ISABEL FLECK
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Steve Bannon, o controverso estrategista-chefe de Donald Trump, se tornou, nesta sexta (18) o oitavo nome da equipe de assessores próximos do presidente a cair em sete meses de governo --e o quarto nos últimos 30 dias.
Bannon, ligado ao movimento "alt-right" --com o qual se identificam nacionalistas brancos, grupos homofóbicos e anti-imigrantes--, havia se tornado uma presença ainda mais incômoda na Casa Branca depois da marcha de grupos racistas e neonazistas em Charlottesville, na Virgínia, que terminou em morte no sábado (12).
No início da noite, o site de notícias Breitbart, ligado ao movimento "alt-right", anunciou que Bannon voltará como seu presidente-executivo.
Em comunicado, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse apenas que Bannon e o novo chefe de gabinete de Trump, o general John Kelly, "concordaram que sexta seria o último dia" do estrategista. "Agradecemos seus préstimos e lhe desejamos o melhor."
Segundo um funcionário ouvido pelo "New York Times", apesar de a situação de Bannon ter se complicado após a erupção de violência em Charlottesville, Trump já pensava em demiti-lo desde a saída do chefe de gabinete anterior, Reince Priebus, há três semanas.
Os conservadores Priebus e Bannon eram bastante alinhados e batiam de frente com a ala mais liberal do governo, representada pelo principal conselheiro econômico de Trump, Gary Cohn (ex-Goldman Sachs), pela vice-conselheira de Segurança Nacional para Estratégia, Dina Powell, e por Ivanka Trump e Jared Kushner, filha e genro do presidente e ambos seus assessores.
ENTREVISTA-BOMBA
Entre os temas de divergência estavam o comércio, impostos, imigração e a guerra no Afeganistão. Em uma polêmica e rara entrevista dada pelo estrategista-chefe à revista liberal "The American Prospect", publicada na quinta (17), Bannon zombou de seus inimigos no governo dizendo que eles "se mijam" de medo de mudar radicalmente a política comercial.
Ele ainda foi contra declarações anteriores de Trump, dizendo que a solução militar para a Coreia do Norte é inviável. "Até que alguém resolva a parte da equação que mostra que 10 milhões de pessoas morrerão em Seul nos primeiros 30 minutos de uso de armas convencionais, não sei do que estão falando, não há solução militar aqui. Eles nos pegaram", disse.
Para muitos dentro do governo, não havia como o estrategista se sustentar no posto depois da entrevista.
Na incendiária entrevista coletiva dada por Trump na terça (15), na qual o presidente voltou a culpar racistas e antirracistas pela violência em Charlottesville, ele disse que "veria o que acontece com o Bannon" ao ser questionado sobre o assessor.
A indicação de Bannon para o posto de alta confiança na Casa Branca havia sido o principal aceno de Trump à "alt-right" após sua eleição, em novembro, e o presidente nunca escondeu sua afinidade com o assessor.
Trump, porém, se incomoda com a imagem de que era Bannon o cérebro por trás de suas decisões. No programa humorístico Saturday Night Live, ele era representado como a imagem da morte a comandar um presidente bobo.
Sem Bannon, a equipe próxima a Trump tem, neste momento, pelo menos dois grandes desfalques. O posto de diretor de comunicação segue vago desde que Anthony Scaramucci o deixou após dez dias no governo.
Deixe seu comentário sobre: "ATUALIZADA - Trump demite estrategista-chefe ligado a extrema direita e racistas"