SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A oposição da Venezuela conseguiu adesão parcial à greve geral convocada para esta quinta-feira (20) em repúdio à Assembleia Constituinte. Pelo menos duas pessoas morreram em confronto entre manifestantes e forças aliadas a Nicolás Maduro.
A paralisação foi engrossada pelos motoristas de ônibus, que pedem ao presidente aumento de 100% na tarifa, e por trabalhadores do comércio e da indústria, que foram liberados pelos patrões.
Por outro lado, bancários, funcionários públicos e da petroleira estatal PDVSA trabalharam, assim como empresários aliados do chavismo. Isso fez com que o presidente e seus aliados considerassem a greve um fracasso.
Em Caracas, a greve reproduziu a polarização territorial entre governo e oposição. Na zona leste, reduto dos adversários de Maduro, lojas e escritórios amanheceram fechados e as ruas foram tomadas por barricadas.
Por outro lado, o centro e o oeste da capital, áreas chavistas, tiveram movimento normal e comércio parcialmente aberto. O metrô funcionou, exceto em locais de protestos, assim como postos de gasolina, controlados pela PDVSA.
Os poucos ônibus que circulavam estavam superlotados e algumas pessoas foram transportadas nas caçambas de camionetes e caminhões e até em um veículo de transporte da Guarda Nacional.
A lógica se repetiu no interior. Houve paralisação de transporte privado e comércio fechado em Maracaibo, Valencia, Barinas, Barquisimeto e na ilha Margarita, mas órgãos estatais e bancos funcionaram normalmente.
Embora não tenha sido uma greve total, o ex-presidenciável Henrique Capriles comemorou a alta adesão. "Parece primeiro de janeiro em algumas cidades. Estamos vendo as ruas vazias e boa parte das lojas fechadas."
Por outro lado, Maduro a considerou um fracasso. "O dia em que alguém queira fazer um atentado contra mim ou à democracia, nesse dia é que vocês vão ver de verdade uma paralisação absoluta."
Apesar de ter desvalorizado a ação opositora, ameaçou prender o vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara, que a convocou. "A cela desse rapaz estúpido já está pronta, só falta a Constituinte. Terrorista imbecil."
A greve geral é um dos eventos organizados pela oposição decorrentes do plebiscito de domingo (16), em que milhões rejeitaram a troca da Constituição. Na quarta (19), os antichavistas anunciavam os planos para um governo de união nacional.
VIOLÊNCIA
O dia também foi marcado pelos confrontos violentos entre manifestantes opositores e as forças aliadas do governo, que tentaram desmontar as barricadas nas ruas.
Uma pessoa morreu e outras quatro ficaram feridas quando homens dispararam contra uma barreira em Los Teques (a 50 km de Caracas). Segundo testemunhas, os atiradores seriam membros de coletivos (milícias chavistas).
Outra morte foi registrada em Valencia (noroeste) em confronto entre manifestantes e membros da Guarda Nacional, que teve mais seis feridos. Com eles, sobe para 98 o número de mortos nos 110 dias da onda de protestos.
Em Caracas, uma cabine da polícia foi queimada após dois grupos de manifestantes adeptos da tática "black bloc" brigarem em frente a um shopping no bairro de Los Ruices, o que deu início a seis horas de confronto com a polícia. O governo viu a ação como um ataque à sede da TV estatal, que fica ao lado.
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