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Mortes ocorreram após sem-terra atirar pra cima, diz testemunha

JULIANA COISSI CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - A cúpula da polícia do Paraná apresentou, durante entrevista na tarde desta sexta-feira (8), o depoimento em que uma testemunha afirma que dois sem-terra foram mortos em confronto entre o grupo e PMs após um del

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 08.04.2016, 19:37:19 Editado em 27.04.2020, 19:51:32
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JULIANA COISSI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - A cúpula da polícia do Paraná apresentou, durante entrevista na tarde desta sexta-feira (8), o depoimento em que uma testemunha afirma que dois sem-terra foram mortos em confronto entre o grupo e PMs após um deles ter dado "um tiro para cima".
O caso ocorreu na quinta-feira (7) em Quedas do Iguaçu, no sudoeste do Paraná. No depoimento, o sem-terra Pedro Francelino afirma que o confronto teve início depois que um dos integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) "atirou pra cima e um policial revidou". Ele, que foi baleado no local, falou com os policiais no hospital.
Na quinta, a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária) afirmou que os policiais foram alvo de uma emboscada. Já nesta sexta (8), tanto a tenente-coronel Audilene Dias da Rocha quanto o delegado Julio Cezar dos Reis, representantes da PM e da Polícia Civil do governo Beto Richa (PSDB), afirmaram que eles nunca disseram se tratar de uma emboscada.
Já o MST usou o mesmo termo, emboscada, para dizer que as vítimas foram, na verdade, os seus integrantes e que tanto os mortos e feridos foram baleados pelas costas, enquanto fugiam da polícia. A PM afirmou que só o resultado da perícia apontará a localização dos tiros. Nenhum policial se feriu durante o confronto.
Na ação, morreram Vilmar Bordim, 44, casado e pai de três filhos, e Leomar Bhorbak, 25, cuja mulher está grávida de nove meses. O acampamento do MST reúne cerca de 10 mil pessoas, segundo a Sesp, desde julho de 2014. A área, onde funciona a empresa Araupel, de reflorestamento e exportação de madeiras, é alvo de disputa judicial -o governo federal pediu a nulidade do título da terra da Araupel, mas o caso está sob julgamento na Justiça Federal.
Parte do interrogatório à Polícia Civil de Pedro Francelino foi divulgado para a imprensa, em áudio e em texto já transcrito.
Ele foi ouvido nesta sexta no Hospital São Lucas, onde está internado. No trecho divulgado, Francelino diz que estava no local e que participaria de um protesto organizado pelos sem-terra. "Daí chegamos lá, levei foice, que é uma coisa que é ferramenta de trabalho. Chegamos lá um engraçadinho saiu pra fora atirando pra cima e o policial revidou. Foi só isso que aconteceu", afirmou.
O primeiro tiro, disse Francelino à polícia, "foi do rapaz que morreu, que entrou em óbito lá, com o revólver na mão". Ele não soube dizer o nome da pessoa pois está "apenas há dois meses no acampamento.".
Já segundo o delegado Julio Cezar dos Reis, os quatro PMs presentes no confronto disseram, em depoimento, "que foram recebidos a bala pelos sem-terra". Ele disse não saber especificar quantos tiros os sem-terra teriam disparado e se foram apenas para o alto ou contra os carros e os policiais.
A versão da PM, apresentada pela coronel Audilene Dias da Rocha, é que dois policiais da PM Ambiental foram à fazenda na tarde desta quinta-feira averiguar a extensão dos danos de um incêndio no dia anterior. Pela tensão do litígio agrário, foram acompanhados de quatro PMs da Rotam, equipe especializada da corporação.
Ainda segundo Audilene, como não era possível avançar de carro em um certo trecho, os PMs foram a pé até o ponto do incêndio, quando um sem-terra em uma moto se aproximou. Outras motos chegaram, e também uma caminhonete S-10 de cor escura com pessoas na carroceria e um ônibus, também ocupado por membros do MST. Neste momento, segundo a coronel, os sem-terra "atiraram contra os policiais. E eles [PMs] revidaram a agressão injusta".
O secretário da Segurança Pública, Wagner Mesquita, criticou a retirada dos homens da Força Nacional de Segurança do local, no dia 29 de março. Segundo ele, o governo estadual pediu a prorrogação, mas não obteve resposta. Questionado se a retirada da Força Nacional pode ter justificado o conflito, Mesquita disse: "Acredito que tenha contribuído, não sei se foi fundamental, mas contribuiu". O Ministério da Justiça, procurado, não se manifestou.
'EXPLORAÇÃO IRREGULAR'
Neste sábado, às 10 horas, o MST pretende organizar uma grande manifestação no centro de Quedas do Iguaçu pela morte dos dois sem-terra. E há atos previstos em ao menos cinco Estados.
Membros do MST disseram que o movimento vai "vingar" as mortes com novas invasões em áreas da empresa Araupel, que atua com reflorestamento e exportação de madeiras.
O Incra, órgão federal que cuida de processos de reforma agrária, afirmou, em nota, que vem agindo, com Advocacia-Geral da União e Procuradoria Federal, para "arrecadar a área explorada pela empresa Araupel". diz ainda entender "que se trata de área de domínio da União, portanto área pública".
"Há décadas a empresa explora irregularmente parte de uma área considerada pública, com um histórico de conflito e degradação ambiental na região, com a substituição das matas nativas por monocultura de pinus e araucária, visando a indústria da madeira", diz o Incra. O órgão diz aguardar julgamento dos recursos interpostos na Justiça sobre o questionamento da titularidade da área.
Procurada, a Araupel não havia se manifestado até a publicação deste texto. Nesta quinta, o advogado da Araupel, Leandro Salomão, afirmou no mês passado o TRF-4ª região (Tribunal Regional Federal), órgão de segunda instância, suspendeu os efeitos da primeira decisão da Justiça Federal, apontando que os títulos de posse da terra são válidos e que a propriedade pertence à Araupel. AGU e Incra, então, recorreram e o último recurso está ainda para ser julgado pelo mesmo TRF, possivelmente até o final deste mês.

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