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A Santa Casa tem deficit apavorante e dívida monstruosa, diz provedor

ROGÉRIO PAGNAN E JAIRO MARQUES SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "O barco está navegando? Não. Está boiando. A situação é muito, muito, muito, muito delicada. A dívida é monstruosa, mas o problema mais sério é o déficit mensal ao redor de R$ 10 milhões O novo

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 09.05.2017, 02:00:03 Editado em 09.05.2017, 02:00:05
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ROGÉRIO PAGNAN E JAIRO MARQUES

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "O barco está navegando? Não. Está boiando. A situação é muito, muito, muito, muito delicada. A dívida é monstruosa, mas o problema mais sério é o déficit mensal ao redor de R$ 10 milhões

O novo provedor da Santa Casa de São Paulo, o advogado Antônio Penteado Mendonça, 64, é a quinta geração de sua família a assumir um cargo de comando na instituição. Mas ele será o primeiro deles a enfrentar ali uma crise financeira tão aguda.

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Para isso, anuncia que vai manter austeridade nas contas, montar uma equipe de auditoria e, ainda, realizar novos cortes de pessoal.

"O barco está navegando? Não. O barco está boiando. A situação é muito, muito delicada", diz o provedor, que pretende promover uma grande mudança na forma de administrar o complexo hospitalar, com a formação de uma equipe executiva.

Sem fazer críticas à polêmica administração de Kalil Rocha Abdalla, apontado como o gerador da dívida de R$ 700 milhões da instituição, Mendonça diz que a Santa Casa está com um deficit mensal de R$ 10 milhões e que será necessário "mexer" no recente contrato entre o hospital e a Caixa Econômica Federal, de R$ 360 milhões, por causa dos juros firmados.

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A Santa Casa tem 8.300 funcionários e faz 2.000 cirurgias e 90 atendimentos emergenciais e ambulatoriais por mês. Além do hospital central, administra mais três unidades.

Pergunta - Que Santa Casa o sr. recebe de José Luiz Setúbal?

Antônio Penteado Mendonça - A gestão do Setúbal foi atípica, de salvação nacional. Não tinha possibilidade de plano B. Do jeito que o Kalil deixou , com o fechamento do pronto-socorro, não tinha outra alternativa: tinha que fazer o que ele fez. A Santa Casa está aberta porque ele fez, teve coragem de peitar, fechar, despedir, negociar, contar a verdade. E o hospital sofreu as consequências: essa restrição de crédito brutal, falta de financiamento maior ainda.

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O Setúbal pegou naufragando e entrega um barco boiando. O barco está navegando? Não. Está boiando. A situação é muito, muito, muito, muito delicada. A dívida é monstruosa, mas o problema mais sério é o deficit mensal ao redor de R$ 10 milhões.

Esse valor era conhecido?

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Não. Esse deficit pegou a gente, um pouco, de calça curta. Isso é apavorante. Mais para a frente, vamos ter que mexer no contrato com a Caixa, que tem juro pré-fixado de mais de 16% ao ano. Com a inflação de 4%, é impossível pagar. Em agosto, setembro, do ano passado tínhamos conseguido um certo equilíbrio, mas agora voltou o deficit.

Mas ainda há risco de a Santa Casa fechar as portas?

Está completamente afastado. Neste momento, a Santa Casa não fecha as portas, de jeito nenhum.

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E os atrasos de pagamento de funcionários?

Nos preocupa muito. Temos uma dívida séria, representada por um 13º [salário] não pago, mais algumas outras pendência. Tem dinheiro hoje para pagar isso? Não. Na medida que alguns vão saindo, no acerto trabalhista, estão recebendo. Não consigo admitir que o bom funcionário esteja sendo prejudicado pela situação da organização que ele trabalha. É prioridade desta gestão [solucionar isso].

Há previsão é de mais cortes?

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Sim, provavelmente haverá. É cedo para dizer quantos serão cortados, mas, com certeza, será muito menor do que o último corte, quando foram 1.300. Mais de 300, em hipótese nenhuma.

O que o fez aceitar a provedoria da Santa Casa?

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Tem como recuperar a Santa Casa. Ela não é um beco sem saída. Vamos profissionalizar a Santa Casa. Pegar uma estrutura de 1498 e trazer para o século 21. A mesa administrativa vai virar um conselho consultivo, a provedoria vai virar um conselho de administração. Embaixo disso, uma diretoria profissional que vai fazer a gestão, de acordo com as diretrizes passadas pela provedoria, que segue o conselho de administração. Não haverá mais a possibilidade de um Kalil [Rocha Abdalla] chegar e dizer: "Fecho o pronto-socorro". O senhor não fecha nada.

Como vê a gestão do Kalil?

A gente tem que olhar a gestão do Kalil dentro da história. O Kalil foi eleito, eu participei diretamente da primeira eleição dele. E, na primeira gestão, ele foi muito bom provedor. A Santa Casa tinha uma dívida de quase R$ 400 milhões à época e essa dívida foi zerada. Rapidamente zerada e isso aconteceu por competência do pessoal. Aí, tem um segundo momento do Kalil, que a dívida voltou a crescer porque ele fez uma série de investimentos e apostas, algumas deram muito certo, mas outras, não. A Santa Casa chegou a ter 39 unidades de saúde sob o controle dela. Dentro do planejamento da época, estava absolutamente correto.

Aí, o Kalil teve um momento que até hoje eu não consigo entender o que passou na cabeça dele, que foi o fechamento do pronto-socorro. Além de tudo, foi desnecessário. Ele não precisava fechar o pronto-socorro como ele fechou. Até poderia ter que fechar, mas não pondo uma placa no portão às 8h de uma terça-feira.

Então, esse fato eu não desculpo o Kalil em hipótese alguma. Porque essa crise toda é consequência disso. Então, não se pode dizer que Kalil foi um desastre para Santa Casa. Ele cometeu um erro que foi uma tragédia para Santa Casa [Kalil sempre negou qualquer problema em sua gestão].

Já recuperou a imagem?

A imagem da Santa Casa já melhorou, mas meio que por inércia. Estamos conversando com duas grandes agências brasileiras para desenvolver um projeto de "branding" [trabalhar a marca] da Santa Casa. A finalidade é buscar dinheiro de grandes empresas brasileiras. Não pedindo esmola, mas um investimento social. Minha ideia é ter 200 investindo todos os anos na Santa Casa.

Estamos criando também uma auditoria, ligada diretamente ao provedor, que vai ter autorização e capacidade operacional para entrar em qualquer lugar da Santa Casa, sem pedir licença para ninguém, sem hora marcada, e sem qualquer necessidade de acusação e de suspeita. A imensa maioria dos nossos profissionais é de gente comprometida. Mas há uma minoria que pode ser muito perniciosa à instituição.

Que legado quer deixar?

Se a Santa Casa estiver funcionando bem daqui três anos, não quero mais nada. O funcionar bem pressupõe a impossibilidade de ela ser levada à uma crise, como as crises sistêmicas dela, que são crises decorrentes do excesso de poder em uma pessoa.

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