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Política externa brasileira perde prestígio

GUILHERME MAGALHÃES E DANIEL BUARQUE SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na chamada diplomacia do prestígio, o Brasil está à frente apenas da Turquia, recém-convulsionada por uma tentativa de golpe de Estado e que assiste às investidas autoritárias do presiden

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 23.07.2017, 07:30:08 Editado em 23.07.2017, 14:04:27
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GUILHERME MAGALHÃES E DANIEL BUARQUE

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na chamada diplomacia do prestígio, o Brasil está à frente apenas da Turquia, recém-convulsionada por uma tentativa de golpe de Estado e que assiste às investidas autoritárias do presidente Recep Tayyip Erdogan.

A edição 2017 do estudo "The Soft Power 30", realizado pela consultoria britânica Portland e divulgado na última semana, aponta que o Brasil caiu cinco posições no ranking em relação a 2016, ocupando hoje o 29º e penúltimo lugar.

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A análise leva em conta a capacidade de persuasão de um país no cenário global.

Desde a publicação da primeira edição do estudo, em 2015, o Brasil só perde terreno --foi ultrapassado por países como China, Polônia, República Tcheca e Hungria.

O cenário condiz com o encolhimento da política externa brasileira nos últimos anos, iniciado ainda sob Dilma Rousseff e catalisado pela crise política que engolfa o governo de Michel Temer --que, há quase um ano, ao assumir a Presidência de fato, prometera priorizar a área.

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"Não vejo estratégia alguma. O Brasil em matéria de política internacional está cumprindo tabela", afirma à Folha Celso Amorim, que chefiou o Ministério das Relações Exteriores de 2003 a 2010, no governo Lula.

Segundo analistas ouvidos pela reportagem, a atual crise política e econômica não é a única explicação para a menor presença do país no cenário global --da qual um último exemplo foi a passagem desbotada de Temer na cúpula do G20, no início do mês.

"Esse período de mudança política no Brasil é contemporâneo a um período em que o mundo se fechou para negócios", diz Marcos Troyjo, professor da Universidade Columbia, em Nova York, e colunista da Folha de S.Paulo.

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"Há um recrudescimento da política comercial chinesa, o 'brexit' e a vitória de Donald Trump nos EUA, que coloca a Parceria Transpacífico de escanteio, questiona o Nafta e põe um enorme ponto de interrogação na relação EUA-União Europeia."

Na avaliação de Mathilde Chatin, do King's College de Londres, a crise econômica e a turbulência política dos anos recentes contribui para uma retração visível da política externa em comparação com o governo Lula, mas a pesquisadora também acredita que o período de expansão é que foi exceção.

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"O contexto econômico e político que os sucessores enfrentaram foi drasticamente diferente do qual o presidente Lula beneficiou. Pode ser que aquele período tenha sido um 'ponto fora da curva', que se regularizou com seus sucessores --inclusive por falta de interesse em política externa da presidente Dilma Rousseff e uma diplomacia presidencial menos intensa."

Para o pesquisador Andrés Malamud, da Universidade de Lisboa, o encolhimento diplomático do Brasil "é evidente, não é opinião".

Hoje, ele explica, "o Brasil tem menos protagonismo, e por vezes até nem participa, em reuniões ou fóruns de alto nível, mesmo sobre questões nas quais o país já foi um ator relevante (como ambiente). Em nível regional, a Unasul (uma criação brasileira) e a Celac estão paralisadas: nem conseguem se reunir para tratar a crise venezuelana".

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O Brasil, para Malamud, ampliou sua presença diplomática no mundo pela "atuação excepcional" dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula, mas depois "voltou à normalidade dos presidentes medíocres: daí a perda de imagem internacional e soft power".

"Mesmo que a gestão diplomática de Dilma tenha sido incompetente e a de Temer seja inexistente (e são!), o 'encolhimento' do Brasil é estrutural. A sua retração deve-se parcialmente aos erros na política externa, mas deve-se ainda mais ao fato de o país ter pretendido jogar numa liga maior à permitida por seus recursos materiais."

Malamud defende que é importante considerar o Brasil em uma escala global.

"A sua capacidade militar está mais próxima da Colômbia que da Índia (para não falar dos EUA, China ou Rússia), a sua participação no comércio internacional não chega a 1,5% (tendo 3% da população mundial) e o seu desenvolvimento científico e tecnológico é baixo."

Troyjo aponta o que, para ele, é um erro recorrente na diplomacia brasileira: a visão de que a negociação multilateral é, por si só, o ponto de partida para uma maior inserção internacional do país.

Ele cita a expansão econômica por meio do comércio exterior da Coreia do Sul e da China, nos anos 1980 e 1990. "Eles desenharam uma estratégia comercial apesar do mundo ser protecionista e ter barreiras. E tiveram êxito."

"No caso do Brasil, em vez de desenharmos uma estratégia para o mundo como ele é, tentamos fazer com que o mundo se torne justo para aí então colocar o nosso time em campo", afirma Troyjo.

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