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Letras antenadas justificam clamor por novo disco de Chico Buarque

SÓ PODE SER REPRODUZIDA NA ÍNTEGRA E COM ASSINATURA THALES DE MENEZES SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Aos 73 anos, Chico Buarque exibe um atestado de relevância na MPB com a tremenda expectativa gerada pelo lançamento de "Caravanas", seu primeiro disco de mú

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 22.08.2017, 12:30:09 Editado em 22.08.2017, 12:30:09
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SÓ PODE SER REPRODUZIDA NA ÍNTEGRA E COM ASSINATURA

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THALES DE MENEZES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Aos 73 anos, Chico Buarque exibe um atestado de relevância na MPB com a tremenda expectativa gerada pelo lançamento de "Caravanas", seu primeiro disco de músicas inéditas desde "Chico", de 2011. Disponível para venda e audição nas plataformas digitais a partir da próxima sexta (25), o álbum justifica tanto alvoroço.

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O compositor expõe antenas ligadas no mundo e desfila letras que vão de versos contundentes em "As Caravanas" a canções redondinhas e singelas como "A Moça do Sonho".

Das nove faixas, duas são regravações. "Dueto", que ele escreveu em 1979 para o musical "O Rei de Ramos", de Dias Gomes, é cantada por Chico e sua neta, Clara Buarque, 18, filha de Helena e do músico e cantor Carlinhos Brown.

A menina mostra um canto afinado e com charmoso sotaque carioca, que não deve ser comparado à gravação original de Nara Leão. A nova versão ganha brilho próprio, pode ser candidata a single do álbum. Há um frescor juvenil, que Chico ressalta ao incluir na letra menção às mídias sociais. Ele e a neta chegam a rir quando enumeram em versos curtos nomes como Instagram, YouTube e Tinder.

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A outra que não é inédita, "A Moça do Sonho", vem da trilha sonora para o musical "Cambaio", de João e Adriana Falcão, que ele escreveu em 2001 com o parceiro constante Edu Lobo. Curta, bonitinha, com jeito de melodia de caixinha de música, tem menos brilho no meio de um conjunto de canções mais interessantes. Soa belíssima, mas antiga.

Um pouco desse "velho Chico" pode ser ouvido também em outra bela faixa desse pacote que começou a compor em 2015. "Casualmente" é um bolero que ele canta parte em espanhol e parte em português. É parceria com o baixista de sua banda, Jorge Helder, com quem já escreveu "Bolero Blues" (2006) e "Rubato" (2011).

Bonita, sofisticada, mas algo que Chico já fez muito. Curiosidade: a música foi composta para um álbum da cantora cubana Omara Portuondo, que acabou não sendo gravado. Em tempos em que a militância grita para Chico "vai pra Cuba!", o cantor lança esta canção sobre Havana. Que venha a fúria na internet.

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O samba-canção "Desaforos", sobre uma mulher que fala mal dos outros, é a resposta sutil de Chico aos franco-atiradores que o atacam nas redes sociais. Um post musical irônico endereçado aos "haters".

O irmão de Clara, Chico Brown, é coautor de "Massarandupió", praia baiana com área dedicada ao naturismo. Aos 21 anos, demonstra intimidade com a guitarra e, inevitável dizer, traz uma letra com alguma proximidade às brincadeiras líricas de seu pai, entre o simples e o inusitado.

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"Blues pra Bia" abre espaço para o humor mordaz de Chico, recurso que não usa tanto em sua produção, mas, quando ele decide apostar, sempre dá certo.

Numa batida blues costurada com violão e metais, a letra fala da investida de um homem diante de uma garota que se revelará homossexual: "...no coração de Bia/ os meninos não têm lugar". O narrador se mostra resignado, em versos como "Não vou censurar a bela/ é da natureza dela" ou "Até posso virar menina para ela me namorar".

"Jogo de Bola" é mais uma canção de um subgênero forte na música brasileira: a narrativa criada com clichês de termos do futebol, terreno que o peladeiro Chico conhece desde garoto. E ele brinca bem demais, num samba que tem várias quebras de harmonia. Impossível não pensar em um craque driblando adoidado, mudando o caminho natural que a bola deveria seguir.

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Agora, as duas músicas com o carimbo "polêmicas". "Tua Cantiga", liberada ao público no dia 28 de julho, recebeu críticas pesadas de mulheres porque o narrador promete à amante que largará a família para ficar com ela.

Uma reação de quem confunde personagem com autor, fez tanto barulho que Chico até respondeu pela internet que "machista é quem fica com a mulher e a amante". No mais, é uma balada com a manjada e excelente sofisticação do compositor.

"As Caravanas" fecha o álbum com alta voltagem. Chico se refere a refugiados modernos e critica o medo da classe média diante de "garotos suburbanos tipo muçulmanos". Os versos são afiados: "Diz que malocam seus facões e adagas/ Em sungas estufadas e calções disformes/ Diz que eles têm picas enormes/ E seus sacos são granadas". E Chico costura a letra com referências ao romance existencialista "O Estrangeiro" (1942), de Albert Camus (1913-1960), no qual o narrador mata um árabe numa praia e afirma que cometeu o crime "por causa do sol".

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A reclamação que o disco pode gerar é ser curto, com apenas nove faixas. Chico costumava lançar álbuns com 12 canções. Mas a força do pacote vem para confirmar aos adoradores e alertar aos detratores que Chico Buarque está muito vivo e atento.

CARAVANAS

QUANTO R$ 30 (CD); a partir de 0h de sexta (25) nas plataformas digitais

ARTISTA Chico Buarque

GRAVADORA Biscoito Fino

AVALIAÇÃO Ótimo

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