SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O jornal chileno "La Tercera" diz ter publicado entrevistas que não existiram com o ex-premiê espanhol José Luiz Rodríguez Zapatero e o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe. O diário afirma que o conteúdo se baseou em material copiado de outros lugares e que a autora não conversou com os políticos, o que ela nega.
Em longo texto publicado nesta quarta (26), o "La Tercera" pede "desculpas públicas aos leitores por não ter detectado a tempo uma má prática que fere o trabalho de dezenas de profissionais que integram este diário".
São citadas diretamente duas reportagens escritas pela repórter Ximena Marín Lezaeta. O jornal informa que elas foram retiradas do ar.
A mais recente delas, uma suposta entrevista com Zapatero, foi publicada na segunda (24). De acordo com o "La Tercera", o conteúdo era uma cópia quase exata de um texto publicado em maio pela revista espanhola "Cambio 16".
O jornal chileno diz que, após ser alertado pelo chefe de gabinete de Zapatero, o subeditor de Mundo da publicação entrou em contato com a repórter e pediu a gravação da conversa como prova, o que não foi entregue. Lezaeta teria assegurado que fez a entrevista.
Além desse caso, os chilenos afirmam que detectaram a mesma situação em uma entrevista com Uribe, publicada no dia 26 de junho. Também se tratava de algo veiculado anteriormente pela revista espanhola.
O "La Tercera" cita outras irregularidades encontradas após revisão no trabalho de Lazaeta, como usar discursos públicos de autoridades espanholas como se fossem entrevistas e usar entrevistas coletivas como conversas exclusivas.
Em conversa com o jornal chileno "La Segunda", Lezaeta não quis falar sobre o seu trabalho. Disse que a ligação estava ruim e disse que responderia às perguntas por e-mail, mas não o fez, segundo a publicação.
Ao telefone, ela se limitou a dizer que tem dupla nacionalidade, chilena e espanhola, e que mora em Madri, mas tem uma filha no Chile.
CASOS SEMELHANTES
O caso lembra o de Jayson Blair, que deixou o "New York Times" em 2003 após casos de fraude e plágio.
Depois da demissão de Blair, o jornal americano publicou um artigo chamado "Repórter do Times que pediu demissão deixa um longo rastro de decepção".
De acordo com o "New York Times", foram detectados problemas em pelo menos 36 textos que Blair publicou.
No ano passado, o inglês "The Guardian" descobriu que um repórter freelancer havia inventado aproximadamente 50 entrevistas.
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