FRANCESCA ANGIOLILLO, FERNANDA MENA E MAURÍCIO MEIRELES, ENVIADOS ESPECIAIS
PARATY, RJ - (FOLHAPRESS) - Deu certo a aposta a da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que começou nesta quarta-feira (26), de mudar o formato de sua abertura. Em vez da tradicional conferência, a historiadora Lilia Moritz Schwarcz e o ator Lázaro Ramos deram uma aula dramatizada sobre Lima Barreto, o autor homenageado desta edição.
Com direção de cena de Felipe Hirsch, os dois emocionaram o público e fizeram rir ao dar uma aula intensiva para quem não conhece a obra do autor de "Triste Fim de Policarpo Quaresma".
Não à toa, a plateia em especial no telão urrou, gargalhou e aplaudiu longamente o fim da mesa, quando Lázaro e Lilia saíram da Igreja, onde fica quem pagou, em direção a tenda do telão, que é grátis.
Os dois foram recebidos com gritos de "Fora, Temer" da plateia.
"Lima Barreto, se aqui estivesse, também estaria gritando 'Fora, Temer'", disse o ator ao subir ao palco.
A mesa se alternava entre a narração de Lilia sobre a vida de Lima e leituras de Lázaro que ilustravam a fala da apresentadora desde seu nascimento, sete anos antes da Abolição, até a recepção da obra dele após sua morte.
O ator foi ovacionado pela tenda do telão ao ler "A Política Republicana", crônica em que Lima Barreto crítica a política nacional. "A República no Brasil é o regime da corrupção", escreveu o autor.
No texto, Lima fala ainda dos "reservados", termo que se referia à propina.
A comoção ficou por conta da crônica em que Lima contava de sua amizade com Manuel Cabinda, ex-escravo que conheceu na colônia de alienados que o pai dirigiu, no Rio de Janeiro.
Manuel comprou a própria liberdade, depois a da mulher por quem era apaixonado para em seguida vê-la fugir com outro. O ex-escravo não só virou amigo da família, como depois foi viver com os Lima Barreto e os ajudou financeiramente.
Lázaro, que soube registrar na leitura a verve irônica de Lima Barreto, ainda fez rir ao ler textos engraçados do homenageado, como "A Nova Califórnia", conto em que uma cidade passa a violar os cemitérios depois que um alquimista mostra que sabe fazer ouro a partir dos ossos humanos.
Ou ainda "O Homem que Sabia Javanês", sobre um picareta que cresce na vida fingindo falar um idioma que jamais aprendeu.
Com sua leitura, o ator também conseguiu mostrar a atualidade da obra de Lima Barreto com suas críticas à corrupção, à injustiça e à indolência do funcionalismo público.
Lima conhecia por dentro o sistema, porque trabalhava como amanuense.
"Quem sabe estejamos presenciando agora, nessa nossa geração animada pelos direitos civis, uma nova retomada de Lima Barreto", disse Lilia, louvando a possibilidade de um país melhor.
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