ARTUR RODRIGUES E FLÁVIO FERREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma ciclista se aproxima do carro e oferece flores ao prefeito João Doria (PSDB). Os dois conversam rapidamente e ele não segura as plantas. A mulher insiste e as coloca no painel do veículo. O tucano se irrita, reage e, já indo embora, atira as flores pela janela, na avenida Paulista.
A entrega das flores, neste domingo (30), foi uma forma de protesto contra o aumento dos limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros e as mortes em acidentes.
Cumprindo promessa de campanha, o tucano aumentou as velocidades máximas nas pistas expressa, central e local em 90 km/h, 70 km/h e 60 km/h, respectivamente.
"Falei que estava entregando flores para ele em homenagem aos mortos que vieram, como de fato vieram nas marginais", disse a produtora Giulia Grillo, 54, após o episódio.
A cena aconteceu quando Doria saía da inauguração do centro cultural Japan House São Paulo, na avenida Paulista (região central de SP).
Questionada sobre o ato, a assessoria de imprensa do tucano afirmou que "o prefeito reagiu a um gesto invasivo e desnecessário".
Na campanha, Doria acusava a gestão Fernando Haddad (PT), que reduziu os limites nas marginais, de promover a "indústria da multa".
Com a mudança em sua gestão, as multas caíram 57% nas vias, mas os acidentes com vítimas aumentaram.
Entre 25 de janeiro e 10 de março deste ano, foram realizados 186 atendimentos pelo Samu nas duas marginais, contra 65 casos no mesmo período de 2016 -um aumento de 186,2% (ou 2,9 vezes).
Após 25 meses sem mortes por atropelamentos nas vias, um homem de 76 anos morreu após ser atropelado duas vezes na marginal Tietê no dia 25. Doria acusou o pedestre de "imprudência".
Antes disso, já haviam sido registradas outras sete mortes em acidentes nas marginais.
Na saída do evento na Paulista, Doria ouviu apelos de ciclistas para não retirar ciclovias. Ele quer trocar ciclovias pelas chamadas ciclorrotas, sem segregação nas vias.
A cicloativista que deu flores a Doria afirmou estar preocupada com os planos. "Eu como ciclista, como pedestre, estou me sentindo muito desprotegida. Se ele [Doria] tirar as ciclovias como ele quer, nós vamos correr muito risco", afirmou Giulia.
O QUE DIZ A LEI
O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que "atirar do veículo ou abandonar na via objetos ou substâncias" é infração média. A multa para motoristas nesta situação é de R$ 130, e quatro pontos na carteira. Nesse caso, a multa seria para o motorista de Doria. A gestão não comentou o assunto.
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