ESTELITA HASS CARAZZAI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Quem se aventura nos corredores da Fundação Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, corre o risco de se deparar com um presente inusitado: um arreio de cavalo.
"Por que está lá? Porque foi o [ex-ditador da Líbia Muammar] Gaddafi quem me deu", contou o ex-presidente, nesta quinta (9). "Curioso, né?"
O ex-mandatário brasileiro (1995-2002) prestou depoimento ao juiz Sergio Moro, como testemunha de defesa na ação que acusa o também ex-presidente Lula de manter o acervo presidencial com dinheiro oriundo de propina.
Os presentes que FHC ganhou à frente da Presidência foram tema de boa parte da audiência.
Segundo o ex-presidente, os objetos têm mais valor simbólico do que material.
Além do arreio dado pelo líbio, são dezenas de quadros de tucano -"de todo tipo; alguns com bico, outros não"-, fotos ao lado de antigos chefes de Estado, anéis, canecas, filmagens, anotações e "centenas de milhares" de cartas.
"Mesmo que tenha valor, vai vender pra quem? Aliás, nem pode", afirmou.
Não está no acervo uma gravura de cavalo que FHC iria ganhar da rainha Elizabeth 2ª, quando visitou a Inglaterra, em 1997, e participou de uma tradicional troca de presentes.
O Itamaraty definia o que era dado por FHC.
"Eu não sabia qual era o meu presente. Peguei um e ela disse: 'Oh, my horse!' Era um cavalo... Eu ia dar para ela, e o presente era meu." O ex-presidente ficou sem a gravura, um retrato do cavalo de Elizabeth 2ª, que acabou mesmo com a rainha.
Cardoso disse que mantém o acervo, que reúne milhares de itens, com o apoio de doações de empresas, e que seria "impensável" mantê-lo sem apoio financeiro.
A troca de presentes entre autoridades estrangeiras é autorizada por uma resolução da Comissão de Ética Pública. Qualquer presente recebido por um presidente no exercício do cargo, em visitas oficiais ou viagens de Estado, integra o acervo presidencial -que é é considerado de interesse público, e não pode ser vendido ou usado para fins particulares.
LULA
O acervo do ex-presidente Lula foi armazenado desde a saída do político do cargo, em 2011, e hoje está lacrado em função da Lava Jato.
O Ministério Público Federal acusa o petista de ter usado dinheiro desviado da Petrobras, por meio da empreiteira OAS, para o transporte e armazenagem dos objetos. Advogados de Lula dizem que a OAS doou "apoio institucional" para preservar o acervo.
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