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Índios retomam Aldeia Maracanã, estopim de protestos de 2013 no Rio

LUCAS VETTORAZZO RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Mais do que o aumento das passagens de ônibus, o estopim para os protestos de junho de 2013 no Rio foi a desocupação violenta da Aldeia Maracanã. Desde 2006, cerca de 30 índios de cinco etnias faziam do

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 30.04.2017, 10:00:07 Editado em 30.04.2017, 15:36:48
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LUCAS VETTORAZZO

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Mais do que o aumento das passagens de ônibus, o estopim para os protestos de junho de 2013 no Rio foi a desocupação violenta da Aldeia Maracanã.

Desde 2006, cerca de 30 índios de cinco etnias faziam do antigo prédio do Museu do Índio, no complexo do estádio do Maracanã, sua moradia. O objetivo era criar ali um centro de referência da cultura indígena no Rio.

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Com a proximidade da Copa de 2014 e as obras de reforma no estádio, o governo do Estado deu ordem para desocupar o prédio, um antigo sobrado do tempo do Império, há muito abandonado.

Na noite de 22 março de 2013, ativistas souberam que os índios da aldeia, entre eles mulheres e crianças, estavam prestes a serem removidos.

Cerca de 50 pessoas foram ao local apoiá-los. A Polícia Militar usou bombas de gás, spray de pimenta e tiros de borracha, equipamentos até então pouco conhecidos pelos jovens que mais tarde tomariam as ruas da cidade.

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"Meu filho de três anos foi atingido pelo spray de pimenta. Foi uma correria grande, um desespero. Não entendíamos o motivo de nos atacarem daquela forma", recorda Potira Guajajara, 50.

Vinda da tribo Guajajara, original do Maranhão, ela chegou ao Rio em 1994. Morou nas favelas da Rocinha e do Alemão antes de se mudar para a aldeia, onde, pela primeira vez desde que emigrou, convivia com seus pares.

"Decidimos criar a Aldeia para termos, além de uma moradia comum, um espaço vivo de cultura indígena que não fosse simplesmente um museu", explica.

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A anedota que circula atualmente no Rio é que, ao ordenar a desocupação, o então governador Sérgio Cabral teria mexido com os espíritos ancestrais dos primeiros ocupantes do Brasil e atraído uma maldição. Em novembro, ele foi preso por por suspeita de corrupção no Estado, após investigações da Lava Jato.

"A única coisa que temos atualmente é a questão espiritual, porque todo o resto nos foi tirado", afirma o cacique José Urutau Guajajara, 55. Ele foi um dos líderes da resistência.

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Quando o governo assinou o contrato de concessão do Maracanã ao consórcio formado pela Odebrecht e empresas de Eike Batista, em dezembro de 2013, Urutau subiu em uma árvore ao lado do prédio e ali ficou por quase 48 horas.

Apoiadores jogavam garrafas de água e comida para que o cacique resistisse. Depois de uma operação com o uso até de uma escada do Corpo de Bombeiros, a Aldeia foi mais uma vez desocupada.

RETOMADA

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Marcelo Odebrecht, presidente da construtora, está preso. Eike e Cabral também. A Copa passou, assim como as Olimpíadas. O complexo do Maracanã não foi para frente da forma como fora concebido -uma área com lojas, espaço de alimentação e estacionamento que demandaria a demolição de todos os equipamentos do entorno do estádio, com uma escola, um estádio de atletismo e outro de natação, além do antigo prédio do Museu do Índio.

O edifício continua onde estava, abandonado. Sem ter como arcar com os custos do local, a concessionária tenta devolver a concessão. O governo do Estado não tem dinheiro para pagar servidores em dia, nem para reassumir o estádio ou fazer qualquer obra no local.

Os índios sentiram que a falência do Estado era o momento para ensaiar a retomada do espaço.

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Um grupo decidiu voltar, em outubro passado. Na impossibilidade de reocupar o prédio, instalaram-se no estacionamento ao lado. Cerca de 20 pessoas habitam o local, numa população que flutua nos finais de semana. Eles vivem de doações e apoio de simpatizantes.

Quem vai ao estádio atualmente encontra seis ocas de palha e bambu instaladas sobre o asfalto, ainda demarcado com as vagas de estacionamento. Quase diariamente, um grupo arrebenta o asfalto com picaretas e pás para chegar ao solo. Hoje, na Aldeia, o que se vê são hortas em desenvolvimento.

Diferentemente de tempos passados, a polícia não os incomoda. Em dias de estádio lotado, as autoridades cercam a o local com grades móveis. Barricadas com troncos foram colocadas pelos índios nos pontos de acesso ao estacionamento, impedindo a circulação de carros.

Os motivos dessa convivência pacífica são dois, na visão de Urutau: o governo de Luiz Fernando Pezão, fragilizado com a grave crise fiscal, não teria interesse em atrair para si mais um foco de oposição.

Uma decisão judicial também permitiu que eles ocupassem o local. Uma ação civil pública foi movida pelos índios na Justiça Federal, requerendo o direito sobre o terreno. Eles obtiveram liminar que garante o manejo da terra no entorno do prédio enquanto a disputa não é julgada.

"Eu nem considero mais uma ocupação, porque agora temos direito a essa terra. Hoje nós chamamos de retomada", diz ele.

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