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Na Pinacoteca, Mauro Restiffe contrapõe diário de sua vida familiar a pinturas históricas

SILAS MARTÍ SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mãe e filha se equilibram numa escada para ver a tempestade rugindo do outro lado do muro. A parede branca separa as duas do céu negro no horizonte -de biquíni, à beira da piscina vazia num dia frio, elas parecem a

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 22.08.2017, 05:15:08 Editado em 22.08.2017, 05:15:08
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SILAS MARTÍ

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mãe e filha se equilibram numa escada para ver a tempestade rugindo do outro lado do muro. A parede branca separa as duas do céu negro no horizonte -de biquíni, à beira da piscina vazia num dia frio, elas parecem ao mesmo tempo ameaçadas e resguardadas pela arquitetura.

O atrito entre o calor da intimidade e a fúria da vida lá fora, a presença frágil numa paisagem convulsionada, parece estar na base das fotografias de Mauro Restiffe.

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Mas esse embate, como deixa ver sua retrospectiva agora na Estação Pinacoteca, nunca é violento. Suas imagens -de um jantar entre amigos, da posse de um presidente, do nascimento de seus filhos, de detalhes arquitetônicos- parecem atravessadas por uma leveza voraz.

"Tem uma certa espontaneidade, uma naturalidade, uma cumplicidade", diz Restiffe. "A câmera não tem um peso, não é invasiva."

Seus enquadramentos, oscilando entre o rigor arquitetônico e o despojamento total, são construídos com a perícia de um voyeur, atento ao ritmo e ao movimento de uma cena que não quer abalar.

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No fundo, são flagras e retratos moldados por um tempo que parece elástico, suspenso nos grãos de prata do filme analógico. O uso do negativo preto e branco, aliás, acaba dando verniz histórico a momentos recentes e peso monumental ao que talvez não passasse do trivial.

Daí o ruído intencional dessa mostra. Entre suas fotografias, Restiffe encaixa pinturas dos acervos da Pinacoteca e do Masp -a "Proclamação da República", quadro de 1893, de Benedito Calixto, por exemplo, é justaposta a uma imagem da primeira posse de Lula em Brasília.

O espelho d'água da esplanada da capital federal ecoa a antiga praça da Aclamação, no Rio -um retângulo que domina a composição. Multidões e canhões também aparecem nas duas imagens.

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Mas o artista vai além da simples comparação formal. Transborda desses paralelos uma tentativa de aproximar os tempos e dinâmicas da fotografia e da pintura.

"O fotógrafo enquadra algo, e o pintor tem algo gestual, uma passagem de tempo que é cumulativa", diz Restiffe. "A ideia é que a pintura faça um diálogo direto com a fotografia, dê um ritmo."

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Esse ritmo, aliás, fica mais explícito e chega ao auge de sua potência plástica na sala central da exposição, onde estão retratos da família do artista realizados ao longo das últimas duas décadas.

Vistas lado a lado, coladas mesmo umas nas outras, estão imagens de nascimentos, autorretratos no espelho, a mesa do café da manhã, camas de hospital -um turbilhão eufórico de memórias.

E elas se adensam em relação às pinturas, como no embate entre o retrato de sua mulher deitada na cama ao lado de um nu feminino de Manuel Lopes Rodrigues, ou de outra mulher, com os braços emoldurando o rosto na mesma pose de mais um nu de Dario Villares Barbosa.

COREOGRAFIA

Na ala dos retratos, Restiffe articula uma espécie de coreografia, com braços e pernas de um retratado em sintonia com a visão do próximo, transformando imagens estáticas em acordes vibrantes de uma sequência visual.

Isoladas, essas imagens talvez não tivessem a mesma força. Juntas, no entanto, revelam o apego do artista aos detalhes capazes de sintetizar a beleza inesperada da banalidade que nos rodeia.

Da anatomia desses corpos e gestos, o artista passa a investigar os esqueletos das estruturas arquitetônicas. Um "Metaesquema" de Hélio Oiticica reflete ali, tal qual um espelho, as formas de um armário num prédio de Gregori Warchavchik, forjando no contraste entre fotografia e pintura um retrato acachapante do mundo.

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