MARCELO NINIO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga reconheceu nesta segunda (26) que as ações da Lava Jato causam "tensão" e podem ter impacto na retomada dos investimentos no Brasil, mas ressaltou que no longo prazo o efeito da operação será positivo para a economia.
A declaração foi feita durante um evento em Washington, pouco depois da prisão do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Para Fraga, é "inevitável" que a instabilidade política se mantenha por um tempo, em meio às investigações e aos esforços do governo Michel Temer de implementar as medidas necessárias para tirar o país da "gigantesca" recessão em que mergulhou.
"É um processo que está acontecendo de maneira muito organizada e positiva, embora tudo isso seja muito triste", disse à reportagem, ao ser questionado sobre a prisão de Palloci. "Acho que vai continuar a ser assim, é parte de como lidar com essas questões. Sempre cria alguma tensão no curto prazo, mas a longo prazo isso tudo é muito bom."
O ex-presidente do BC, dono da Gávea Investimentos, acredita que os investidores "entendem que o processo em si é bom para o país". O envolvimento de várias grandes empresas nas irregularidades investigadas pela Lava Jato força os investidores interessados em fazer negócios no Brasil a examinar com mais cuidado o cenário nacional para distinguir eventuais parceiros entre as companhias que não foram atingidas por escândalos de corrupção.
"O investidor tem que fazer o seu dever de casa para evitar problemas", disse Fraga, reconhecendo que a dimensão da Lava Jato resulta em "algum contágio" na atividade da economia brasileira. "Mas isso não deixa de ser uma oportunidade, nesta altura do jogo quem conseguir entender melhor as questões provavelmente vai se dar bem."
Fraga participou de um debate sobre a economia brasileira no Instituto Peterson de Economia Internacional, ao lado do ex-presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. Ele traçou um panorama sombrio da herança econômica recebida pelo presidente Temer, com uma dívida pública "explosiva, um motor de crescimento quebrado e uma política macroeconômica desastrosa", além de um "sistema político fragmentado em que muitos estão preocupados principalmente em não ir para a cadeia". O impeachment, segundo ele, é uma chance de virar o jogo.
"A saída da Dilma foi crucial. Ela tinha a tendência de ver tudo como uma ofensa pessoal. Eu estava apavorado. Ela é o tipo de pessoa que considera um sinal vermelho no trânsito como ofensa pessoal. Ela se foi e isso é uma boa noticia", afirmou.
Para Fraga, no momento a "fronteira natural" para o investimento no Brasil é o setor de infraestrutura, em que "as brechas são monumentais", mas isso vai exigir reformas regulatórias para aumentar a previsibilidade. "Na indústria é mais difícil, porque há muito excesso de capacidade e no consumo também, porque os juros estão muito altos. Muita gente está cética em relação à retomada da economia, mas acho que pode ocorrer se o governo fizer o que deve ser feito, o que de certa forma já começou", disse.
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