotéis e pousadas da região ficaram com vagas esgotadas, e muitos moradores passaram a alugar quartos de suas próprias casas para os visitantes.

Milhares de admiradores e curiosos saíram de municípios próximos ao longo dos últimos dias para participar do evento. Mesmo nas cidades vizinhas, o movimento era maior por causa do ato. Às margens do canal que carrega as aguardo São Francisco, ambulantes vendiam bonés, camisetas e copos comemorativos. A maior parte dos itens tratava Lula abertamente como candidato à Presidência da República em 2018.

OBRA

A elaboração de um projeto para levar água às regiões mais áridas do Nordeste chegou a ser discutida no Brasil nos anos do império, no século 19. Estudos para a transposição do São Francisco foram feitos nas gestões Itamar Franco (1991-1994) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

As obras só começaram em 2007, no segundo governo Lula. O custo total já chegou a R$ 9,6 bilhões, mais que o dobro das estimativas iniciais.

O presidente Michel Temer esteve no mesmo local no último dia 10 para inaugurar o trecho da obra. Em terreno onde o PT e Lula, em especial, ainda retêm boa parte de sua popularidade, o peemedebista ressaltou os esforços de seu governo para que essa parte do projeto fosse finalizada.

"Não quero a paternidade dessa obra porque ninguém pode tê-la. A paternidade é do povo brasileiro e do povo nordestino. Vocês é que pagaram impostos ao longo do tempo e permitiram que fizéssemos investimentos nessa obra que vai cada vez mais sendo festejada", afirmou.

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